tag:blogger.com,1999:blog-130312842024-03-07T06:23:04.456-03:00Textos, contextos e pretextos de introspectiveATENÇÃO, ESTE BLOG MUDOU PARA NOVO ENDEREÇO! thiagolasco.blogspot.comThiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.comBlogger479125tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-34163028695069704612011-10-07T20:20:00.004-03:002011-10-10T10:22:33.991-03:00Adeus IntrospectiveEste é o último <span style="font-style: italic;">post</span> que escrevo aqui.<br /><br />Como eu já havia antecipado, este blog estava com os dias contados. Fui o Introspective por muito tempo, mas essa persona virtual não condiz mais com a minha vida. Decidi encerrar essa fase e abrir um novo blog: <a style="font-weight: bold;" href="http://thiagolasco.blogspot.com/">Thiago Lasco</a>.<br /><br />Demorei um pouco para conseguir arrumar a casa nova, mas agora está tudo quase pronto, e já fiz a migração de todo o conteúdo para lá: os textos, as imagens, os comentários. Aliás, os comentários deste blog estão fechados; quem quiser deixar seu pitaco deve comentar nos textos passados pro outro blog.<br /><br />Portanto, isto não é uma despedida, só uma mudança de endereço. Para quem quiser continuar me acompanhando, peço que atualize sua lista de links, seu feed do Google, seus favoritos. Espero receber vocês na minha casa nova: <a href="http://thiagolasco.blogspot.com/"><span style="font-weight: bold;">http://thiagolasco.blogspot.com</span></a> Valeu!Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-37053301921813082592011-09-26T23:23:00.002-03:002011-09-27T17:20:04.645-03:00Elogio ao acaso<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCCscnyEplEW4yOQFrL32-Lm3IWpCawwoV7i3x97GidsOEQtMlTcrAJpOVQU3d-IEtYDam6E-0t5YWrUKVesejPeV0nAQR3PGm5wkNQYn6L4lRe0oZqfdgmRzsaHrfx1RXLbJ4IA/s1600/filmes-argentinos.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 280px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCCscnyEplEW4yOQFrL32-Lm3IWpCawwoV7i3x97GidsOEQtMlTcrAJpOVQU3d-IEtYDam6E-0t5YWrUKVesejPeV0nAQR3PGm5wkNQYn6L4lRe0oZqfdgmRzsaHrfx1RXLbJ4IA/s400/filmes-argentinos.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5656855031526336962" border="0" /></a>Tirei a noite de ontem para ver dois filmes argentinos, <i>Um Conto Chinês</i> e <i>Medianeras, c</i>ada um deles bonitinho à sua maneira. As histórias são bastante diferentes entre si, mas trazem um denominador comum: brincam com a questão do acaso, que aproxima pessoas, cruza seus caminhos - ou não.<br /><br />No primeiro filme, um chinês está prestes a pedir sua amada em casamento, num barquinho típico no meio de um lago, quando uma vaca cai do céu (!?), muda tudo e ele vai parar em Buenos Aires, onde é roubado pelo táxi, termina na sarjeta e conhece o personagem vivido pelo onipresente Ricardo Darín. No segundo, um cara urbanóide-descolado mora no prédio em frente a uma garota urbanóide-descolada, eles têm tudo a ver e tudo para ficar juntos para sempre, só que não se conhecem e não sabem disso. Um argumento parecido com o do curta abaixo, que rodou a internet alguns anos atrás.<br /><br />As duas histórias comportam interpretações que variam com a fé de cada um. Quem acredita no acaso certamente julgará que os personagens foram unidos por casualidades: a bovina calhou de cair do céu logo em cima daquele barquinho, e os pombinhos moderninhos foram entrar no chat justamente na mesma hora. Já quem acredita em destino poderá, tranquilamente, sustentar que as coisas "eram para ser" da maneira que foram, estava tudo escrito.<br /><br />Saí do cinema ainda mais confuso e indeciso, sem saber em que acredito. Às vezes acho que sou totalmente dono do meu futuro, que tenho milhares de bifurcações diante do meu nariz, e tenho o dom de mudar meu caminho a cada nova escolha. Outras, sinto que as bifurcações existem, mas desde o começo já estava escrito quais direções eu iria tomar e onde iria chegar. Seja lá como for, a ignorância parece ser uma bênção. Já quis muito saber como será o amanhã; hoje, acho que sofro menos vivendo um dia de cada vez, fazendo menos planos longos e deixando a vida me levar. Já tenho coisas suficientes para lidar no presente, sem saber o meu futuro.<br /><div style="text-align: center;"><iframe src="http://www.youtube.com/embed/uy0HNWto0UY" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" width="560"></iframe></div>Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-84001866067078848842011-09-23T09:06:00.001-03:002011-09-23T09:06:00.045-03:00Rapidinhas gastronômicas<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyvmiV9BvUht13M2EKE3dEPmN1irUzyvY8Fz_wuaDywCkkQCY0NiCMifBGUNV6mvOaARJsoYe-eOGqO9dhFSkfF0Nl5xZUlRyxD8RXQcoCg7xvLZHWZ0vqteAmvzieusm2woAQNw/s1600/butcher-s-market-fernando-moraes.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 267px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyvmiV9BvUht13M2EKE3dEPmN1irUzyvY8Fz_wuaDywCkkQCY0NiCMifBGUNV6mvOaARJsoYe-eOGqO9dhFSkfF0Nl5xZUlRyxD8RXQcoCg7xvLZHWZ0vqteAmvzieusm2woAQNw/s400/butcher-s-market-fernando-moraes.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5654292868169910386" border="0" /></a><span style="font-weight: bold;">BUTCHER'S MARKET</span> [<i>foto</i>] O segmento de hamburguerias diferenciadas está cada vez mais concorrido em SP. A novidade do pedaço é essa casa, com jeitão de bar e acabamento falsamente rústico, com tijolos aparentes e decoração dentro do tema "açougue". É pequeno e está na moda, ou seja, a espera é inevitável. Testei o mushroom burger, que custa R$27 - sem batatas fritas, pagas à parte. O hambúrguer veio no ponto pedido (gosto da carne realmente malpassada), mas sem sal; por cima, uma fatia de queijo quase desonesta de tão fina, e cogumelos apenas cozidos, sem qualquer tempero. Pelo preço praticado, deveria ser bem melhor. <b>Onde:</b> Rua Bandeira Paulista, 164, Itaim.<br /><br /><span style="font-weight: bold; ">COSÍ </span><span>Escondido em uma rua improvável de Santa Cecília, tem fachada envidraçada e ambiente clean, mas aconchegante. O cardápio, curto, apresenta massas, carnes e risotos, com roupagem contemporânea. Adorei os raviólis de pupunha com creme de limão e camarão - massa delicada, molho leve, recheio surpreendentemente interessante (não sou lá muito chegado em palmito) e camarões carnudos. Gostei tanto que pedi uma segunda porção. A casa abriu recentemente uma filial na Vila Nova Conceição, com preços 20% mais caros. </span><span style="font-weight: bold; ">Onde: </span>Rua Barão de Tatuí, 302, Santa Cecília.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">PIAZZA 36</span> Quem trabalha ou circula pelo centro velho da cidade tem poucas opções charmosas para o almoço. Faltam lugares que preencham o hiato entre os quilos populares e os restaurantes mais tradicionais, caros para o dia-a-dia. Esta casa fica no meio do caminho: por um preço fixo (R$49 por pessoa) oferece uma convidativa de mesa de saladas, antepastos e petiscos, e mais dois pratos quentes por dia - normalmente uma massa e um risoto, que podem ser acompanhados por um grelhado. Tudo bem apresentado e gostoso. <b>Onde:</b> Praça da República, 36, Centro (fica na esquina da Rua Basílio da Gama).<br /><b><br /></b><span style="font-weight: bold;">NOU </span>Uma graça esse lugar! Casa pequena, com cara de residência adaptada e algumas mesas no quintal, na parte mais tranquila de Pinheiros. O cardápio segue uma linha até trivial, mas com pitadas de bossa. Um exemplo bem ilustrativo é o bife à milanesa, empanado numa macia crosta de pão e acompanhado por um risoto de limão-siciliano de delicado perfume. Durante a semana, serve almoço executivo a R$27,90 - as opções do dia, escritas numa lousa, incluem truta com linguini ao pesto de rúcula e medalhão ao gorgonzola com batata rösti. <b>Onde:</b> Rua Ferreira de Araújo, 419, Pinheiros.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">FIGO </span><span>A poucos passos do Parque do Ibirapuera, esse restaurante bonitinho é outro que segue a linha contemporânea, com pratos como a fraldinha na cerveja com cebola caramelizada e o camarão thai ao curry, com leite de coco, abacaxi e arroz de jasmim. As mesas mais disputadas ficam numa espécie de varanda coberta, na frente da casa. Muito simpática, a chef passa pelas mesas para saber se a comida agradou. </span><span style="font-weight: bold;">Onde: </span>Rua Diogo Jácome, 372, Vila Nova Conceição.<br /><br />[<span style="font-weight: bold;">Foto:</span> <span style="font-style: italic;">Fernando Moraes/VEJA</span>]Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-4397636175242481792011-09-21T15:46:00.002-03:002011-09-21T23:27:00.463-03:00Chateaubriand, coerência e companhias<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-g4z0UQ2g_4-55BcmckfQz7PSbJc0lI_7ktFJNg2_KqFHrEJZsSGPaN0UBUeuGQV57uev-4onyW88tjF7Q8RbUd74-LJF7T9NqqCzylXE8qrs7ElHNe_YkrdxFlzOSESFhn16IQ/s1600/assischateaubriand.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 160px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-g4z0UQ2g_4-55BcmckfQz7PSbJc0lI_7ktFJNg2_KqFHrEJZsSGPaN0UBUeuGQV57uev-4onyW88tjF7Q8RbUd74-LJF7T9NqqCzylXE8qrs7ElHNe_YkrdxFlzOSESFhn16IQ/s200/assischateaubriand.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5654652935773385282" border="0" /></a>Ontem participei de uma entrevista coletiva com o José Nêumanne Pinto, jornalista e escritor que lançou em agosto o livro <span style="font-style: italic;">O que eu sei de Lula</span>. A obra faz uma interpretação muito pessoal do processo de ascensão política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de aspectos insólitos colhidos nos bastidores - e, por isso, vem causando certo alvoroço no meio político. Ainda não li o livro, mas, nas entrevistas que tem feito, Nêumanne (que é uma figura!) acaba dando uma boa ideia do que se pode esperar da leitura - <a href="http://www.implicante.org/blog/jose-neumanne-pinto-lula-delatava-companheiros-para-conseguir-aumento/">nesta</a> aqui, por exemplo, ele deu várias declarações repetidas ontem diante de nossos bloquinhos e gravadores.<br /><br />Nêumanne conhece Lula desde 1975 e acompanhou de camarote sua escalada política, desde as primeiras conquistas até a construção de sua figura mítica e intocável. Ele nutre sentimentos ambíguos pelo ex-presidente: ao mesmo tempo, acha o cara um gênio, "o maior político brasileiro de todos os tempos", "o maior <span style="font-style: italic;">self-made man</span> da história do capitalismo" e também um grande picareta, por razões que comenta publicamente, mas talvez tenha preferido não registrar no livro. Mas não deixa de reconhecer, e até admirar, os méritos e predicados que ajudaram o metalúrgico a chegar onde chegou. Lula nunca teve hábitos de leitura, mas aprendeu rápido pelo ouvido, absorvendo o que lhe era dito. Tornou-se um excelente comunicador, falando a língua do outro. E subiu na vida apoiando-se sobretudo em sua vocação para conciliar.<br /><br />"O Brasil teve grandes conciliadores, e Lula reúne as virtudes de todos eles. Ele tomava cachaça com dona Marisa num boteco em São Bernardo e conseguia unia correntes sindicais que não se bicavam”, recordou Nêumanne. “Foi o primeiro cara que uniu a esquerda", continuou, lembrando que depois Lula fez alianças até mesmo com as figuras políticas mais execráveis, como Collor e Sarney. Uma manobra desonrosa, em que Lula traiu a própria história? Curiosamente, Nêumanne não pensa assim, e se justifica com uma das pérolas de autoria do sujeito que ilustra este texto. "Já dizia Assis Chateaubriand: <i>a coerência é a virtude dos imbecis</i>". Ou seja, esperto foi Lula, que transitou e manobrou conforme a conveniência. Sabendo se adaptar ao meio, chegou mais longe. Depois da entrevista, interceptei Nêumanne na entrada do elevador e perguntei se ele considerava esse ensinamento válido em todas as esferas, incluindo a vida privada. "Claro que sim", respondeu, enquanto a porta se fechava.<br /><br />Fiz um rápido retrospecto e concluí que minhas relações pessoais haviam sido pautadas justamente pela coerência. Sempre fui a mesma pessoa, nunca usei máscaras e nem mudei o discurso no meio do caminho. Quando me deparei com pessoas que agiram contra valores que eu considerava importantes, afastei-me delas. Também tesourei aqueles que só estavam disponíveis quando lhes interessava, ou que queriam apenas se aproveitar de mim. Sempre fiz questão de não me cercar de gente falsa, calhorda, parasita, interesseira, com quem eu não pudesse contar. Para mim, só fazia sentido ser coerente. Por outro lado, se puser as coisas dentro dessa lógica do Nêumanne, concluirei que eu fechei portas sem necessidade e me isolei, quando deveria ter feito o contrário: tirado proveito dos outros e feito alianças circunstanciais. Talvez um dia eu me arrependa disso. Hoje, eu ainda acho que, ao se cercar más companhias, a gente mais perde do que ganha. Quem dorme com cães acorda com pulgas.Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-80109149975649215962011-09-16T08:30:00.003-03:002011-09-16T17:39:07.660-03:00Créu ou crau<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO0ixRg79ec06oFf6mhLbNqOScxhmqzwdByejxKo5z9mEVCTwApARNAzUmF8SRad8yJvizRTgm0vK_4leeBLiR79D2ai7N-kqr0Vj9b4dEdUFwBBZS2akWZeDUfees4LP-ewH1dw/s1600/rapidez.png"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 163px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO0ixRg79ec06oFf6mhLbNqOScxhmqzwdByejxKo5z9mEVCTwApARNAzUmF8SRad8yJvizRTgm0vK_4leeBLiR79D2ai7N-kqr0Vj9b4dEdUFwBBZS2akWZeDUfees4LP-ewH1dw/s200/rapidez.png" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5652429439137309778" border="0" /></a>No segundo dia do Curso Estado de Jornalismo, logo cedo pela manhã, uma mulher entrou na sala dos focas, que já a aguardavam. Encheu os pulmões de ar, abriu a boca e desatou a falar, falar e falar. Emendava uma na outra, ágil, esperta, verborrágica. Aquela era uma carioca que dançava o créu na velocidade 5, e nunca perdia o rebolado. Diante daquela criatura tão agitada, fiquei entre perplexo e maravilhado. "Mas o que foi que deram para essa mulher tomar?". Estávamos tão interessados que a aula evaporou e metade do grupo cercou a coitada, que quase perdeu a hora de almoço. A mulher parecia incansável, e queríamos sugar todo o néctar dela.