segunda-feira, 21 de novembro de 2005

Por que "introspective" ?

Acho que a resposta mais simples seria dizer apenas que eu sempre fui um cara muito introspectivo. Fui uma criança retraída, que não gostava muito de interagir com as outras e preferia a convivência com os adultos. Mas isso não significa que eu tenha tido essa convivência o tempo todo, pois os adultos me podavam, acreditando que para o meu próprio bem eu deveria me divertir com outras crianças e não com eles.

Depois de perceber que as crianças não me interessavam muito, logo percebi que gostava de estar sozinho, ocupado com os desenhos que desde pequeno eu fazia, e depois com os livros e com os discos. Fui construindo meu próprio mundo, e passei a me divertir nele, e a olhar o mundo exterior sempre através dele. Até ganhei dos meus pais um livrinho chamado O Menino Que Espiava Pra Dentro, justamente por esse lance de eu viver olhando pra dentro, no meu próprio mundo.

Com a adolescência, eu senti a necessidade de quebrar a casca do ovo e fazer amigos, interagir, pertencer a um grupo, curtir todos aqueles novos estímulos que a idade trazia e que não poderiam ser vivenciados individualmente. E então eu me tornei um ser mais sociável. Mas nunca deixei de ser introspectivo, e de enxergar o mundo do meu jeito todo peculiar.

Esse jeito introspectivo significa que, até hoje, quando as coisas estão chatas, eu me refugio no meu mundo interior, e volto a olhar pra dentro. E, mesmo quando as coisas não estão chatas, eu sempre vivo a realidade da minha maneira, pintando a vida com as minhas próprias cores. Quem está de fora não entende essa minha viagem interior. Normalmente, sempre pareço não estar curtindo as coisas, ficando quietinho na minha enquanto as pessoas estão animadas, mas na verdade eu estou vivendo tudo muito intensamente, só que da minha maneira. Eu posso estar quieto mas estou sentindo tudo, e estou gravando cada momento na minha cabeça para reviver depois, com tanta ou mais intensidade.

Aos olhos dos outros, se for medida apenas em atos e atitudes, minha trajetória de vida pode parecer meio parada e desinteressante, mas se você for ver pelos sentimentos, ela é muito