<br /><br />Não tive dúvidas: aquela era uma típica representante da minha nova profissão. Reconheci nela algo muito familiar, tive a mesma sensação que já experimentara quando me metia em rodinhas de jornalistas, nos bares e festas da vida. Verdadeiras metralhadoras giratórias, eles tiravam da manga os assuntos mais variados e díspares, cruzavam mil referências, estavam sempre ligados em tudo, em uma vígilia constante do que se passava no mundo, na TV, nas bolsas de valores, nas paradas de sucesso. Perto deles, eu era uma ameba lenta e analógica, sem a menor condição de acompanhar aquele comboio supersônico frenético que era <span style="font-style: italic;">mezzo </span>enciclopédia, <span style="font-style: italic;">mezzo</span> anfetamina.<br /><br />Aos poucos, acredito que o Curso nos deixará mais próximos desses seres elétricos. Não falo aqui de experiência ou conhecimento, que só virão com o tempo e as inevitáveis cabeçadas, mas de sintonia, velocidade, ritmo. Estamos no décimo sexto dia, e até agora não tivemos um único dia de descanso - quando não tem aula, tem pauta para bolar na rua e reportagem para fazer. E olha que a brincadeira mal começou. Quando entrarmos nas redações, e tivermos que conciliar também as demandas do trabalho, os plantões, aí sim entenderemos porque nossos veteranos são tão acelerados, e entraremos no mesmo esquema. Não tem outro jeito: é créu ou crau, afinal o tempo urge e o fechamento se aproxima.<br /><br />E quem disse que os jornalistas não gostam? Filomena Salemme, papisa do rádio que veio nos fazer uma visita um dia desses, não quer outra coisa da vida. "Sabe quando a gente fica feliz? Quando muda tudo, e a gente tem que sair correndo. Amamos essa adrenalina!". O que eu acho de tudo isso? Quando eu era advogado, havia alguma reviravolta no processo e eu tinha que sair correndo para apagar o incêndio, confesso que eu não gostava muito, não. Agora que deixei para trás aquele mundo de mogno, mármore e carpete, no qual eu parecia congelado para sempre, tudo ganha um novo sentido. Sinto-me vivo outra vez, novas possibilidades estão se abrindo e vejo uma onda de excitação me contagiar. Se for preciso correr, então vam'bora! O Jornalismo, que parecia tão distante, está prestes a me tragar em seu redemoinho. Não parem o mundo, que eu não quero descer.Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-74506584469933410802011-09-14T13:52:00.001-03:002011-09-14T13:55:41.259-03:00Uma questão de tato<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvg2MnJAx9P08yHMaoJclH5qmY_b-HDq4Phg6rz1kju-wbKXaSJ1W0cruBGFdNDtGjCf2UgfplAishl0duvUsa83Wqe3UKFO8-OnwmjYBYDtqIcvVWKxW_88HvrIzvScAmYqTVcw/s1600/awkward%252Bhug%252Ba.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvg2MnJAx9P08yHMaoJclH5qmY_b-HDq4Phg6rz1kju-wbKXaSJ1W0cruBGFdNDtGjCf2UgfplAishl0duvUsa83Wqe3UKFO8-OnwmjYBYDtqIcvVWKxW_88HvrIzvScAmYqTVcw/s200/awkward%252Bhug%252Ba.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5652012036545707746" border="0" /></a>Uma das coisas que mais chamaram a minha atenção na minha última viagem aos Estados Unidos foi a falta de contato físico entre as pessoas. As pessoas se cumprimentam com distantes apertos de mão, isso quando não se limitam a um aceno com a cabeça. Beijos são reservados para pessoas muito íntimas (os de língua são horríveis, diga-se de passagem). Abraços, apenas quando se dá parabéns no aniversário, ou pêsames à viúva, e ainda assim estritamente protocolares. Num bar ou boate, a própria paquera se mantém dentro de limites: não se veem casais se beijando, abraçados ou mesmo de mãos dadas. <br /><br />Concluí que eu era o destoante ali, pelo fato de ser brasileiro, supondo que nossa cultura era "latina", "passional", "caliente" e outras pérolas do senso comum. No entanto, já de volta ao Brasil, estou vivendo um choque cultural parecido, no curso que estou fazendo no Estadão. Somos 30 jovens jornalistas (a maioria entre 23 e 26 anos), de várias regiões do Brasil - metade do grupo veio de outros Estados do Sudeste, do Sul e do Nordeste, e há duas meninas de Brasília. Passamos oito horas por dia juntos, e a tendência é que o grupo se aproxime ainda mais, com a intensificação do ritmo de atividades e as viagens que foram programadas pelo curso. Estudamos, conversamos, almoçamos, rimos, eventualmente bebemos. Pois bem, já estamos nesse grude há quinze dias, e as pessoas ainda se cumprimentam com um "bom dia" dado de longe. Não há beijos ou apertos de mão, quem dirá abraços.<br /><br />Não sei se outros colegas também estranharam isso. Talvez alguns tenham observado o comportamento contido do grupo e seguido o exemplo. Para mim, essa falta de contato é esquisita. Já me sinto à vontade com vários dos meus colegas, e tenho que ficar me policiando para não tocá-los. Sou um cara muito tátil. Sinto necessidade de expressar meu afeto e isso inclui buscar uma proximidade física, tanto com as garotas como com os rapazes. É natural para mim dar um abraço gostoso na hora de cumprimentar, ou mesmo para manifestar que minha convivência com determinada pessoa está sendo prazerosa, e que eu gosto dela. <br /><br />Agora que comecei a reparar mais nisso, lembrei que já tinha amigos com quem também existia essa distância física. O mais curioso é que vários deles são pessoas com quem tenho muita intimidade, a ponto de dividir segredos e questões delicadas. Depois da terceira vez em que me dirigi a eles e recebi abraços frios, ossudos, sem aconchego, percebi que eles funcionavam de outra forma. Que gostavam de mim de verdade, mas não realizavam esse afeto no plano físico. Tive que me adaptar, mas às vezes ainda sofro um pouco. Sinto vontade de pegar neles, e com isso mostrar meu carinho, mas sei que nesse particular nós não falamos a mesma língua. <br /><br />Talvez o ponto fora da curva seja mesmo eu. Parte disso vem da minha criação. Meu pai era um cara extremamente afetuoso, desses que acabam sendo a amálgama do grupo. Era ele quem agitava os encontros dos amigos da faculdade, uma turma que permanece unida até hoje. Tê-lo perdido cedo, com tanta coisa sem ter sido dita, me ensinou a não deixar passar as oportunidades de expressar meus sentimentos às pessoas de que eu gosto. Ainda assim, sou forçado a podar minha natureza para não me sentir inadequado. Afinal, não tem nada mais constrangedor do que não ser correspondido no abraço (como naquelas fotos famosas em que fãs da Britney Spears abraçavam a cantora e ela fazia cara de nojinho), ou mesmo se despedir de alguém ao telefone com "um beijo", e receber de volta "um abraço" ou mesmo um "até mais". Nessas horas, dá vontade de pedir desculpas e desaparecer. Ops, foi mal aê.Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-34391513187377593512011-09-09T23:24:00.000-03:002011-09-09T23:26:03.555-03:00Prato meio vazio<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiknnnziVGrsIi8KhgFBuL7Zn_fODllKbSqn_2DmPqquyI6n790U-BcUP3yNh4kTO_bhXO4NSX5LZTwRWBw_53aKjot5wyhsEbRSeZNFxi3DxuYrJ-8C2xfwwIsWB9mI4KDaYMNmg/s1600/empty+dish.JPG"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 136px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiknnnziVGrsIi8KhgFBuL7Zn_fODllKbSqn_2DmPqquyI6n790U-BcUP3yNh4kTO_bhXO4NSX5LZTwRWBw_53aKjot5wyhsEbRSeZNFxi3DxuYrJ-8C2xfwwIsWB9mI4KDaYMNmg/s200/empty+dish.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5650549754938892914" border="0" /></a>Quem diria: estou perdendo o tesão na São Paulo Restaurant Week.<br /><br />A cada nova edição do festival, eu repetia o ritual: entrava no site, estudava os cardápios de cada uma das centenas de casas participantes e montava uma programação, feito aqueles cinéfilos em véspera de Mostra. Depois, ainda dividia minha seleção no blog e no Facebook. Desta vez, não me sinto motivado a repetir a dose. Há erros e acertos, tive experiências que valeram a pena, outras nem tanto. Mas os inconvenientes têm pesado cada vez mais.<br /><br />Pra começar, com a popularidade do evento, as casas estão invariavelmente lotadas, e muitas passaram a reservar mesas com antecedência, então você liga e eles já não têm mais vaga até o fim do festival. Em relação aos menus, sempre foi preciso fazer uma peneira para achar pratos interessantes. Para continuar fechando a conta no preço estipulado pelo festival, os restaurantes foram diminuindo o tamanho das porções, e hoje em dia a esmagadora maioria serve pratos tão reduzidos que o comensal nem chega a saborear a comida direito.<br /><br />Isso sem falar que o fator economia, principal chamariz da SPRW, está cada vez mais relativo. A conta não fica nos R$32 ou R$42 por pessoa anunciados, pois o preço dos menus não inclui o couvert sorrateiramente deixado sobre a mesa, as bebidas cada vez mais inflacionadas (o Santa Gula cobra quase R$9 por um suco de tangerina!), nem o serviço. Movido pelo apelo de aproveitar a duração limitada do festival, você acaba comendo fora muito mais vezes e gastando muito mais dinheiro no fim do mês do que num período normal, o que significa que a SPRW acaba saindo uma brincadeira cara.<br /><br />No fim das contas, acaba valendo mais a pena ir aos restaurantes fora da SPRW, nem que seja para pedir apenas o prato principal. Para gastar a mesma coisa do festival, você sacrifica a entrada e/ou a sobremesa, mas pelo menos recebe um prato feito e servido com boa vontade (ainda existem casas que tratam o cliente da SPRW como cidadão de segunda classe), numa porção honesta, sem cara de amostra grátis. E sem passar pelo perrengue de reservas, filas e lotação, que vai deixando a experiência de comer fora cada vez menos prazerosa.Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-42657196050187873602011-09-05T23:28:00.000-03:002011-09-05T23:28:00.418-03:00Centrão, terra estrangeira<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiS-P_JphWGNi8F-04EhwF4XyRxBiiezChfYFIQnjyBzGd-IPqqomKDxOXPTc6pXhhjUA4Yhi2lT4r8ynFF7qpcpjlel8kLq81G-10DPXgiEUUJwLJGQacS6bhtJ0oZ6knH1KnGiQ/s1600/republica+mapa.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 125px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiS-P_JphWGNi8F-04EhwF4XyRxBiiezChfYFIQnjyBzGd-IPqqomKDxOXPTc6pXhhjUA4Yhi2lT4r8ynFF7qpcpjlel8kLq81G-10DPXgiEUUJwLJGQacS6bhtJ0oZ6knH1KnGiQ/s200/republica+mapa.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5649061261373876546" border="0" /></a>Minha primeira missão como "foca" do Curso de Jornalismo do Estadão começou às 9h30 da manhã do último sábado, em plena Praça da Sé. Eu e meus 29 colegas encontramos um de nossos professores para um rápido giro pelo Centro - que pelo menos metade do grupo não conhecia, já que muitos alunos são de outras regiões do Brasil. Depois do tour de contato, que foi bem pouco esclarecedor, o grupo se dispersou e cada um tinha que achar sua própria pauta e produzir uma reportagem, que seria entregue por e-mail no dia seguinte. Podia ser <span style="font-style: italic;">qualquer </span>coisa, desde que surgisse no Centro. Decidi investigar como a cidade mais cosmopolita do país estava tratando seus visitantes estrangeiros, a menos de três anos da Copa do Mundo.
<br />
<br />Para isso, tirei partido da minha genética calabresa e me passei por um turista gringo - James Hetfield, norte-americano, <span style="font-style: italic;">nice to meet you</span>. Saí com cara de perdido, pedindo informações básicas (onde encontro um banheiro público? como faço pra chegar na Paulista?) e, como era de se esperar, a maior parte das pessoas não conseguiu interagir comigo. Na feira de artesanato da República, eu apontava a mercadoria e o dono da barraca me mostrava o preço digitando os algarismos no telefone celular. Nas bancas de jornal ou no comércio local, não foi muito diferente. Entre os bares e restaurantes, só lugares maiores, como Almanara, O Gato Que Ri e Bar da Dona Onça tinham cardápios em inglês - e nem sempre garçons que conseguissem se comunicar em outra língua.
<br />
<br />Ainda como falso turista, testei um dos Centros de Informação Turística oferecidos pela São Paulo Turismo. O quiosque da República era novinho e a atendente, muito solícita, tinha um inglês bastante satisfatório - com erros de tradução tipicamente brasileiros, é verdade, mas nada que comprometesse seu trabalho. Eu disse que estava caindo de paraquedas na cidade e não tinha ideia do que fazer e ela, paciente, me deu explicações por quase uma hora. Ponto para ela. Quando pedi que me recomendasse uma boa balada, ela me disse para pegar a linha 4 (amarela) do metrô e o trem da CPTM até a Vila Olímpia - "os lugares de música eletrônica estão todos nessa área", explicou, desenhando um grande quadrado no mapa. Gafe dupla: a linha 4 não opera nos fins de semana, e a Vila Olímpia deixou de ser conhecida pelas baladas há <span style="font-style: italic;">muito </span>tempo. Imaginei como um gringo desavisado ia pastar no meu lugar, andando desenganado pelo bairro. Quando perguntei sobre restaurantes, ela se limitou a dizer "Caminhe pelos Jardins, estão todos lá". Ah, tá.
<br />
<br />Depois disso, me despi do personagem e saí à caça de turistas gringos para entrevistar. Queria saber como estavam sentindo a recepção e também suas impressões sobre o Centro. Cruzei com gente da Espanha, Holanda, Alemanha e até Nova Zelândia. Todos reconheceram que faltava gente que falasse inglês com eles, mas boa parte já tinha se preparado psicologicamente para isso, e alguns até carregavam aqueles livrinhos de português para viagem. Apesar das falhas de comunicação, a <span style="font-style: italic;">buena onda</span> do brasileiro acabava pesando a favor na avaliação. Em relação ao Centro, atrações como o Mercado Municipal e a Pinacoteca agradavam, mas não faltaram comentários sobre a sujeira, os mendigos e o cheiro de urina em alguns lugares. E pensar que, antes da revitalização, a coisa era muito pior...
<br />
<br />Terminei minha apuração conversando com os funcionários de alguns hotéis da região. Eles contaram que o eixo Paulista-Jardins ainda é o preferido pelos turistas, mas o Centro também tem uma clientela cativa, pela própria posição geográfica "perto de tudo", pelo fácil acesso à rede de metrô e pelos preços mais em conta. Quando perguntei se achavam que a cidade estava preparada para receber os turistas para a Copa, ouvi críticas das mais variadas, e uma delas chamou minha atenção. "Se uma simples feira de negócios como a Couromodas esgota os leitos da cidade, e obriga os visitantes a dormir em Santo André, Guarulhos e Itaquá, como será com os milhares de torcedores que virão ver os jogos?", perguntou a recepcionista do Marabá. Pelo visto, o buraco é mais embaixo do que eu pensava - e ainda temos muita lição de casa pela frente.
<br />Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-43824633937069253492011-08-30T22:25:00.002-03:002011-08-31T23:13:55.245-03:00Rapidinhas candangas<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6MMS-HGYaXwEuohv8z3pcmWIKtqTQ_AsIzCX289fL3YZRB_RDLSm613nlZIEjbX5g5rY1hQvjvcOpOg5zv-q1I8fuPXuXtBq9O0aM0Wy9WkslR71o8ZzKNHt2EFwStryzN8-pjQ/s1600/IMG_0468+peq.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6MMS-HGYaXwEuohv8z3pcmWIKtqTQ_AsIzCX289fL3YZRB_RDLSm613nlZIEjbX5g5rY1hQvjvcOpOg5zv-q1I8fuPXuXtBq9O0aM0Wy9WkslR71o8ZzKNHt2EFwStryzN8-pjQ/s400/IMG_0468+peq.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5646723460271656034" border="0" /></a>A melhor época do ano para visitar Brasília, na minha opinião, é justamente nos meses de outono e inverno. A estiagem garante dias lindíssimos, de céu aberto, como na foto acima. Para driblar o tempo seco, basta levar no bolso um bom protetor labial e passar creme hidratante no rosto antes de dormir. <span style="font-weight: bold;">Para marcar meu batismo brasiliense, nada mais típico do que uma autêntica passeata do MST. Ainda bem que a Esplanada dos Ministérios tem espaço de sobra, com oito faixas - o que significa um transtorno bem menor do que o das manifestações na apertada Av. Paulista.</span> O turismo cívico é facinho de fazer: os prédios oficiais ficam próximos uns aos outros, e alguns oferecem visitas guiadas (para quem não estiver de bermuda, é claro). A decepção fica por conta da rampa do Palácio do Planalto, menor e menos glamourosa do que se supõe pela TV. <span style="font-weight: bold;">O grande barato de Brasília é mesmo o projeto urbanístico do Plano Piloto. Os prédios, todos com 3 ou 6 andares, mostram como a contenção da verticalização deixa uma cidade muito mais agradável. A organização em superquadras é, no mínimo, curiosa. Não dá pra não se sentir em uma versão <span style="font-style: italic;">king size</span> do campus da USP.</span> Como as quadras são em geral parecidas entre si, a sugestão para o turista é visitar a 308 Sul, que serviu de modelo para as demais. Ela é enfeitada pela Igrejinha N. Sra. de Fátima, com desenho de Oscar Niemeyer e azulejos de Athos Bulcão, que rendem um ótimo pano de fundo para retratos. <span style="font-weight: bold;">Mesmo se você não for muito chegado em igrejas, não deixe de visitar a Catedral Metropolitana, também desenhada por Niemeyer, e o Santuário Dom Bosco, com seus vitrais azuis. Não confundir com a minúscula Ermida Dom Bosco, um pequeno monumento erguido num terraço às margens do Lago Paranoá, com uma bela vista.</span> Tecnicamente falando, o Distrito Federal não contém cidades, e sim regiões administrativas. Isso quer dizer que Brasília e as cidades-satélite vizinhas não têm eleições para prefeito - seus administradores são nomeados diretamente pelo governador do DF. Ou seja, quando a população elege um governador corrupto, ela se ferra duas vezes. <span style="font-weight: bold;">As cidades-satélite têm uma cara completamente diferente do Plano Piloto. O noticiário nacional destaca sempre as mais pobres, como Ceilândia e Paranoá, essa última um cenário propício para quem curte um amor bandido. Mas há algumas com expressiva classe média, caso de Águas Claras, cujo <span style="font-style: italic;">boom </span>desordenado de prédios altíssimos lembra um Tatuapé em construção.</span> O brasiliense médio fala com sotaque capixaba, tem conta no Banco do Brasil mesmo se não for servidor público (pois ali há 8 agências do BB para cada 2,5 da concorrência) e ficou <span style="font-style: italic;">blasé </span>com a escolha da capital federal para receber jogos da Copa. Ele considera os goianos meio jecas e provincianos, e é tido como carudo e esnobe por eles. <span style="font-weight: bold;">Se há um lugar adequado para empinar o nariz logo pela manhã, é a </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">pâtisserie </span><span style="font-weight: bold;">do Daniel Briand, na 104 Sul, que serve saladas, quiches e doces franceses. O truque para não se sentir lesado pelos preços é dividir entre duas pessoas um único café-da-manhã completo (Première Formule, R$29), e pedir à parte a bebida extra do seu acompanhante. Tenho que admitir que os pães são realmente incríveis.</span> Os chefs mais badalados de Brasília são a Mara Alcamim e o Dudu Camargo, cada um com seu pequeno império gastronômico (ela comanda três casas e ele, seis). Eu estava prestes a escolher um deles para o jantar de sexta, mas meus amigos locais sopraram no meu ouvido que a comida de ambos era meio <span style="font-style: italic;">overrated </span>e não estava à altura dos preços praticados. Não desisti deles, mas deixei para a próxima. <span style="font-weight: bold;">E minha escolha não poderia ter sido melhor: Taypá, um digno representante da onda neoperuana que tem varrido o mundo. Comecei com um ceviche nikkey (salmão, abacate</span><span style="font-weight: bold;">, leite de coco</span><span style="font-weight: bold;">, molho de ostras e teriaki) e emendei um salmón novoandino (recheado de risoto de quinua, camarão, champignons e molho teriaki). Adorei tudo e pretendo voltar.</span> Outra surpresa foi o Nossa Cozinha, um bistrô minúsculo, escondido no lado residencial da 402 Norte. Lugar charmoso, preços honestos, serviço atencioso (os próprios donos vêm falar com a freguesia) e uma das melhores <span style="font-style: italic;">cheesecakes </span>que já comi. <span style="font-weight: bold;">Outra guloseima digna de nota é o famoso sorvete de pistache da Saborella, com textura aveludada e sabor doce na medida. O precinho é bem brasiliense: R$11 por uma bola, R$106 por um quilo.</span> Foi bem legal voltar ao Pontão do Lago Sul e ver aquilo fervendo em um lindo domingo de sol. O corredor gastronômico à beira do Paranoá ficou maior, com a chegada de filiais da rede carioca Devassa e do japonês ocidentalizado Soho, aquele mesmo de Salvador. <span style="font-weight: bold;">Acabei conferindo o tradicional Bier Fass, que só valeu pelo cenário e pelas boas companhias: a comida, mediana, demorou inexplicáveis 80 minutos para chegar à mesa.</span> Outras dicas: o italiano Villa Tevere, os peixes do Coco Bambu, o mexicano El Paso, o sushi do Kojima, o bife à parmegiana do Panelinha, as pizzas da Valentina, o vegetariano Naturetto, os sucos e <span style="font-style: italic;">wraps </span>do Bendito Suco, os bolos da Casa dos Biscoitos Mineiros e, para uma extravagância maior, os menus fechados do Aquavit, que giram entre R$140 e R$192/pessoa. <span style="font-weight: bold;">Quando o assunto é noite gay, o circuito brasiliense não chega a emocionar - Goiânia está bem melhor na fita. Entre os bares, o tradicional Beirute só satisfaz aquele público desencanado de boteco; já o Savana, que teoricamente seria a opção mais arrumadinha, precisa melhorar em tudo, do ambiente à cozinha. E a </span><span style="font-weight: bold;">Blue Space, </span><span style="font-weight: bold;">principal boate da cidade, fica num lugar simplesmente horroroso.</span> Por isso, não é de se admirar que as <span style="font-style: italic;">label parties</span> sejam aguardadas e vividas tão intensamente. No sábado, o fiel público da Fun! dançou até 10 da manhã, e muitos ainda continuaram a jogação em um <span style="font-style: italic;">chillout</span>. Se a locação não contribuiu (era a Blue em si), os <span style="font-style: italic;">go-go boys</span> eram deslumbrantes e o som me surpreendeu. Daniel Mendes fez um <span style="font-style: italic;">warm up</span> ao mesmo tempo chique e acessível, conquistando a pista sem fazer concessões, e Grá Ferreira mostrou um som de festa totalmente seguro de si, digno de atração principal, com direito a versão de "Heart of Glass", do Blondie. <span style="font-weight: bold;">As novas esperanças da noite repousam nos meninos do <span style="font-style: italic;">site </span>Parou Tudo. Eles já abriram o Glow Lounge, um espaço multiuso que tem reunido os bonitos da cidade às quintas, e se unirão a Lili Santana, da festa que leva seu nome, para fundar um novo clube. O lugar se chamará Victoria Haus e preencherá a lacuna deixada pela Blue Space, que fechará as portas em breve, ainda bem.</span> Quando for pedir sua vodquinha, muito cuidado: circula pela noite de Brasília um bizarro energético de garrafão que só pode ser coisa do Demo. Tomei menos de duas doses e não consegui pregar o olho por quase 24 horas.<span style="font-weight: bold;"> E quando o assunto é pegação, as bees brasilienses já estão plugadíssimas no aplicativo Grindr, com seus perfis mula-sem-cabeça. Se você prefere mais fibra e menos laquê, os cafuçus do cerrado frequentam uma certa sauna em Taguatinga, fica a dica.</span> Só não vi mesmo o tal entardecer vermelho/laranja/roxo que aparecia em várias fotos de Brasília. Vai ver que isso era coisa da Embratur se jogando no Photoshop. Mas não há de ser nada. Fui tão bem recebido e conheci tantas pessoas legais, que já estou fazendo planos de voltar. E quem sabe dar uma esticadinha até Pirinópolis e mesmo Goiânia, que tem sido cada vez mais recomendada!Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-43211170628169207582011-08-25T12:43:00.004-03:002011-08-25T13:09:32.089-03:00Nesse país lugar melhor não há<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgH4fomG0sj9EyCwQBapntm6GdXSwEVkT7Z6Qd3RdSjfWCddADg3PvNs5mQoAjnFI8AUmw4HQH0T-cwbyd8radUu9Q6Bulr-w6vAXhP0cDeMhxNiMwKEjNVMH9HvCLjXeAfxpODYg/s1600/brasilia.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgH4fomG0sj9EyCwQBapntm6GdXSwEVkT7Z6Qd3RdSjfWCddADg3PvNs5mQoAjnFI8AUmw4HQH0T-cwbyd8radUu9Q6Bulr-w6vAXhP0cDeMhxNiMwKEjNVMH9HvCLjXeAfxpODYg/s200/brasilia.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5644822804981349154" border="0" /></a>Eu tinha que encerrar esse período sabático com uma viagem, néam? Pois estou embarcando logo mais para Brasília. Vai ser minha segunda vez na capital federal - a primeira rendeu um <a href="http://introspecthive.blogspot.com/2009/04/o-sobe-e-desce-de-brasilia.html">sobe-e-desce</a> que dividiu opiniões no blog. "Mas o que você vai fazer lá?", ainda me perguntam alguns. Tenho bons amigos para rever. Desta vez, levo várias indicações gastronômicas no bolso, que pretendo conferir na medida do po$$ível. Entre as 20 dicas que reuni, fiquei mais empolgado com o peruano-contemporâneo Taypá, a <span style="font-style: italic;">comfort food</span> do Panelinha e o sorvete da Saborella, que é uma verdadeira unanimidade. Vou aproveitar para me jogar na noite - a <span style="font-style: italic;">label party</span> Fun, do querido Fernando Toledo, vai fazer sua última edição na Blue Space antes do fechamento do clube. E <span style="font-style: italic;">last but not least</span>, espero finalmente poder conferir os pores-do-sol vermelhos que fazem a fama da cidade. Já sei que a Ermida Bom Bosco é um dos melhores cenários para isso. Com a estiagem dessa época do ano, não vou passar meus dias embaixo d'água, como da outra vez!
<br />Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-39929177008502015852011-08-23T17:17:00.005-03:002011-08-24T01:35:29.990-03:00O fim do período sabático<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6bmOxpODzYR6WFD4t9ZRB8zsa-tohNU5IXd8BOQrDSORBCXq0H34UtM7iFbZ-CKdzKmUMtumJsq2xUJn6bcyxW9LzywqlP8fDBSy4-CFeSUjZBQUD74cQUd30KmQC0xg9Nsiolw/s1600/ANO-SAB%25C3%2581TICO-1.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 162px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6bmOxpODzYR6WFD4t9ZRB8zsa-tohNU5IXd8BOQrDSORBCXq0H34UtM7iFbZ-CKdzKmUMtumJsq2xUJn6bcyxW9LzywqlP8fDBSy4-CFeSUjZBQUD74cQUd30KmQC0xg9Nsiolw/s200/ANO-SAB%25C3%2581TICO-1.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5644134937298333154" border="0" /></a>Depois de treze anos de muita ralação, era justo que eu desse uma desacelerada e tirasse um tempinho para mim. Pela primeira vez na vida, eu me vi sem nenhum compromisso ou obrigação fixa. Dormi e acordei mais tarde. Li mais jornal e fui mais à academia. Viajei. Fiz coisas que nunca pudera, como percorrer a ciclovia da Marginal até Interlagos e dar um giro pelos principais bancos do mercado, atrás da melhor remuneração para minhas economias. Resolvi algumas pendências, incluindo a Carteira do Trabalho, que eu ainda não tinha. Aguentei o último filme do Lars Von Trier até o final da sessão. Conheci muitos restaurantes novos, sendo que alguns renderam assunto para o blog. Permiti um descanso do próprio blog, como vocês devem ter percebido.
<br />
<br />E foi ótimo. Aproveitei cada minuto dessa pausa. Não senti a menor culpa de ficar debaixo do edredom, enquanto os demais mortais enfrentavam o frio da rua a caminho do trabalho. No fundo, eu sabia que os momentos de ócio seriam mais escassos quando a carreira de jornalista começasse a engrenar, então tinha que aproveitar essa chance. Todo mundo deveria se dar o luxo de um retiro sabático de vez em quando.
<br />
<br />Agora minha folga está chegando ao fim. Fui <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,veja-a-lista-dos-convocados-para-o-curso-estado-de-jornalismo,761063,0.htm">aprovado</a> para o Curso Intensivo de Jornalismo Aplicado do Grupo Estado, responsável pelo jornal <span style="font-style: italic;">O Estado de S.Paulo</span>. O curso, oferecido uma vez por ano a 30 jovens jornalistas, compreende pouco mais de três meses de treinamento, em período integral. Além de aulas e palestras, terei a oportunidade de participar da rotina da redação. Vou aprender muito, conhecer bastante gente, tenho certeza de que será uma experiência incrível, por menos que eu saiba sobre o que me espera por lá. Essa nova fase da minha vida começa no dia 1º de setembro. Estou muito feliz.
<br />
<br />Será também uma boa oportunidade para repensar os caminhos deste blog. Ao longo dos últimos cinco anos, procurei desenvolver um estilo e deixar minha marca. Meus textos são longos; depois de burilar aqui e aperfeiçoar ali, eles levam horas para ficar prontos. Faço assim porque gosto, mas a nova rotina vai me levar a rever esse método. O ritmo da redação vai me condicionar a pensar e produzir com mais rapidez - e, de qualquer maneira, deixará menos tempo para o blog. Talvez seja hora de me render a um formato mais leve, ágil, com postagens mais ligeiras e maior possibilidade de interação com os leitores. Como tem sido no Facebook, onde escrevo coisas menores e acabo recebendo um <span style="font-style: italic;">feedback </span>muito maior. Para durar, é preciso saber se adaptar aos novos tempos.
<br />Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-89778610065346957832011-07-29T12:53:00.007-03:002011-07-31T16:48:02.910-03:00Minhas descobertas gastronômicas de julho<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4mDfBuUnf55Ujdesa2hHFyRzZ4xVbihNWSEGxKJZ_M2SEz9oETTJv_x8v3NdEhuqL0A-fV_vKI_bdXM9GLfPccVj1ttRB03yNYz7yaPTjB37oHli_chChUKBsUone-yTwigceCQ/s1600/marcelino3.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4mDfBuUnf55Ujdesa2hHFyRzZ4xVbihNWSEGxKJZ_M2SEz9oETTJv_x8v3NdEhuqL0A-fV_vKI_bdXM9GLfPccVj1ttRB03yNYz7yaPTjB37oHli_chChUKBsUone-yTwigceCQ/s400/marcelino3.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5634251696087924322" border="0" /></a><a href="http://www.marcelinopanyvino.com.br/"><span style="font-weight: bold;">MARCELINO PAN Y VINO</span></a> [<span style="font-style: italic;">foto</span>] Instalado num antigo casarão de esquina, tem cara de restaurante durante o dia e de bar quando escurece. O cardápio, assinado pela chef do Lola Bistrot, oferece sanduíches diferentões, saladas e uma seleção bastante concisa de pratos quentes, complementada pelas sugestões do dia escritas numa lousa. Para abrir o apetite, há vários petiscos - as <span style="font-style: italic;">bruschettas </span>de queijo de cabra com compota de tomate são perfeitas. Investi num tortelli de mussarela com tomate fresco e manjericão que estava tão bom que tive que pedir outro (!). Pena que não sobrou espaço para o pavê de brigadeiro. Além do ambiente da foto, há uma varanda com mesas (nos dias frios, os comensais recebem simpáticas mantinhas) e um quintal com duas mesas comunitárias. Se não dá pra dizer que seja despretensioso (porque tudo na Vila Madalena tenta passar essa impressão, que é milimetricamente calculada), o lugar é bem aconchegante, perfeito para um <span style="font-style: italic;">late lunch</span> de sábado. O efeito colateral é que as pessoas terminam de comer e vão ficando, e com isso sobra para quem está na fila esperando mesa. <span style="font-weight: bold;">Onde:</span> Rua Girassol, 451, esquina com Wisard, Vila Madalena.<br /><br /><a href="http://www.nood.pt/"><span style="font-weight: bold;">NOOD</span></a> Esta é a primeira filial brasileira de uma rede de cozinha asiática rápida com casas em Portugal e na Espanha. Quando vi as bobagens escritas no <span style="font-style: italic;">site</span> ("um lugar para estar"! e alguém abre um lugar para as pessoas não irem, ó pá?!), fiquei com um certo pé atrás, mas a curiosidade foi maior e fui conferir. O cardápio atira em várias direções: tem entradinhas (<span style="font-style: italic;">gyoza</span>, espetinhos, camarões empanados), massas servidas como sopa (tipo lamen) ou feitas na wok, carnes (frango, salmão) servidas no prato com arroz japonês e, é claro, o inevitável sushi. Eu e meu amigo testamos três pratos. O que mais agradou, o <span style="font-style: italic;">teriyaki </span>de salmão, era também o mais simples de todos, difícil de errar. O <span style="font-style: italic;">ramen </span>de frango está muito aquém daqueles servidos nos bons <span style="font-style: italic;">noodle bars</span> da Liberdade, como o Lamen Kazu. Quem busca excelência culinária corre o risco de se frustrar. Mas o menu bem eclético, o clima moderninho e os preços corretos devem agradar a paladares menos exigentes. <span style="font-weight: bold;">Onde:</span> Rua Pedroso Alvarenga, 890, Itaim.<br /><br /><a href="http://www.lagrassa.com.br/site/a-cantina.php"><span style="font-weight: bold;">LA GRASSA</span></a> Clara e moderna, sem deixar de ser acolhedora, essa cantina tem feito bastante sucesso em uma rua tranquila de Moema. Os sócios também são donos do restaurante Praça São Lourenço. Se naquela casa a opulência do lugar, feito sob medida para encantar turistas, ofusca a qualidade bem mediana da cozinha, aqui a comida está à altura do ambiente. O forte são as massas frescas, como o tagliolini à carbonara, e recheadas, como o tortelli de ricota com tomate fresco, <span style="font-style: italic;">pancetta </span>e rúcula e o ravióli de abóbora na manteiga de sálvia com avelãs douradas. Os preços são justos, uma bênção nestes tempos em que as casas perderam completamente a noção. No almoço durante a semana, pelo preço do prato separado, você também ganha o couvert e a sobremesa - com uma bebida sem álcool e mais os 10% de serviço, sua refeição completa sai por cerca de R$40. <span style="font-weight: bold;">Onde:</span> av. Juriti, 32, Moema.<br /><br /><a href="http://smubar.com.br"><span style="font-weight: bold;">SMU</span></a> No embalo do fervo do Baixo Augusta, este lugarzinho fofo se apresenta como um <span style="font-style: italic;">smoothie bar</span>. O carro-chefe, portanto, são aquelas bebidas geladas à base de <span style="font-style: italic;">frozen yogurt</span> batido com frutas. São dezenas de combinações, que podem vir com ou sem álcool. Para acompanhá-las, há sanduíches em pão <span style="font-style: italic;">bagel </span>ou <span style="font-style: italic;">ciabatta</span>, além de uma competente <span style="font-style: italic;">cheesecake</span> com várias opções de calda (vá por mim: peça a de doce de leite com lascas de amêndoa!). A casa, que fica aberta até 0h30, tem um certo clima pré-balada, a começar pelo logotipo meio <span style="font-style: italic;">Dancin' Days</span> que muda de cor e enfeita a fachada. As paredes revestidas de ladrilhos negros contrastam com as mesinhas brancas, iluminadas por luzes dicróicas que também mudam de cor, criando um efeito que lembra uma pista de dança. As cartolas dos funcionários dão um toque irreverente. Os preços são bem ok: o combo promocional com um <span style="font-style: italic;">smoothie</span>, um sanduíche e um pedaço de <span style="font-style: italic;">cheesecake </span>sai por R$27,90. Uma opção simpática e original para um lanche rápido na região. <span style="font-weight: bold;">Onde:</span> rua Fernando de Albuquerque, 89, Consolação.<br /><br /><a href="http://www.brigaderia.com.br/"><span style="font-weight: bold;">BRIGADERIA</span></a> Depois das temakerias e lojas de <span style="font-style: italic;">frozen yogurt</span>, achei maravilhosa essa onda das docerias especializadas em brigadeiros, que são uma das minhas razões de viver. Mas ainda não tinha visto uma casa que realmente fizesse minha cabeça. A Maria Brigadeiro é pretensiosa, o tamanho de cada docinho é insuficiente, a consistência mais firme não agrada ao meu gosto pessoal e os preços são caríssimos. Esta aqui é a perfeita antítese da outra: os brigadeiros são mais generosos, bem molinhos, desmancham na boca e custam R$3 a unidade. Se a ideia é fazer um agrado a alguém, há embalagens que não deixam nada a desejar para as da concorrente. Entre os sabores, três me conquistaram: Bailey's, suave e nada enjoativo, Vanilla Cookie e Limão (esses dois são feitos com brigadeiro branco). <span style="font-weight: bold;">Onde:</span> nos shoppings Market Place, Pátio Paulista e Higienópolis.Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-1308872806462433252011-07-25T14:49:00.001-03:002011-07-25T14:52:05.458-03:00Responsabilidade<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSd1sKvXmM1XCzO2FJHVVIGVKPL698FWHRmDsZjZW04u0Bd7N2t-QIMMhVXAFTqdAnd0ihFVsJuVIziI_dVerUwCxFwXeEIfswmKdo2RSVb1SUNUgwAKxDIYakxsfcNH2uiR8dbw/s1600/amy-winehouse.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSd1sKvXmM1XCzO2FJHVVIGVKPL698FWHRmDsZjZW04u0Bd7N2t-QIMMhVXAFTqdAnd0ihFVsJuVIziI_dVerUwCxFwXeEIfswmKdo2RSVb1SUNUgwAKxDIYakxsfcNH2uiR8dbw/s200/amy-winehouse.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5633345599187101170" border="0" /></a>Claro que eu fiquei triste com a morte da Amy Winehouse. Eu não era um fã ardoroso - gosto de <span style="font-style: italic;">Back to Black</span> de cabo a rabo, e de três músicas dele de forma especial, mas não do álbum anterior, e não quis ir ao show. Em vários momentos da carreira dela, enquanto eu lia as notícias de suas idas e vindas, eu pensei que talvez ela precisasse de mais amor, de braços para os quais ela pudesse correr em busca de carinho, proteção, atenção. Sim, ela tinha talento e sensibilidade. Sim, foi uma perda enorme. Sim, a dependência química é uma doença. Mais do que as homenagens que vieram e virão, Amy merece toda a nossa compaixão.<br /><br />Por outro lado, por mais que eu tenha me sensibilizado com o que aconteceu, acho que, no calor da comoção, muitas pessoas erraram ao pintar Amy unicamente como uma vítima, como se suas atitudes não tivessem colaborado para que ela tivesse o fim que teve. As pessoas têm livre-arbítrio, e nisso se inserem as decisões de começar a beber e usar drogas. Essas são <span style="font-style: italic;">escolhas</span> individuais, que oferecem riscos, assim como outras tantas atividades lícitas e ilícitas que fazem parte da vida do homem, incluindo fazer sexo, jogar bola e andar de avião. Todo mundo sabe que álcool e drogas oferecem recompensas, mas também fazem mal. Se alguém não sabe disso e/ou não é capaz de fazer o respectivo juízo de valor, então não tem maturidade para usar. Simples assim.<br /><br />Não é porque certas substâncias afetam a nossa capacidade de avaliação que deixamos de ser responsáveis por aquilo que nos acontece. Cabe a cada um segurar a própria onda, nem que seja para ter alguém de confiança por perto nos momentos mais vulneráveis, evitando comportamentos de risco, como dirigir um carro, por exemplo. O bêbado não consegue tomar uma decisão prudente, o drogado não percebe onde está a zona de perigo? Oras, então não vá pirar o cabeção sozinho! À liberdade de agir como um adulto, corresponde o dever de se proteger e não fazer burradas. E quando a coisa foge de controle, se a pessoa não tem o discernimento e/ou a força para se segurar, o melhor caminho é buscar ajuda. Diferente de outras pessoas que não têm a mesma sorte e as mesmas condições, Amy teve acesso a todos os tratamentos possíveis. Mas isso não deu certo para ela.<br /><br />É um dos riscos que se corre. Quantos de nós não bebem ou usam drogas, e ainda assim conseguem tomar conta de si, e se equilibrar sem fazer nenhuma besteira maior? Muitas pessoas vão conseguir conciliar o lado A e o lado B, explorar as sensações e minimizar os danos, e tocar suas vidas sem maiores sustos. Mas algumas vão se dar mal. Às vezes não é nem por falta de "vocação" pra ser um bom bebedor ou um drogado profissional, mas sim por uma questão biológica, de ter os receptores mais vulneráveis à adição, à dependência. É um terreno pantanoso, os perigos são reais, não é só glamour e oba-oba como as pessoas gostariam.<br /><br />E antes que comecem com o mimimi nos comentários, não há nada de moralismo ou hipocrisia no meu discurso. Não estou apontando o dedo para o usuário, demonizando-o, dizendo que colhe o que planta e não merece pena. Não há que se falar em <span style="font-style: italic;">culpa</span>, mas em <span style="font-style: italic;">responsabilidade</span>. Sou um defensor ferrenho da liberdade individual, mas ela tem essa contrapartida: a responsabilidade. Não podemos eximir ninguém da responsabilidade pelos seus próprios atos. Nem mesmo Amy. Nunca estaremos como era estar no lugar dela, nunca saberemos o que ela sentia de verdade, como ela sofria, e por isso não podemos julgá-la. Só não vamos esquecer que nesse caminho triste, quem deu o primeiro passo foi ela, adulta e dona do próprio nariz.Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com22tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-36173225113456938982011-07-19T23:30:00.006-03:002011-07-20T00:05:13.328-03:00Overdose<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnMjsYj-8udERYcQkuxXkuf2VgI7KYe0Tg73qMB7eHMNa-rhENWn4XaMaAGcLWaVtnVB-dpoi_1AATvY7hC9cYW6hAWr-o7fqtADYJyRb0b8ytcqZbegFyVlSpVF8mtlYCFwiY2w/s1600/overdose.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 190px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnMjsYj-8udERYcQkuxXkuf2VgI7KYe0Tg73qMB7eHMNa-rhENWn4XaMaAGcLWaVtnVB-dpoi_1AATvY7hC9cYW6hAWr-o7fqtADYJyRb0b8ytcqZbegFyVlSpVF8mtlYCFwiY2w/s200/overdose.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5631258291928601618" border="0" /></a>Ando sem cabeça pra postar no blog. E não só por conta dos <span style="font-style: italic;">freelas </span>que, felizmente, começaram a pipocar. Confesso que estou meio cansado de algumas polêmicas, tipo ter ou não ter beijo gay na novela, ou a declaração inadequada desse ou daquele asno com visibilidade pública. Nesses assuntos, vários colegas meus já estão dando o recado com maestria, e não tenho nada de realmente novo a acrescentar, sem soar redundante. Continuo achando que se indignar, querer avanços, semear mudanças de mentalidade, vale a pena. Essa é uma luta cotidiana de todos nós. Mas também reconheço que estamos vivendo uma overdose do assunto na mídia, num espaço muito curto de tempo. Isso cansa os ouvidos dos leigos e, por conta disso, acaba enfraquecendo a própria discussão. Muita gente bem-intencionada e até francamente simpatizante <span style="font-style: italic;">não aguenta mais </span>ouvir falar em causa gay o tempo todo. No fim das contas, isso dá munição para uma das falácias mais levianas usada contra nós: a de que estamos querendo instaurar uma ditadura da minoria, uma patrulha gay empurrada goela abaixo da maioria. Será que não estamos errando a mão?Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-9826759859624271342011-07-07T19:16:00.002-03:002011-07-08T12:16:04.431-03:00FOMO, o medo de ficar de fora<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbidnAFT4-bUXU5EMCKJLFjXOx3gWAhfjE5KMq71CobMdG5VA9E3-tfBZAOmvRu8HBVpj31ql2pFW_tQNnVEnnqD4KzEMZmLiKmOdEJFc8QbBwvKTYTmhicJBq0wVaWfDMxdbz-A/s1600/missing+out+dogs.JPG"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbidnAFT4-bUXU5EMCKJLFjXOx3gWAhfjE5KMq71CobMdG5VA9E3-tfBZAOmvRu8HBVpj31ql2pFW_tQNnVEnnqD4KzEMZmLiKmOdEJFc8QbBwvKTYTmhicJBq0wVaWfDMxdbz-A/s200/missing+out+dogs.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5626387423147217506" border="0" /></a>Há algumas semanas, a <span style="font-style: italic;">Folha de S.Paulo</span> publicou, na capa do caderno de informática Tec, a reportagem "Carência afetiva 2.0". O texto fala sobre um fenômeno que os americanos denominaram <span style="font-style: italic;">fear of missing out</span>, tão discutido por aquelas bandas que já é conhecido pela sigla FOMO. O tal "medo de ficar de fora", ou de estar perdendo algo, tem sido desencadeado sobretudo pelo Facebook, que provoca nas pessoas um sentimento de exclusão. De repente, surgem na sua frente fotos e relatos de festas, passeios, reuniões e momentos incríveis, em que todo mundo está aproveitando, se divertindo e vivendo a vida intensamente - todo mundo menos você, que não estava lá e sente que perdeu o bonde.<br /><br />Esse mal moderno é, antes de mais nada, um subproduto dos tempos de hiperconectividade em que vivemos. Grudados em nossos inseparáveis <span style="font-style: italic;">smartphones</span>, fazemos questão de ficar <span style="font-style: italic;">online</span> o tempo todo (inclusive durante o jantar com amigos no restaurante), porque queremos ver tudo, saber de tudo, ficar por dentro de tudo o que está acontecendo. Com tamanho bombardeio de informação, a sensação de estar perdendo algo imperdível passa a ser frequente, como ilustram algumas aspas colhidas pela reportagem. "Quando vejo na rede uma balada legal, não consigo deixar de pensar que deveria estar lá também. Por que ninguém me avisou?", diz um internauta. "Toda vez que eu escolho um programa, logo depois descubro que o melhor é aquele a que não fui", lamenta outro.<br /><br />Eu já havia falado <a href="http://introspecthive.blogspot.com/2010/02/bloco-do-eu-sozinho.html">neste <span style="font-style: italic;">post</span></a> sobre como o excesso de opções pode deixar as pessoas perdidas. A psicóloga Rosely Sayão, também ouvida pela reportagem, resume o problema. "Todo mundo quer 'tudo ao mesmo tempo agora', não é? O problema é que não dá", explica. "Uma das características do mundo contemporâneo é que você acorda e já tem que fazer escolhas. Como escolher ficar em casa, se há tantas coisas boas acontecendo lá fora? Qual será a melhor balada? Isso é pirante", continua. Já senti isso na carne mais de uma vez.<br /><br />Outra questão sensível, e aqui já estou extrapolando a abordagem feita pelo texto, é que as redes sociais potencializam o instinto competitivo que já existe em cada um de nós. Dentro do Facebook, todo mundo leva uma vida extraordinária, em meio a churrascos na piscina, brindes de champagne, baladas alucinantes e muitas viagens para o Exterior. Aqueles seres com sorrisos constantes e o corpo sempre em dia parecem habitar um mundo paralelo, e a comparação é inevitável: "Por que será que a minha vida social não é tão boa assim? Eu também quero aquele abdome! Com certeza estou errando em algum lugar".<br /><br />O calo aperta de verdade quando você constata que as pessoas que estavam ali se divertindo são seus <span style="font-style: italic;">amigos</span> - e você só ficou sabendo do fervo depois, pelo Facebook, pois eles nem pensaram em te chamar. Não tem jeito: com as redes sociais, ficou mais fácil perceber quando você não foi lembrado ou convidado. Está tudo lá. Pior ainda é se existiu um namoro que terminou mal, ou mesmo uma amizade que azedou ou deixou de ser correspondida. Receber no seu mural <span style="font-style: italic;">feeds</span> da pessoa em questão exalando felicidade - uma felicidade que <span style="font-style: italic;">não</span> inclui você, obviamente - é pedir para se machucar.<br /><br />A matéria da <span style="font-style: italic;">Folha </span>não desenvolve o assunto direito, nem dá soluções. O que fazer? Não tenho receita pronta, mas bolei algumas estratégias de sobrevivência que têm funcionado para mim. A mais imediata é controlar a exposição ao agente desencadeador do problema - ou seja, dosar o contato com o Facebook, um passatempo viciante, que rouba um tempo precioso do seu trabalho e drena a sua criatividade (inclusive para manter um blog!). Em relação aos ingratos de plantão, amigos que viraram as costas, <span style="font-style: italic;">affairs </span>mal resolvidos e afins, quando não é o caso de excluí-los definitivamente da sua rede, basta configurar o <span style="font-style: italic;">feed </span>e parar de receber as atualizações dessas pessoas. Enquanto avalia se vale ou não a pena tirar a situação a limpo, você aproveita o 'descanso virtual' para repensar o espaço e a importância que essas pessoas devem ter na sua vida.<br /><br />Outra dica, tão valiosa quanto óbvia, é vencer a inércia e correr atrás das coisas que você quer ou de que sente falta. Isso significa, inclusive, não viver na sombra de outras pessoas, especialmente aquelas que você admira. Não precisa fugir quando seus amigos quiserem dividir o sucesso deles, mas preocupe-se também em viver a sua própria história, construir o seu próprio <span style="font-style: italic;">hype</span>. As coisas boas só acontecem para quem se prepara e faz a lição de casa. E se bater aquele sentimento ruim, transforme a cobiça, ou mesmo a inveja, em uma força produtiva que te levará a se empenhar mais na busca dos seus objetivos. É bem mais sensato e produtivo gastar essa energia em si mesmo do que no Facebook.<br /><br />Por fim, é preciso tentar não se cobrar tanto. A gente não precisa estar em <span style="font-style: italic;">todos </span>os lugares ao mesmo tempo, ir a <span style="font-style: italic;">todas </span>as festas, participar de <span style="font-style: italic;">tudo</span>. Saiba filtrar quando disserem que tal balada foi in-crí-vel - a melhor festa é sempre aquela que você perdeu, enquanto aquelas a que você vai nunca são tããão mágicas assim, já reparou? Quando bater uma insatisfação (ou até mesmo uma invejinha, porque ninguém é de ferro), não custa lembrar que a grama do vizinho é sempre mais verde. Ou, como li outro dia por aí, "ninguém é tão feio como na carteira de identidade, tão bonito como no Orkut, tão feliz quanto no Facebook, tão simpático como no Twitter, tão ausente como no Skype, tão ocupado como no MSN e nem tão bom quanto diz no currículo".Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-77637506780973002692011-07-04T14:11:00.008-03:002011-07-05T10:30:40.749-03:00Andanças gastronômicas em São Paulo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8b9zQxYif88Ckaa9xXI_isA345r6UxJo1Pz2-jqunu5hRUQq4nY7W2QRv66DKBnXP5hsuXqxzG9d5suJC18YvFLh0uMQj2Xcw3viaUhyphenhyphengpfBoNKpfGogrQn335-ejv_0Zps4DiA/s1600/akvila1.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 265px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8b9zQxYif88Ckaa9xXI_isA345r6UxJo1Pz2-jqunu5hRUQq4nY7W2QRv66DKBnXP5hsuXqxzG9d5suJC18YvFLh0uMQj2Xcw3viaUhyphenhyphengpfBoNKpfGogrQn335-ejv_0Zps4DiA/s400/akvila1.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625197881535388914" border="0" /></a><a href="http://www.akvila.com.br/"><span style="font-weight: bold;">AK VILA</span></a> [<span style="font-style: italic;">foto</span>] A jovem e simpática Andrea Kaufmann despontou na cena com o AK Delicatessen, em que apresentava uma releitura moderna da culinária judaica. Na casa nova, paredes de cimento queimado com painéis estofados de veludo, mesas de madeira envelhecida e um bonito grafite sobre a janela da cozinha, criando um ambiente descolado, que remete ao Bar 6 de Buenos Aires. O menu é descomplicado: metade dos pratos são carnes feitas na grelha, servidas com molhinhos - a maionese de manjericão é deliciosa. Os acompanhamentos são pagos à parte. Para não deixar os fãs na mão, há alguns pratos da casa antiga, como o pastrami de língua, o <span style="font-style: italic;">goulash </span>de vitela, o <span style="font-style: italic;">bagel </span>de salmão defumado, as incomparáveis <span style="font-style: italic;">varenikes</span> e as sobremesas clássicas de Andrea, como a <span style="font-style: italic;">crème brulée</span> de mel com figos e o <span style="font-style: italic;">pain perdu</span> (espécie de rabanada). Só não gostei muito que o medalhão de mignon recheado de pastrami, queijo brie e cogumelos, que eu adorava, agora virou um hambúrguer, com os mesmos ingredientes. Outro senão é o cardápio "rotativo", que muda ao sabor do dia: pode ser que você não encontre aquele prato apetitoso que você viu no menu pelo <span style="font-style: italic;">site</span>, antes de sair de casa. O lugar anda concorrido, portanto vale chegar cedo, tanto no almoço como no jantar. <span style="font-weight: bold;">Onde:</span> R. Fradique Coutinho, 1240, Vila Madalena.<br /><br /><a href="http://www.laschicas.net.br/"><span style="font-weight: bold;">LAS CHICAS</span></a> Esta é a nova cria da chef Carla Pernambuco, que comanda um dos meus restaurantes favoritos em São Paulo, o Carlota. Aqui, ela e sua sócia transformaram uma pequena garagem em uma espécie de <span style="font-style: italic;">delicatessen</span>, onde se come de um jeito mais informal (e barato!) que na casa-mãe. Em uma vitrine, ficam expostos salgados, quiches, bolos e doces, que podem ser consumidos a qualquer hora (a casa abre já para o café da manhã e funciona até as 23h) e também levados para casa. Tudo é muito apetitoso. As refeições são servidas em bufê no almoço (os pratos mudam diariamente, R$75/kg) e à <span style="font-style: italic;">la carte</span> no jantar. O menu tem a mesma pegada multicultural do Carlota e coleciona vários acertos, como o "risoto" de queijo mascarpone, figos e presunto cru (feito não com arroz, mas com macarrão risoni), o rosbife com molho de queijo e <span style="font-style: italic;">papas bravas</span>, e uma espécie de <span style="font-style: italic;">pot pie</span> de frango superdiferente, com um tempero oriental bem condimentado. Nem pense em pular a parte doce: o "pot de chocolate quente" é a melhor sobremesa de chocolate que comi em muito, muito tempo. Um lugar para voltar, e voltar, e voltar. <span style="font-weight: bold;">Onde:</span> Rua Oscar Freire, 1607, Pinheiros.<br /><br /><a href="http://www.lejazz.com.br/Le_Jazz/Brasserie_Le_Jazz.html"><span style="font-weight: bold;">LE JAZZ</span><span></span></a><span><a href="http://www.lejazz.com.br/Le_Jazz/Brasserie_Le_Jazz.html"><span style="font-weight: bold;"> BRASSERIE</span></a></span> Embora se autodenomine <span style="font-style: italic;">brasserie</span>, o Le Jazz pode ser considerado um <span style="font-style: italic;">bistrô</span>, no sentido autêntico da palavra: um restaurante francês pequeno e aconchegante, com preços mais camaradas - algo cada vez mais difícil de se encontrar em SP. Não por acaso, suas mesas enchem rápido - a partir das 20h30, esteja preparado para esperar na fila. O cardápio conquista a freguesia já na seção de entradas. A melhor é o calamar à Carbonara: tentáculos de lula, finos e macios, em um delicado molho de creme de leite, gema de ovo e <span style="font-style: italic;">crisps</span> de presunto de Parma, para comer com rodelas de pão italiano. Mais surpreendente ainda é a sopa de cebola caramelizada, um caldo consistente e bem temperado, com fartas lascas de queijo <span style="font-style: italic;">gruyère</span> e uma fatia de pão, tudo gratinado no forno. Essa sensacional sopa, sozinha, já justifica a espera pela mesa. Nos pratos principais, opções clássicas como <span style="font-style: italic;">steak tartare</span> (ótimo), filé ao molho <span style="font-style: italic;">poivre</span>, peito de pato ao balsâmico e tagine de cordeiro com cuscuz marroquino. O público da casa, maciçamente formado por grupos de mulheres de 25 a 45 anos, faz você se sentir na redação da revista <span style="font-style: italic;">Marie Claire</span>. E a água como cortesia é uma atitude pra lá de simpática. <span style="font-weight: bold;">Onde:</span> Rua dos Pinheiros, 254, Pinheiros.<br /><br /><a href="http://www.baciodilatte.com.br/"><span style="font-weight: bold;">BACIO DI LATTE</span></a> Aberta no início do ano no primeiro quarteirão da Oscar Freire, longe do burburinho das lojas, essa pequena sorveteria tem atraído multidões. O charmoso interior, todo decorado em branco, tenta recriar uma leiteria italiana, com direito a latões de leite transformados em banquetas para os clientes sentarem. A textura cremosa e aveludada se faz presente mesmo nos sabores de fruta, como limão siciliano, morango, figo, pera e abacaxi com hortelã, que não são doces demais. Quem, como eu, prefere derivados de creme e chocolate, encontra boas opções como <span style="font-style: italic;">nutellina </span>(leite, creme, açúcar e microfiapos de Nutella) e chocolate belga (o meu novo vício! parece um Danette que estudou na Sorbonne). Os copinhos, em três tamanhos, saem por R$8, R$10 e R$12, sendo que até mesmo o menor deles permite escolher três sabores. <span style="font-weight: bold;">Onde:</span> Rua Oscar Freire, 136, Jardins.<br /><br /><a href="http://www.restaurantetatini.com.br/"><span style="font-weight: bold;">TATINI</span></a> Na ativa desde 1954, o Tatini é fiel representante de um estilo que está praticamente extinto em São Paulo: aqueles restaurantes em que o <span style="font-style: italic;">maître</span> traz os ingredientes à mesa e finaliza os pratos na frente dos comensais, usando um <span style="font-style: italic;">réchaud</span> para preparar os molhos e flambar as carnes. O menu traz clássicos da cozinha internacional, como o imortal steak à Diana (que leva manteiga e molhos <span style="font-style: italic;">rôti</span>, de tomate, de mostarda e inglês, e acompanha arroz puxado no próprio molho) e os camarões à Mary Stuart (flambados com whisky, creme de leite e maçã). Os preços giram em torno de R$60 (filés) e R$110 (camarões), ou seja, não é um lugar barato, e sim um restaurante mais classudo, para uma comemoração em família. A decoração antiquada e a frequência com predomínio da terceira idade ajudam a criar a sensação de lugar parado no tempo. <span style="font-weight: bold;">Onde:</span> Rua Batataes, 508, Jardim Paulista.Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-44279459533758529732011-06-26T18:20:00.002-03:002011-06-27T08:46:36.553-03:00O melhor da festa<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCQGqpxEeOHIdYayHELE__knWjZvr5rAuj8xu_LvxU0NQt2_2GYpCUZom-uF5lNwi2pm4QGXn-h1Zu9dgtCsFUr93PQ9Psjs2DKYm5HNKL5ASFvJ6B2fGXeooojgwA8NM4JnMGhA/s1600/festa01.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCQGqpxEeOHIdYayHELE__knWjZvr5rAuj8xu_LvxU0NQt2_2GYpCUZom-uF5lNwi2pm4QGXn-h1Zu9dgtCsFUr93PQ9Psjs2DKYm5HNKL5ASFvJ6B2fGXeooojgwA8NM4JnMGhA/s200/festa01.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5622640562333417794" border="0" /></a>Uma noite feliz é o resultado de uma combinação precisa de diversas variáveis. É você conseguir achar os seus amigos numa imensidão de pessoas e cavar um espacinho para dançar com conforto. É a música estar particularmente boa, adequada ao seu gosto, ao seu momento. É o seu estado de espírito estar favorável, você estar num dia bom, e isso se reverberar em sua ondinha interior de bem-estar e felicidade. Em alguns casos, dependendo das expectativas e/ou do que estiver dentro do seu copo, é você beijar bastante - a mesma boca ou diversas bocas.<br /><br />A questão é que todos esses são fatores que fogem completamente ao seu controle. Às vezes você tem sorte e tudo casa à perfeição. Mas em outras noites, essa fina sintonia simplesmente não acontece. Não é sempre que dá para ter a noite perfeita, no <span style="font-style: italic;">timing </span>perfeito, a onda perfeita, com as companhias perfeitas, tudo ao mesmo tempo.<br /><br />Essa é a principal razão pela qual uma mesma festa pode ser incrível para uma pessoa que viveu a tal sintonia rara, e ruim para outra com que a mistura desandou. A ordem dos fatores é essencial - e um erro na alquimia pode provocar combustão e até a explosão do laboratório!<br /><br />Autoconhecimento é a palavra-chave. Com o tempo, aprendemos a reconhecer nossas preferências, nossas fragilidades, nossos limites, e com isso tentamos lapidar nossa experiência de noite. Sabendo de antemão onde o calo aperta, dá para tentar evitar as situações que vão provocar desgaste, os comportamentos que poderão ter um gosto amargo no dia seguinte. Às vezes a recompensa do momento é mais efêmera do que a gente gostaria. E, quando as coisas não derem tão certo, é sempre bom lembrar que, depois daquela festa tão esperada, certamente virá outra, e mais outra, e numa próxima oportunidade a mistura dos ingredientes poderá ter um resultado mais harmonioso. Melhor não se cobrar demais.<br /><br />Também ajuda muito a gente estar de bem consigo, em dia com a autoestima, o corpo, o coração. Pista de dança pode ser um ótimo lugar para espairecer, se distrair e escapar dos problemas - mas se você abrir a porta errada, os esqueletos poderão cair do armário e te assombrar. O melhor é fazer a lição de casa antes - reconhecer quais são as suas carências, o que te falta, o que te faz sofrer, e ir tratando de resolver tudo isso, aos poucos - fora dali e de cara limpa. No meio da festa, não existem soluções milagrosas - não acredite se te disserem o contrário, <span style="font-style: italic;">honey</span>.<br /><br />Mas a discussão mais importante é de outra natureza. Tem a ver com os objetivos que se tem na vida. Verdadeira indústria dos sonhos, o meio gay é uma gincana frenética, extremamente competitiva, na luta pelos melhores prêmios: o corpo esculpido que todo mundo quer, o título de <span style="font-style: italic;">bunita</span>, a chave do harém encantado, a coroa de rainha da noite. Nesse cassino, os lances e apostas costumam ser bastante altos. Vencer ali dá um trabalho enorme, custa um bom dinheiro, exige dedicação e comprometimento, inclusive da saúde. O prazer pode ser imenso, e não há nada melhor do que a gente lutar pelos sonhos e pelas coisas que a gente deseja. Mas às vezes não é possível ter tudo o que se quer. E mesmo quando você chegar lá, um dia isso fatalmente... vai passar. Ter outros projetos de vida - e um punhado de amigos leais para te acompanhar pelo caminho - é crucial para não se cair num vazio enorme depois que a festa acabar.Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com21tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-45603264655668671352011-06-22T19:07:00.002-03:002011-06-23T10:02:27.874-03:00E agora?<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirjZnrHbfsHbJh7gAGhbgOULpB6yykIekpRZwq6abMXDnCQPU46_tg5N6o8SyWgu99hCmdD5o7WLLXCSdc4r1zat-YHmUCxL8EHPFjNm2Pk9q0fNiOVRyx4yBBtcoUKvFJb5yvdQ/s1600/Parada-Gay1.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 148px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirjZnrHbfsHbJh7gAGhbgOULpB6yykIekpRZwq6abMXDnCQPU46_tg5N6o8SyWgu99hCmdD5o7WLLXCSdc4r1zat-YHmUCxL8EHPFjNm2Pk9q0fNiOVRyx4yBBtcoUKvFJb5yvdQ/s200/Parada-Gay1.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5621160783967053650" border="0" /></a>Quando começaram a ser divulgados os DJs estrangeiros escalados para animar as festas da semana da Parada Gay de São Paulo, a simples ausência de Peter Rauhofer, tido por muitos como "o top dos tops", foi suficiente para dar início a comentários do tipo "a Parada está decadente!", "as festas serão calmas e modestas", "São Paulo <span style="font-style: italic;">mó-</span>rreu" etc. Vi a programação dos clubes e achei que o alarde era exagerado: afinal, com mudanças mínimas, as festas de 2011 serão <span>idênticas </span>às dos anos anteriores.<br /><br />A poucas horas do início oficial dos festejos, porém, estou começando a achar que os tempos mudaram mesmo. A esta altura do campeonato, o Facebook deveria estar em polvorosa e eu já teria recebido diversos e-mails e telefonemas de amigos de outros estados, todos pedindo dicas da cidade, perguntando sobre o meu roteiro e querendo marcar alguma coisa. Desta vez, eu é que tenho que procurá-los para saber quem vem, e em geral... ninguém vem.<br /><br />Concordo que seria ingênuo pensar que os meus amigos e contatos são uma amostra representativa do meio gay. Talvez esse pequeno recorte não corresponda à realidade que se verá nos próximos dias. De qualquer forma, <a href="http://introspecthive.blogspot.com/2010/06/declinio-ou-entressafra.html">eu já notei uma queda sensível de público no ano passado</a>, o que me sugere que o "caso isolado" de 2010 pode ser mesmo uma mudança de comportamento. O que estará acontecendo? Fiz essa pergunta a algumas pessoas que resolveram fazer a egípcia em 2011. "Agora temos <span style="font-style: italic;">festas </span>boas em várias épocas e vários estados do Brasil, então não precisamos mais ir a São Paulo na Parada". "As <span style="font-style: italic;">festas </span>perderam a graça, não estão trazendo mais nenhuma novidade". "Desta vez vamos pular SP e nos guardar para as <span style="font-style: italic;">festas </span>de Barcelona em agosto". "Cansei um pouco de <span style="font-style: italic;">festa</span>, a gente fica muito estragado".<br /><br />Ou seja: para 99% das bilus, a Parada vale ou é lembrada exclusivamente pelas <span style="font-style: italic;">festas</span> feitas pelos clubes. E nunca, de forma alguma, pela Parada em si. Ninguém pensa que este é um momento em que as atenções do país inteiro se voltam para nós, e portanto uma rara oportunidade que temos para dar um recado para a sociedade. Da Parada anterior para cá, importantes acontecimentos marcaram a nossa agenda, e se alguns foram positivos, como a decisão do STF reconhecendo uma união estável homoafetiva, boa parte deles representou retrocessos ou mesmo tragédias: a contaminação do Legislativo pelas bancadas religiosas, os ataques homofóbicos pela cidade, o descarte do kit anti-homofobia pela presidente na vã tentativa de proteger Palocci. Agora a Parada está novamente aí e, no entanto, estamos desperdiçando uma chance preciosa de nos posicionar sobre todos esses assuntos.<br /><br />Entendo que parte da culpa pelo esvaziamento da Parada está nos seus problemas estruturais. Com o gigantismo do evento - causado muito mais pela carência de boas opções de lazer grátis para o povo, do que por um aumento do número de simpatizantes à nossa causa - fica difícil garantir conforto e segurança. Já falei sobre isso em outros <span style="font-style: italic;">posts</span>. A festa na avenida foi ficando feia, vi várias cenas dantescas que me desestimularam e, no ano passado, resolvi nem aparecer. Mas acho que o momento político que vivemos pede uma mudança de atitude, e os gays ditos "esclarecidos" deveriam voltar à Paulista.<br /><br />Se o evento se reduziu a um mero carnaval de rua, nunca é tarde para corrigir o foco. Uma atitude que certamente ajudaria: ligar a música mais tarde, abrindo espaço para que lideranças do movimento LGBT pudessem falar ao microfone. O percurso é longo: podemos deixar o trecho da Paulista para o comício e, na curva para a Consolação, os DJs começariam a tocar e instalariam o carnaval de sempre. Ou pelo menos fazer duas horinhas que sejam de manifestação, e depois começar a se embebedar e beijar na boca. É um desperdício ter uma quantidade tão grande de gente na rua, e não conseguir tirar disso nada de útil e proveitoso para a causa LGBT.<br /><br />As bichas são alienadas? Sim, mas elas acessam os portais de notícias LGBT, ainda que seja para saber da Lady Gaga, ou dos personagens gays da novela das oito. Então esses veículos deveriam aproveitar sua condição de formadores de opinião para, além de vender revistas e assinaturas de sites de encontros, estimular a audiência a ter uma postura mais participativa. Não precisam pedir que as pessoas escrevam cartazes ou peguem em armas: basta que venham todos vestidos de preto, em protesto contra a escalada da homofobia. Ou de vermelho, pela celebração do nosso amor. Ou de branco, pedindo paz. Se a Parada perdesse METADE do público, ainda seriam 1,5 milhão de pessoas ocupando a Paulista vestidas da mesma cor. Uma bela mensagem. E não é tão difícil. É só questão de se articular! Boa Parada a todos, e nos vemos por aí.<br /><br />[<span style="font-weight: bold;">UPDATE:</span> <span style="font-style: italic;">Aos leitores perdidos que pediram ajuda com as festas, faço aqui um apanhado rápido do que me pareceu mais interessante. </span><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">Hoje:</span><span style="font-style: italic;"> uma pedida para ver o povo num clima mais leve é a The Society, com o DJ Pagano. Mas se você prefere menos carão e mais beijação, se joga sem medo na Bubu, que também tem atração gringa e estará lotada. </span><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">Quinta:</span><span style="font-style: italic;"> eu recomendo a festona da TW no Moinho - se a Mooca é meio fora de mão, o som do Freemasons já vale o ingresso. Um plano B é A Lôca, sempre bem divertida. </span><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">Sexta:</span><span style="font-style: italic;"> resolvi fazer algo diferente, e vou apostar na Ursound - o público da festa está mais diversificado, o clima é bacana e a música idem. Quem é de fora e não está sempre aqui pode aproveitar para conhecer o Lions, bem legal. Ou então, noite clássica na The Week, com o duo Rosabel, para quem prefere jogar no seguro. </span><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">Sábado:</span><span style="font-style: italic;"> a GiraSol ainda é a festa mais esperada, prestigiada e comentada da temporada - e vai ser no Clube Nacional, locação que super funcionou no ano passado. Depois dela, ali pertinho, a Megga reabre com o Stephan Grondin, uma das melhores atrações desta leva. </span><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">Domingo:</span><span style="font-style: italic;"> quem estiver virado, ou mesmo descansado depois da GiraSol, pode se jogar no after luxurioso da Code, que avança tarde adentro. Mas tem a Parada, hein! No fim da tarde, tem repeteco da GiraSol e, à meia-noite, uma festa nova, chamada Babyy (assim mesmo, com dois 'Y'), no Hotel Cambridge, com a queridona Twisted Dee. Com mais público ou menos público, só não vai se divertir quem não quiser</span>].Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-41811243259392292122011-06-14T21:07:00.003-03:002011-06-22T22:33:03.844-03:00A Nova York brasileira<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVL7MDca2WR6bc9Q8gaT0JRViXve6-Q3pnjY16OjZiH-Rx8BdSyKVLzgonshidZCnqvkqeekR1TRJ47qCe5aKPRFMjRioQRgaunHLCtMwvZ1gIe3duzPYG5y0FRWf_Q-3HHtlEiA/s1600/sp01.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 262px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVL7MDca2WR6bc9Q8gaT0JRViXve6-Q3pnjY16OjZiH-Rx8BdSyKVLzgonshidZCnqvkqeekR1TRJ47qCe5aKPRFMjRioQRgaunHLCtMwvZ1gIe3duzPYG5y0FRWf_Q-3HHtlEiA/s400/sp01.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5618199904727848818" border="0" /></a>Uma das coisas boas de viajar para o Exterior é a chance única que temos de ver sob um outro prisma não só a nossa vida, como também o nosso país. A repetição da rotina acaba anestesiando os sentidos e o senso crítico. Quando saímos do <span style="font-style: italic;">habitat</span>, esse novo olhar mais fresco pode nos fazer descobrir coisas que nem imaginávamos. Ou ainda confirmar antigas convicções. Como é o caso da tese que irei defender neste texto. Eu já dizia isto aos meus amigos, e agora estou mais convencido do que nunca: São Paulo é, definitivamente, a Nova York brasileira.<br /><br />Quero deixar bem claro que não se trata de tentar emular um estilo pretensamente nova-iorquino, em busca da aceitação alheia. Não, não continuemos agindo como uma colônia, não precisamos disso, muito menos que a Sarah Jessica Parker seja paga para dizer que <span style="font-style: italic;">Sell Powlo</span> tem uma <span style="font-style: italic;">amazing energy</span>, naquela propaganda constrangedora do Shopping Cidade <span style="font-style: italic;">Jarjim</span>. Até acho que existem algumas sutis similaridades entre as duas cidades. Por exemplo, a região da Paulista entre a Ministro e a Augusta tem um leeeeve perfume de Rockefeller Center, especialmente no prédio do Safra e naquela pracinha que fica em frente ao restaurante Spot. Quando eu andei a pé por Midtown, em diversos momentos senti uma certa familiaridade: "isto poderia ser São Paulo". Mas não é bem essa a ideia.<br /><br />Com grande porte, ritmo frenético e trânsito intenso, Nova York é absolutamente tomada pelo cinza. Se deixarmos de lado o Central Park, espécie de "pulmão verde" da cidade, tudo que temos é um mar de prédios e táxis amarelos. Não por acaso, uma de suas atrações mais fotografadas é o arranha-céu Empire State Building - que, não fosse pela altura, seria um prédio até bem comum. E a sala de visitas da cidade, Times Square, não é mais do que a confluência em X de duas avenidas, completamente abarrotada por painéis publicitários e <span style="font-style: italic;">banners </span>luminosos, que bombardeiam as retinas dos passantes e lembram que tudo que existe ali deverá ser consumido imediatamente. Não existe nenhuma beleza rara ali - é preciso muito Woody Allen na veia, muitas caixas de <span style="font-style: italic;">Friends </span>e <span style="font-style: italic;">Seinfeld</span>, para começar a enxergar "charme" em Manhattan.<br /><br />E, no entanto, a cidade segue visitada e adorada por multidões e mais multidões, incensada como a "Capital do Mundo". Por que? Porque é ali que tudo acontece. Os melhores shows e concertos, os grandes espetáculos, a cena teatral dentro e fora do circuito da Broadway. Os grandes museus, a vida cultural, o culto à arte em suas diferentes formas e também à individualidade. O <span style="font-style: italic;">melting pot</span> único de nacionalidades, gente de vários cantos do mundo que foi tentar a sorte lá e deu à cidade um tempero bastante peculiar. As compras! Uma gastronomia que vai de A a Z, do pastrami judaico ao curry indiano. Restaurantes, bares e lojas descoladas que vão se descobrindo em uma caminhada pelo Soho, por Chelsea, pelo Village, por Hell's Kitchen, bairros que têm uma alma própria. Quem quer se divertir, vai para lá: não é raro ver gente de outras partes do país pegando um avião para passar o fim de semana em NY, ver um show no Madison Square Garden, enfim, <span style="font-style: italic;">have a good time</span>. Sem se preocupar com beleza - quem quer ver cidade bonita vai a San Francisco, <span style="font-style: italic;">sorry</span>.<br /><br />A essa altura do texto, acho que a analogia que deu título ao meu texto já faz bastante sentido. São Paulo também tem tudo isso e, no entanto, ainda custa a entender qual é a sua real <span style="font-style: italic;">vocação</span>. De uma vez por todas, temos que parar de nos desculpar diante do resto do mundo por não termos praia. Por não termos baía, floresta, chapada, arara azul, mulher pelada. Como se isso fizesse de SP uma cidade sem nenhum atrativo, fadada a receber apenas turistas de negócios para aquelas feiras e convenções entediantes, irremediavelmente inferiorizada diante da comparação com o Rio de Janeiro e mesmo com outras partes do Brasil.<br /><br />Nada disso. Aqui, pode-se fazer absolutamente tudo que se faz em NY: os bons restaurantes, as compras, as peças e musicais, os museus, os shows, os bares, as baladas, a moda, as tendências, a informação, a hiperconexão com o que se passa aqui e lá fora. É esse o papel que São Paulo possui dentro do riquíssimo mosaico que forma o turismo no Brasil. Com seus problemas, com suas partes indiscutivelmente feias, SP tem muitos predicados para vender, tanto para o resto do país quanto para o mundo. Tem todos os méritos para receber aviões com pessoas que não vieram trabalhar, mas se divertir e <span style="font-style: italic;">curtir </span>a cidade - aliás, já recebe, mas pode receber muito mais. E tudo isso sem precisarmos fingir que somos nova-iorquinos ou europeus, sem precisar inscrever a Oscar Freire na gincana internacional das ruas de luxo. Porque São Paulo tem uma identidade própria, que é só dela: na Paulista, no Centro, nos Jardins, na Vila Madalena, na Mooca, no Bixiga, na Vila Mariana, no Butantã, em outros tantos bairros velhos e novos, sem a necessidade de mais comparações. São Paulo precisa se dar alta do analista, se aceitar e se gostar como é.Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-80095783815298045512011-06-08T20:42:00.000-03:002011-06-08T20:43:08.377-03:00San Francisco x Nova York: meu veredito<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbW8kcH6k1as2OSFgcGJlkROeUs4CwSKf7iUqh_OyVWyAoO6EC9jnDE5-K2S56YO483EkSd9-6RV7YjZjzoV-uioajB4cjdJeWsNTO7voeynihbY_H2emiVoG9rarRb8SF9WYpLA/s1600/nova+york.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 244px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbW8kcH6k1as2OSFgcGJlkROeUs4CwSKf7iUqh_OyVWyAoO6EC9jnDE5-K2S56YO483EkSd9-6RV7YjZjzoV-uioajB4cjdJeWsNTO7voeynihbY_H2emiVoG9rarRb8SF9WYpLA/s400/nova+york.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5615997147639627106" border="0" /></a>Nova York [<span style="font-style: italic;">foto</span>] deve ser a cidade estrangeira mais visitada pelos brasileiros, juntamente com Buenos Aires e Paris. Muita gente não só conhece, como também freqüenta a chamada "capital do mundo" e até posa de <span style="font-style: italic;">insider</span>, cultuando seus lugares favoritos e indicando-os em roteiros para os amigos. Por outro lado, se San Francisco não chega a ser uma ilustre desconhecida para nós, não são poucos os que se contentam com a Flórida e NY e acabam deixando a Califórnia de lado. Para encerrar a série de <span style="font-style: italic;">posts</span> sobre os Estados Unidos, faço aqui meu comparativo entre San Francisco e Nova York, as duas cidades que eu visitei nessa ida aos EUA. No final, vocês verão qual é a minha preferida.<br /><br />1 <span style="font-weight: bold;">BELEZA</span> Começar assim é até covardia. Com uma fórmula de beleza campeã, San Francisco é só encanto e exuberância. Difícil encontrar quem não volte enfeitiçado com as vistas deslumbrantes do <span style="font-style: italic;">cityscape </span>mais bonito dos Estados Unidos. Já Nova York... bem, guardadas as proporções, Nova York é basicamente São Paulo. E tenho dito. [<span style="font-style: italic;">I</span><span style="font-style: italic;">magino que essa declaração vai gerar alguma polêmica, e vou desenvolver melhor o assunto no próximo</span> post]. <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">San Francisco 3 pontos, Nova York 1 ponto.</span><br /><br />2 <span style="font-weight: bold;">COMIDA </span>Come-se muito bem em San Francisco. Há bons restaurantes em vários bairros da cidade, os frutos do mar são excelentes (o que são aqueles caranguejos do Pacífico?) e a diversidade étnica trazida pela imigração também se refletiu à mesa, com influências que vão da Ásia à América Latina, passando por França e Itália. Mas a cena gastronômica de Nova York é ainda maior e mais diversificada. <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">San Francisco 2 pontos, Nova York 3 pontos.</span><br /><br />3 <span style="font-weight: bold;">CULTURA </span>San Francisco é a capital cultural da Califórnia e tem uma oferta bem interessante de museus, como o San Francisco Museum of Modern Art (SFMoMa), o De Young Museum e o Asian Art Museum, além de galerias e espaços menores que têm suas programações paralelas. Mas o equipamento cultural de Nova York é bastante superior, não só em termos de museus, como também de shows e outros eventos. Isso sem falar na cena teatral, que conta com um grande número de espetáculos, tanto dentro como fora do circuito comercial da Broadway. <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">San Francisco 2 pontos, Nova York 3 pontos.</span><br /><br />4 <span style="font-weight: bold;">COMPRAS </span>San Francisco ganha de lavada. A começar pelos preços: a taxa é menor na Califórnia do que no Estado de Nova York. Enquanto em NY você precisa circular por várias partes da cidade, em SF todas as marcas que importam estão convenientemente concentradas em uma mesma área, que você percorre a pé. As lojas de departamentos também estão lá, e são melhores: a Macy's é maior, mais completa, organizada e confortável do que a de NY, onde um enxame de turistas sanguinários faz fila nos pouquíssimos provadores oferecidos. Você gosta de <span style="font-style: italic;">outlets </span>e vai a NY só para bater cartão no Woodbury? Pois a região de SF tem quatro: Gilroy, Vacaville, Napa e Petaluma. Xeque-mate! <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">San Francisco 3 pontos, Nova York 2 pontos.</span><br /><br />5 <span style="font-weight: bold;">TRANSPORTE </span>Tenha a santa paciência: nas duas cidades, é dificílimo conseguir um táxi. Conte até cem, e saia de casa sempre bem antes da hora, especialmente se você fez reserva para o jantar ou está indo para o aeroporto. San Francisco leva ligeira vantagem por ter um sistema de transporte público mais eficiente e fácil de usar - o metrô de Nova York é no mínimo confuso, a começar pela dificuldade em acertar o modo correto de esfregar (sim, você leu certo, <span style="font-style: italic;">esfregar</span>) o bilhete na leitora. Isso sem falar no charme dos bondinhos que são ícones da metrópole californiana. <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">San Francisco 1 ponto, Nova York zero pontos.</span><br /><br />6 <span style="font-weight: bold;">VIDA GAY</span> Os gays formam um mercado poderoso e que movimenta fortunas nos Estados Unidos, não só em roupas e produtos de beleza, mas também em lazer, com direito a uma profusão de <span style="font-style: italic;">circuit parties</span>, cruzeiros e <span style="font-style: italic;">resorts </span>feitos especialmente para eles. Destinos como Fort Lauderdale, Provincetown, Palm Springs e até Puerto Vallarta (México) recebem revoadas de bilus a cada temporada. Se nas férias os americanos curtem uma boa jogação, no dia-a-dia não há muito espaço para farra: a estrutura fixa de bares e clubes é acanhada, e muita gente acaba ficando em casa e se guardando para as festas, que são bem esporádicas. San Francisco ainda tem algum buxixo no Castro; já em Nova York, o choque de ordem feito pela gestão do prefeito Rudolph Giuliani passou um trator sobre a vida noturna em geral, provocando o fechamento de clubes e boates e deixando a cena gay bem fragmentada. <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">San Francisco 1 ponto, Nova York 0 pontos.</span><br /><br />7 <span style="font-weight: bold;">TURMA DA MANU</span> Você também tem uma quedinha por trabalhadores? Não estamos sozinhos, colega: os americanos têm o mesmo fetiche pelos rapazes da manutenção, que eles chamam de <span style="font-style: italic;">blue collar</span>. Em NY, a <span style="font-style: italic;">calentura</span> dos latinos dá o tom, com absoluto destaque para os <span style="font-style: italic;">chulazos </span>da República Dominicana, que vêm a ser os melhores cafuçus já concebidos fora da Bahia. <span style="font-style: italic;">Riquísimos!</span> Já em San Francisco, se chamar alguém para trocar o seu fusível, são grandes as chances de que você seja atendido por um rapaz chamado Kim Ho Pu, e que a chave de fenda dele seja original de Xangai. Nada contra, mas... prefiro Nova York! <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">San Francisco 0 pontos, Nova York 2 pontos.</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">EM SUMA</span> Foi um confronto bastante equilibrado: duas metrópoles com personalidade única, cada uma com estilo e vocação bem diferentes. Nova York é, sem dúvida, uma grande capital, que todos devem conhecer e tem munição para sucessivas visitas. Ali, só morre de tédio quem quer. No entanto, darei meu veredito com base em um componente altamente subjetivo. Existem algumas poucas cidades no mundo que possuem uma luz própria, uma magia especial, que as outras não têm. Incluo nessa lista Barcelona, o Rio de Janeiro... e San Francisco. Ainda que a soma dos pontos não a tivesse favorecido, ela já seria a minha favorita! <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">San Francisco 12 pontos, Nova York 11 pontos. </span>Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-68691481487274825932011-06-02T09:15:00.006-03:002011-06-05T19:09:53.862-03:00Bits and pieces from North America's prettiest town<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_Rmak7zpzAUnKTXu0VzhCTdbrvA7QsmBiItIzRwi4e8Ef0PhyphenhyphenfqcFA-qErcryQwaUG66_bX6KZ1GMMbTacWqTV-qt-O5U367e99K9Eo2s7lzS2UjgIRyZ5QcrkV7Y3tMbH4l2Xg/s1600/san_francisco.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 268px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_Rmak7zpzAUnKTXu0VzhCTdbrvA7QsmBiItIzRwi4e8Ef0PhyphenhyphenfqcFA-qErcryQwaUG66_bX6KZ1GMMbTacWqTV-qt-O5U367e99K9Eo2s7lzS2UjgIRyZ5QcrkV7Y3tMbH4l2Xg/s400/san_francisco.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5613328610669993570" border="0" /></a>Mas afinal, qual a receita da beleza de San Francisco? Pense em uma cidade à beira de uma baía, emoldurada por duas pontes icônicas, com relevo todinho acidentado e arquitetura dominada por casinhas vitorianas fofas, como as da foto acima. A cada esquina, uma ladeira revela novos ângulos, e a baía reaparece ao fundo. Uma geografia deslumbrante. <span style="font-weight: bold;">Para apreciar o cenário, é fundamental subir em um dos </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">cable cars</span><span style="font-weight: bold;"> (bondinhos) que são o símbolo da cidade, e operam 3 linhas que atravessam Downtown. Nas extremidades dos trajetos há fila, mas você pode embarcar e desembarcar em vários pontos durante o percurso.</span> Outras vistas memoráveis, você tem do alto de Twin Peaks, da Coit Tower e de Marin Headlands - uma espécie de mirante que fica do outro lado da Golden Gate Bridge, já fora da cidade. <span style="font-weight: bold;">Falando nessa ponte, que é o principal cartão-postal de San Francisco, uma boa sugestão é alugar uma bicicleta no Fisherman's Wharf e cruzá-la pedalando, num lindo passeio que termina em Sausalito, a cidadezinha charmosa do outro lado da Baía. Muitos também usam a ponte como cenário para um suicídio em grande estilo - uma morte odara!</span> O bairro hippie é Haight-Ashbury, mas o clima paz-e-amor reina em todo lugar: em San Francisco tudo é orgânico, ecológico, reciclado, sustentável, decafeinado, biodegradável, não-poluente, democrata, enfim, baixos teores. <span style="font-weight: bold;">Nesse contexto, o carro-sensação da cidade só poderia ser o Toyota Prius: feio como um </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">mango-sucking dog</span><span style="font-weight: bold;"> (cão chupando manga, em inglês), mas totalmente híbrido, sendo que o rodar com energia elétrica é macio e silencioso, como uma gueixa servil. </span>A cidade tem um conjunto bem interessante de museus, com destaque para o SFMoMa (de arte moderna, pouco menor que o irmão de Nova York), o Asian Art Museum, o De Young Museum e a California Academy of Sciences, sendo que os dois últimos estão instalados dentro do Golden Gate Park. <span style="font-weight: bold;">Esse belo parque, que só perde em tamanho para o Central Park de NY, tem várias atrações que valem a visita, como </span><span style="font-weight: bold;">os Japanese Tea Gardens, perfeitos para um chá no meio da tarde, e </span><span style="font-weight: bold;">o Conservatório das Flores, onde a exposição Wicked Plants ("plantas do mal"; até 30/10) incluiu até mesmo a pavorosa </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">Euphorbia milli</span><span style="font-weight: bold;">, nossa popular coroa-de-cristo.</span> Há também várias praças e parques menores espalhados pela cidade - o Dolores Park é o preferido das bees para curtir um solzinho no domingo à tarde, esparramadas na grama, quando o tempo ajuda. <span style="font-weight: bold;">Na região da Union Square ficam todas as compras que importam, das grandes lojas de departamento às melhores grifes, incluindo um prático <span style="font-style: italic;">shopping center</span>, o Westfield, que tem lojas-âncora como Nordstrom e Bloomingdale's.</span> Aliás, essa é a melhor região da cidade para você se hospedar, não só pela fartura de compras, mas também pela proximidade do posto de informação turística, pelo farto transporte e pelo fácil acesso ao Fisherman's Wharf e ao Castro. <span style="font-weight: bold;">Os são-franciscanos torcem o nariz e ignoram o Fisherman's Wharf, área do porto tomada por lojas de </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">souvenirs </span><span style="font-weight: bold;">e restaurantes de frutos do mar, frequentados basicamente por turistas. O Pier 39, um deque de madeira que enfileira bares temáticos como o Hard Rock Cafe, resume bem o espírito do lugar.</span> Mas ali também há alguns tesouros. Um deles é o Scoma's, restaurante escondidinho atrás do Pier 43, que serve frutos do mar fresquíssimos desde 1965. E eles não brincam em serviço. Peça <span style="font-style: italic;">Dungeness crabcakes</span> de entrada e prossiga com os raviólis de lagosta ou caranguejo - você ainda vai me agradecer por isso. <span style="font-weight: bold;">Outro é a </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">flagship store</span><span style="font-weight: bold;"> da Boudin, padaria que é uma instituição local, com pé-direito altíssimo, café, bistrô, um empório que vende livros e utensílios de cozinha e até um museu.</span> Aos sábados, um programa imperdível para quem gosta de comer bem é ir até o Ferry Building Marketplace, na outra extremidade do porto, em direção à Bay Bridge. Do lado de fora, o Farmer's Market tem várias barraquinhas que vendem de <span style="font-style: italic;">bagels </span>de salmão defumado a pratos mexicanos. Dentro do prédio, difícil é escolher entre os quitutes vendidos a peso pela San Francisco Fish Company (não perca o salpicão de caranguejo), os pães finos da Acme Bread, os frios italianos da Boccalone, os laticínios da Cowgirl Creameries, a cozinha asiática descomplicada do Delica e os doces da Miette (gente, o que foi aquela <span style="font-style: italic;">panna cotta</span>?). <span style="font-weight: bold;">Alguns bairros têm núcleos gastronômicos bem específicos: North Beach é o epicentro da imigração italiana, Mission é a meca dos </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">burritos </span><span style="font-weight: bold;">e comidinhas latinas, e Chinatown é o lugar para comer </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">dim sum</span><span style="font-weight: bold;">, <span style="font-style: italic;">noodles </span>e afins.</span> <span style="font-weight: bold;">Outros são mais ecléticos.</span> Em Pacific Heights, perto do cruzamento da Fillmore com a California, o latino-contemporâneo Fresca rendeu o melhor jantar da viagem; do outro lado da rua, a <span style="font-style: italic;">pâtisserie </span>Citizen Cake tem sete sabores de <span style="font-style: italic;">petit gâteau</span>, entre outras delícias. <span style="font-weight: bold;">Na região de Downtown/Union Square, faça uma pausa das compras e almoce no ótimo italiano Kuleto's, ou perca-se entre as mais de trinta versões de <span style="font-style: italic;">cheesecake</span> da bombada Cheesecake Factory, no oitavo andar da Macy's.</span> No buxixo gay do Castro, dicas certeiras são o contemporâneo 2223, os peixes do Catch, o café e os hambúrgueres do simpático Cafe Flore (<span style="font-style: italic;">meeting point</span> das bibas a qualquer hora), a <span style="font-style: italic;">comfort food</span> do Home (que funciona até meia-noite, uma raridade) e os deliciosos crepes e massas do Squat and Gobble (vá no domingo de manhã, pegue uma mesa externa e assista de camarote ao vaivém da homarada). <span style="font-weight: bold;">Aliás, no Castro, os endereços que interessam, tanto de dia quanto à noite, estão concentrados em duas áreas: no trecho da Market entre as ruas Castro e Noe, e em torno da esquina da Castro com a 18th (é só pensar no cruzamento como um sinal de "mais").</span> Isso sim é globalização: você sai na noite, conhece caras de países como Laos, e descobre que eles têm muito mais em comum conosco do que você imagina (e não estou falando da camisetinha óbvia da Abercrombie). <span style="font-weight: bold;">São bem esporádicas as festas para dançar (como a Fresh, que acontece mensalmente no Ruby Skye, clube hétero eletrônico que tem um quê de bufê de casamento).</span> <span style="font-weight: bold;">A balada mais comum são bares, alguns com telão exibindo videoclipes pop, caso do Badlands, o mais fervido do pedaço. </span>Tanto é que a música do momento na noite de San Francisco é "On The Floor", a releitura genial (NOT) de Jennifer Lopez para "Chorando Se Foi", do Kaoma. (Mas o som que marcou a minha viagem foi "S&M", da Rihanna, remixado pelo craque Dave Aude). <span style="font-weight: bold;">Se, como eu, você prefere música eletrônica de verdade, confira a programação dos clubes Ruby Skye, Mezzanine e Mighty no site Resident Advisor - eu tive a sorte de dançar com o top Steve Lawler, no Ruby Skye.</span> "Mítico" e "lendário" são algumas das palavras que já foram usadas para descrever o Endup, <span style="font-style: italic;">afterhours </span>histórico que reunia todas as tribos, em maratonas eletrônicas que avançavam pelas manhãs de sábado. Mas a molecada de 20 anos que hoje faz fila na porta não me apeteceu nadinha. <span style="font-weight: bold;">Os endereços mais sexuais da cidade estão no SoMa (região ao </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">SOuth</span><span style="font-weight: bold;"> da rua MArket): a Mr. S, megastore </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">leather </span><span style="font-weight: bold;">e verdadeiro templo do consumo para quem tem <span style="font-style: italic;">qualquer </span>tipo de fetiche de A a Z, o bar Powerhouse e o sex club Blowbuddies.</span> Mas o melhor <span style="font-style: italic;">basfond</span>, você encontra mesmo é na Steamworks, supersauna que fica na cidade vizinha de Berkeley (dá para ir com o trem BART) e é uma espécie de "269 do futuro". <span style="font-weight: bold;">San Francisco foi o paraíso da liberação sexual, das experimentações, das </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">dorgas</span><span style="font-weight: bold;">... e o saldo disso é que hoje em dia só tem gente DOIDA na rua. Nunca vi tanta gente desvairada, surtada, falando sozinha, gargalhando, com tiques nervosos, dos mendigos até a classe média. Chega a ser hilário.</span> O lado menos engraçado é que a taxa de contaminação pelo vírus HIV entre a comunidade homossexual está na proporção de 1 para 4, uma das mais altas do país. <span style="font-weight: bold;">O que talvez ajude a explicar por que San Francisco teve tanta gente </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">living on the edge</span><span style="font-weight: bold;">, se jogando como se não houvesse amanhã, é o fato de que a própria cidade vive sob a constante ameaça de um grande terremoto, que pode simplesmente destruir tudo.</span> Se a cidade não tiver sumido do mapa (ou, pior, sido reconstruída em estilo neoclássico paulistano!), estou até pensando em pedir para jogarem um quarto das minhas cinzas do alto de Twin Peaks (os outros três quartos já têm destino certo desde sempre: Ibirapuera, Arpoador e Plaza San Martín). Eu amo San Francisco.Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-37206775109349639102011-05-30T10:20:00.000-03:002011-05-30T10:20:00.507-03:00Sobre a tal "mítica gay" de San Francisco<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9xq7ek9V4yo6Iu_Isi5PiSsQL9p1uT01Hw2OxYa-9tdnrV-_0xJChKCcCnty4CXDDKV1pKHi-L0S5UZ6j0QbHq-fRzrWhH9rZUubMaUWdw6N7-OVrvkatlPBNf9-qElb6UBLY8g/s1600/castro.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 249px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9xq7ek9V4yo6Iu_Isi5PiSsQL9p1uT01Hw2OxYa-9tdnrV-_0xJChKCcCnty4CXDDKV1pKHi-L0S5UZ6j0QbHq-fRzrWhH9rZUubMaUWdw6N7-OVrvkatlPBNf9-qElb6UBLY8g/s400/castro.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5611115751924640946" border="0" /></a>Já recebi dois comentários de leitores dizendo que tinham vontade de conhecer San Francisco por conta de sua "mítica gay" ou "referência gay", para fugir da cacofonia. Eu quis voltar - e passar tanto tempo lá - por conta da sua beleza ímpar, da geografia de desníveis dramáticos que encerram vistas maravilhosas. Mas é claro que também estava nos meus planos dar uma boa conferida na cena gay, coisa que nem passava pela minha cabeça em 1995. Não faltavam razões para criar expectativa: além de um pólo de vanguarda na pavimentação dos direitos civis LGBT no país (vide a história do ativista Harvey Milk, que rendeu aquele filme belíssimo), a cidade é sede de boa parte das produtoras de filme pornô gay que importam. Isso me fazia imaginar uma cena agitadíssima, de formato comparável ao das capitais européias, com doses cavalares de diversão, além de uma aura de fetiche, com homens gostosos esbanjando atitude e safadeza.<br /><br />Vamos por partes: a parte da vanguarda é mesmo tudo o que imaginei e mais um pouco. A inserção social dos gays e lésbicas é total e irrestrita. Além de ter todas as lojas e serviços voltados ao nosso gosto, de roupas a sex shops, Castro, o "bairro gay", tem um espírito e um sentido de comunidade fantástico, do qual nós não temos sequer dimensão. E os gays não se encerram nesse gueto: moram, frequentam e ocupam todas as partes da cidade com a mesma desenvoltura e igualdade de tratamento, com direito a andar de mãos dadas e trocar selinhos de despedida sem o menor constrangimento. Em uma palavra, <span style="font-style: italic;">cidadania</span>. Nesse sentido, San Francisco é sim um paraíso gay - e por isso continua recebendo a imigração de bilus de outros países, e mesmo de estados americanos menos arejados, especialmente os do centro-sul.<br /><br />Por outro lado, em se tratando de ferveção... quem desembarcar ali com expectativas parecidas com as minhas pode cair do cavalo. As perspectivas de diversão gay estão mais para Porto Alegre do que para Londres. Para começar, não há clubes gays propriamente ditos, onde se possa dançar a noite toda, mas apenas umas poucas festas bem esporádicas. No dia-a-dia, o são-franciscano se relaciona sobretudo em bares. Em alguns deles, como o The Cafe e o Badlands, a música é mais alta e há até uma pistinha, mas boa parte das pessoas prefere apenas beber e conversar, e os que dançam arriscam passos tão desajeitados que a gente se sente num daqueles seriados da Sony dos anos 80, em que os figurantes pareciam Lango-Langos na pista de dança.<br /><br />Leva algum tempo para assimilarmos a diferença de horários: tudo começa e termina muito mais cedo. Os bares abrem já no fim da tarde, e o movimento acontece em dois turnos. No primeiro, até umas 21h, a frequência é basicamente de moradores da cidade. Aí acontece uma espécie de "troca da guarda": os nativos vão embora para jantar em casa e, depois das 22h, começam a chegar os turistas, além dos moradores que já comeram e querem ir para o segundo <span style="font-style: italic;">round</span>. À 1h15 rola a <span style="font-style: italic;">last call</span> de bebidas e, à 1h30 em ponto, eles tiram o som da tomada, acendem as luzes e só não começam a jogar Sapólio no chão porque esse produto não existe por lá. Tchau amiguinhos, até amanhã.<br /><br />Mas é na atitude geral que os brasileiros enfrentam o maior choque cultural. As pessoas mal se olham e dificilmente abordam umas às outras - se você gostou do cara, tome a iniciativa ou espere sentado. Se a conversa não fluir, não jogue a culpa no seu charme - o clima é meio travado mesmo, todos agem como se fossem garotos de 15 anos que estão entrando de penetras em uma festa de alguém que não conhecem. Se a conversa fluir e ambos se gostarem, é só chegar perto e partir pro abraço, certo? Errado. Em 95% dos casos, os americanos não se tocam em público, nem mesmo dentro de um bar gay - você vai ter que arrastar o cara para fora dali. Se você vir um casal se beijando, pode apostar que os caras são estrangeiros. E se você for um desses e beijar ali dentro, saiba que não poderá ficar com mais ninguém, pois essa atitude micareteira dos brasileiros é queimação de filme na certa (por isso, escolha muito bem quem terá a honra de receber o seu selinho do dia! depois, você terá que esperar pelo menos 24 horas!).<br /><br />A coisa só rola um pouco mais solta no Powerhouse, o único bar que tem um <span style="font-style: italic;">back room</span>. Não se trata de um quarto escuro, mas um aposento claro, nos fundos da casa e separado por uma porta, onde as pessoas vão para, digamos, se bolinar. Enquanto os demais bares apostam em música pop de videoclipe (sim, você ouviu, videoclipe, com telão e tudo! igualzinho ao TV Bar de Copacabana! no próximo <span style="font-style: italic;">post </span>eu contarei qual foi o "hit" da viagem!), o som no Powerhouse é um pouco mais sexy, com temperinho <span style="font-style: italic;">progressive</span>, que ajuda a criar uma atmosfera menos alegrinha e ligeiramente mais dark. Mesmo assim, à 1h30 é hora de ir para casa - ou então, se gozar é realmente preciso, fazer a xepa no Blow Buddies, um sex club que tem uma estrutura incrível (foi todinho concebido para amantes do sexo oral, vejam só que maravilha!), mas... nunca fica cheio.<br /><br />Não discuto que há várias maneiras saudáveis e gratificantes de levar uma vida gay que não passam por dentro de uma boate. Eu mesmo me basto bem com uma ida por mês. Dito isso, considerando a tal mítica que envolve a cidade, achei a vida noturna de San Francisco surpreendentemente provinciana. A coisa só muda de figura (para melhor) durante sete dias do ano, na semana que termina no último domingo de setembro. É quando acontece a célebre Folsom Street Fair, que nasceu como um encontro dos amantes da cultura <span style="font-style: italic;">leather</span> e passou a mobilizar toda a cena gay. A cidade fica em polvorosa, o clima ajuda (por incrível que pareça, é nessa época que se registram as maiores temperaturas, e não no verão, num fenômeno conhecido como <span style="font-style: italic;">indian summer</span>) e pipocam festas e fervos, embalados pelo espírito de confraternização trazido pelo pessoal de fora. Se você sonha com uma experiência mais picante, anote essa data na agenda. Fora disso, renda-se aos encantos infinitos da cidade (infinitos!), mas não vá com muita sede ao pote. São Paulo tem uma noite bem mais agitada.Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-89898943734399651142011-05-27T23:49:00.006-03:002011-06-06T20:43:56.031-03:00The Society: para moços de fino trato<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPMfByg904Dnl1UYFZtUape52II_PyJPhO56MWdcz7vXj_x9k9b79pTaknZU3o-ury9_oj0Z_wfGT2xrCNwv4hvNYhn4c0NgsyWLNwCg7svmWl9CbJb_G_szQlRGwLyWbmSetF9g/s1600/the-society.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 134px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPMfByg904Dnl1UYFZtUape52II_PyJPhO56MWdcz7vXj_x9k9b79pTaknZU3o-ury9_oj0Z_wfGT2xrCNwv4hvNYhn4c0NgsyWLNwCg7svmWl9CbJb_G_szQlRGwLyWbmSetF9g/s200/the-society.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5611575389013589122" border="0" /></a>O empresário que pretende trabalhar com noite precisa conhecer bem seu público e ficar sempre ligado nos seus desejos, que mudam. Deve estar atento para detectar lacunas e nichos ainda não explorados, e transformá-los em oportunidades. E, acima de tudo, não pode se acomodar, sobretudo se estamos falando de uma cidade ávida por novidades como São Paulo. Enquanto em San Francisco os lugares que acontecem na cena gay já existiam há 15 anos, e provavelmente viverão outros quinze [<span style="font-style: italic;">vou falar sobre esse assunto no próximo</span> post<span style="font-style: italic;">, que continuará minha série sobre os Estados Unidos</span>], aqui é preciso se esforçar para manter o interesse do cliente, cuja fidelidade muitas vezes só vai até a página três.<br /><br />Dono de um tino empresarial admirável, André Almada não veio ao mundo a passeio. A The Week fez dele o principal nome da noite gay do país e virou uma marca de projeção internacional. Sete anos depois, a joia está cada vez mais lapidada, e a lotação das duas pistas do clube em um sábado comum é a maior prova de seu sucesso. No entanto, depois de tanto tempo, certa parte da freguesia - o gay bonito e de melhor poder aquisitivo, que sempre foi o público-alvo da casa - já vinha dando sinais de cansaço: alguns passaram a aparecer somente nas festas especiais. Existia uma demanda por um formato de diversão menos <span style="font-style: italic;">hardcore </span>e mais intimista, como eu já havia comentado <a href="http://introspecthive.blogspot.com/2010/05/mais-cafe-e-menos-red-bull.html">aqui</a>. Além disso, para quem busca a sensação de exclusividade, a chegada de pessoas sem o mesmo pedigree, fruto das listas de desconto que passaram a formar longas filas na entrada lateral antes da 1 da manhã, foi um balde de água fria. Esperto, e sabendo que precisava evitar a perda de sua melhor clientela, Almada concebeu um novo clube, uma alternativa para aqueles que estavam cansados da The Week.<br /><br />A nova empreitada atende pelo nome de The Society e veio ao mundo nesta semana, em três noites de inauguração<span style="font-style: italic;"></span>. A localização é estratégica, na esquina da Augusta com a Marquês de Paranaguá, a uma quadra da Frei Caneca. O casarão, tombado, tem dois andares e o projeto de decoração, assinado por Sig Bergamin, recria "a residência de um aristocrata boêmio do século XIX, que recebe os amigos para festas", segundo li por aí. No térreo fica a pista, com o DJ tocando em um palco emoldurado por luzinhas amarelas de camarim, numa referência meio Moulin Rouge. Não é permitido ficar sem camisa, nem mesmo usar regata: a proposta aqui é outra, sem a jogação pesada do galpão da Lapa. Uma escadaria leva ao piso superior, um lounge com muitos tapetes, quadros, cortinas de veludo e móveis de época. Como sempre, o capricho nos detalhes é visível - a cereja do bolo é o aposento onde ficam os caixas, lindamente decorado como um escritório-biblioteca. No terraço que serve de fumódromo, uma bandeja de prata com bem-casados não destoaria em nada do estilo, que tem algo de bufê. Até os barmen-cafuçus do staff ganharam borrifos de nobreza, com camisa e gravata.<br /><br />Na minha opinião, é justamente no andar de cima que está o maior potencial da casa. Nossa cena tem diversas boates que chovem no molhado, com a mesma proposta de sempre, mas não tinha bons lugares para sentar e conversar. O finado Café com Vodka foi uma iniciativa válida, mas no Sonique as pessoas ficavam em pé o tempo todo e o ambiente, claro e com concreto aparente, não propiciava o aconchego necessário. No The Society, o conforto e a luz baixa do lounge convidam a uma noite regada a <span style="font-style: italic;">bons drink</span>, sempre sem desarrumar o penteado, suar a camisa ou perder o celular. Os preços - R$8 por um suco e R$22 por um drinque com aguardente nacional - filtram um público mais sofisticado, assim como a decisão de não aproveitar o sistema de cartões White e Black da TW.<br /><br />Num primeiro momento, quando voltei ao Brasil e os amigos me contaram da novidade, pensei que a ideia era revidar o ataque do Lions, que vinha roubando parte dos polo boys da TW. Depois de conhecer o novo clube, entendo que são propostas diferentes, ainda que possam atingir o mesmo público. Ambas as casas têm algumas referências estéticas parecidas, mas o Lions é mais clube e o The Society, mais lounge. A imponência rococó da casa de André Almada contrasta com o clima mais informal da varandona do Lions. Os cardápios sonoros também não se confundem, já que a pegada do Lions é mais eletrônica, enquanto o próprio Almada me contou que seus DJs não vão fugir do padrão usual na nova casa. Por fim, o The Society funcionará <strike>na quinta,</strike> na sexta e no domingo, dando ao público inúmeras possibilidades - inclusive a de também continuar frequentando o Lions e a The Week.<br /><br />[<span style="font-weight: bold;">Foto:</span> <span style="font-style: italic;">Alê Macedo/Vipado - Ayltom, se você quiser eu removo a imagem do blog, ok?</span>]Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-64732119807925703212011-05-26T08:18:00.004-03:002011-05-26T11:11:29.125-03:00Sobe-e-desce: american life<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFEDVyjmeKOJnQk4Sw9RqBu0iAChEoKjW6LssAW-Qos5YzPTFLp6rr_vIwITe6pXXupsYUAsIETbjXYj0rNNxevSyNKBD5H_prwg54XxKSRDpWkjPHT5ZHJMkE2faxDrrOTasiDQ/s1600/220px-Uncle_Sam_%2528pointing_finger%2529.jpg"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 149px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFEDVyjmeKOJnQk4Sw9RqBu0iAChEoKjW6LssAW-Qos5YzPTFLp6rr_vIwITe6pXXupsYUAsIETbjXYj0rNNxevSyNKBD5H_prwg54XxKSRDpWkjPHT5ZHJMkE2faxDrrOTasiDQ/s200/220px-Uncle_Sam_%2528pointing_finger%2529.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5610707446442468834" border="0" /></a><span style="font-weight: bold;">AWESOME (UAU!)</span> É só você botar o pezinho na faixa de pedestres que os carros magicamente param para você atravessar a rua (dá até vontade de fazer um aceno de miss em agradecimento). <span style="font-weight: bold;">Os restaurantes servem água de graça e à vontade.</span> Walgreens e similares, que se autodenominam <span style="font-style: italic;">pharmacy</span> mas vendem <span style="font-style: italic;">diumtudo</span>, de Red Bull a máscara para dormir, em gôndolas que vão até o teto. <span style="font-weight: bold;">Liquidação é coisa séria, com descontos de verdade, 50%, 70%, 90%, não essa nossa palhaçada de primeiro dobrar o preço e depois tirar 15%.</span> A fila é respeitada, e quem tenta furá-la não é posto para dentro, e sim para fora do lugar. <span style="font-weight: bold;">Eles tem acesso a todos os </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">gadgets </span><span style="font-weight: bold;">que importam muito antes da gente. E por muito menos. E também a suplementos incríveis para a academia.</span> O serviço é excelente, com vendedores bem treinados, atenciosos e que conhecem muito bem aquilo que vendem. <span style="font-weight: bold;">Sai barato passar férias no Caribe, ou em paraísos tropicais da América Central. Mesmo a Europa é mais possível do que para nós.</span> Agora entendi por que os banheiros dos restaurantes de Ipanema têm avisos em inglês para não jogar papel no vaso: nos States, a descarga é tão poderosa que você pode desovar um cadáver por ela. <span style="font-weight: bold;">E pode ligar pra celular de outras cidades ou estados sem esse papo de DDD ser carésimo. Aliás, pra quem estiver indo, <span style="font-style: italic;">fikadika</span>: leve seu aparelho do Brasil e coloque nele um chip da T-Mobile (a única operadora compatível com a nossa tecnologia). Por módicos US$30, você tem 1500 minutos para falar com o país inteiro.</span> E o mais absolutamente sensacional: você pode simplesmente voltar à loja, dizer "tó, não curti o produto" e pegar seu dinheiro de volta. Sem perguntas, sem cara feia, sem enrolação. É seu direito como consumidor.<span style="font-weight: bold;"><br /><br /></span><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsxoY_QMQwbxmJ1wezLMX4aqY6woeAGx5FlvU4Hv8nFIKPk6Iw18DFiOsre9LoU3Td1iw6L-krTgsZt4KLfiA7vhsiYAjBRWrThYZYyKV58h1FaPzEogkRQyH3y__dR_84hk7jfg/s1600/tio-sam+falido.jpg"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 177px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsxoY_QMQwbxmJ1wezLMX4aqY6woeAGx5FlvU4Hv8nFIKPk6Iw18DFiOsre9LoU3Td1iw6L-krTgsZt4KLfiA7vhsiYAjBRWrThYZYyKV58h1FaPzEogkRQyH3y__dR_84hk7jfg/s200/tio-sam+falido.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5610707091241491986" border="0" /></a><span style="font-weight: bold;">AWFUL (UÓ!)</span> A maldição anglo-saxônica: não importa onde você coma, as opções de acompanhamento se limitam a batata (frita, assada ou purê) e legumes (tudo no vapor, sem manteiga, sem tempero algum). <span style="font-weight: bold;">Gelo, </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">muito</span><span style="font-weight: bold;"> gelo. O bartender enche seu copo com gelo até a boca, completa o pouco espaço disponível com 10ml de bebida, e você ainda tem que deixar uma gorjeta a cada novo drinque pedido.</span> E o pior que os drinques são hor-rí-veis! A pedida mais segura (e também a preferência de 9 entre 10 bilus) é a <span style="font-style: italic;">vodka cranberry</span>. Que tem gosto de remédio, pois eles não usam suco, e sim um xarope sinistro que sai de uma mangueira do balcão. Se você arriscar variar, pode ser pior: periga terminar com um copo de Pato Purific na mão. O primeiro brasileiro que ensiná-los a amassar fruta com açúcar e fazer caipiroska vai ficar milionário. <span style="font-weight: bold;">Os horários de jantar são bizarros: começam às 17h30, e tem lugar que às 21h30 já está fechado. E estamos falando de cidades grandes, como San Francisco. E se faltar pouco para fechar, eles simplesmente recusam a sua entrada.</span> <span>A televisão deles influencia o resto do mundo - só que num esquema "Marcia Goldschmidt feelings". Dia desses, o debate era sobre uma menina de 8 anos que recebia aplicações de botox.</span> <span style="font-weight: bold;">A paranoia com terrorismo nos aeroportos submete todo mundo a procedimentos policialescos: tirar agasalhos, ficar descalço, colher digitais, ser fotografado em vários ângulos, ter que responder "what brings you here?" mesmo se você já tem o visto, não poder levar líquidos na sacola de mão...</span> A vida noturna é caída. Em geral o que existe são bares, e tudo fecha à 1h30 - são poucos os lugares que têm licença para funcionar de madrugada, como clubes propriamente ditos. Quinze minutos antes, eles anunciam a <span style="font-style: italic;">last call for alcohol</span>, última chance para você pedir seu trago. Mesmo num clube que continue aberto, não se vende bebida depois desse horário, e seguranças ficam abordando você na pista para tomar o copo da sua mão (porque você não pode nem acabar de consumir o que foi comprou antes). <span style="font-weight: bold;">Os americanos não têm contato físico: não se abraçam, não se beijam, não se tocam. Num bar ou balada, você não pode nem relar o dedo em ninguém, que eles acham <span style="font-style: italic;">awkward</span>. E na hora da cama, <span style="font-style: italic;">jesoos!</span> Dificilmente chegam aos pés dos latinos, porque não sabem nem mesmo beijar, que é o mais básico.</span> <span style="font-style: italic;">Last but not least</span>, o pior de tudo: não passa uma porra de um táxi livre quando você precisa! Tanto em SF como em NY, eu e minha mãe - que anda de bengala - chegávamos a ficar 20, 30, 40 minutos nos descabelando na rua. E era assim o tempo todo e em qualquer lugar. Que saudades de Copacabana! Fora de cogitação chamar um radiotáxi (você liga e eles não mandam ninguém) ou mesmo alugar carro (em ambas as cidades, não há lugar para estacionar e o trânsito é crítico). <span style="font-style: italic;">Temço</span>.Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com20tag:blogger.com,1999:blog-13031284.post-78256133525339352762011-05-25T12:34:00.003-03:002011-05-25T15:11:25.694-03:00Fazendo as pazes com o Tio Sam<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBrzzsbpBGjlujzu7eTappTjU6VtPF_DVJsqAlsfh5I7vcDlj7B-kKL6Ap7HNdhgeqvv9NFmfzHkNwWjYqhK82WtLeupkiVV4AaUW91IkxEGxtcGkK3hF85TJN0Jrd1bI1436PhQ/s1600/thi+castro.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBrzzsbpBGjlujzu7eTappTjU6VtPF_DVJsqAlsfh5I7vcDlj7B-kKL6Ap7HNdhgeqvv9NFmfzHkNwWjYqhK82WtLeupkiVV4AaUW91IkxEGxtcGkK3hF85TJN0Jrd1bI1436PhQ/s400/thi+castro.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5610676621234149906" border="0" /></a>Voltei aos Estados Unidos depois de um jejum de 16 anos. Minha visita anterior tinha sido em julho de 1995, auge da euforia da classe média com a paridade cambial trazida pelo Plano Real. Eu e minha mãe fizemos uma excursão de 14 dias pela Califórnia, depois passamos uma semana em Las Vegas, outra em Nova York, pegamos um avião para Rhode Island, minúsculo estado em que parte da família calabresa da minha avó fixou residência, e fomos conhecer Boston. Eu estava no terceiro colegial, tinha 17 anos, nenhuma sexualidade, e essa foi até hoje a viagem mais marcante da minha vida. Depois eu conheceria outros lugares até mais interessantes, mas essa foi a viagem mais esperada, mais sonhada, e por isso vivida mais intensamente. Costumo dizer que ela durou quase um ano, porque começou nos quatro meses antecedentes e continuou por mais uns três meses depois que voltamos para o Brasil.<br /><br />No ano seguinte, descobri a Europa, e então passei a ir para lá nas oportunidades seguintes que tive para fazer viagens maiores ao Exterior (considerando que Buenos Aires já é meio que um prolongamento da minha casa, junto com São Paulo e Rio). Eu vi no Velho Mundo uma riqueza de histórias, culinárias, arquiteturas, pessoas e mentalidades que eu não havia encontrado nos EUA, onde todos pareciam viver olhando apenas o próprio umbigo, sem o menor interesse por outras culturas, mantendo com os outros povos uma relação que oscilava entre o desinteresse e o puro desprezo. Pelo menos era isso que eu sentia.<br /><br />Desta vez, já mais maduro, pude ver os Estados Unidos com outros olhos. Percebi que a minha percepção de um país raso e culturalmente pobre tinha muito a ver com o meu próprio filtro. Afinal, aos 17 anos eu mesmo estava muito mais preocupado em colecionar moletons e camisetas do Hard Rock Cafe e Planet Hollywood do que qualquer outra coisa. Claro que me esbaldei novamente nas compras, e continuo achando que o consumo é um dos, digamos, três principais atrativos que os Estados Unidos oferecem aos visitantes. Mas consegui ir um pouco além nas minhas observações sobre o país e os norte-americanos. Difícil fazer um julgamento sobre um povo tão numeroso e heterogêneo. Nem todos são <span style="font-style: italic;">narrow-minded</span>, existe gente bacana sim, e bolsões de <span style="font-style: italic;">rednecks</span> reacionários convivem com verdadeiros oásis de pensamento liberal e vanguardista, como a Califórnia. Além disso, em 2011 o país me pareceu muito mais multicultural do que em 1995; se os imigrantes muitas vezes ainda permanecem às margens da sociedade, nos subempregos que os norte-americanos não acham dignos, eles já deixam marcas bem maiores na própria identidade do país, influenciando até mesmo o processo eleitoral.<br /><br />Só posso dizer que foi uma viagem deliciosa, e que serviu para eu fazer as pazes com aquele país. Minha primeira escolha para morar no Exterior continua sendo a Espanha, mas vi reacender meu entusiasmo e interesse pelos States, especialmente por San Francisco, que já era uma das minhas cinco cidades favoritas no mundo e continua apaixonante, mágica, simplesmente única. Desta vez, comecei minha viagem por ela e fiquei onze dias inteiros, para poder matar a vontade e aprofundar um pouco o olhar rápido da excursão. Depois, passei uma semana em Nova York, e ainda peguei o trem para um reencontro emocionante com a parentada americana em Rhode Island. Nos próximos <span style="font-style: italic;">posts</span> (o seguinte vai ao ar amanhã), vou registrar algumas impressões que colhi dos Estados Unidos, naquele estilo que me é peculiar e faz alguns de vocês continuarem aparecendo aqui de vez em quando :)Thiago Lascohttp://www.blogger.com/profile/09881540264875970475noreply@blogger.com16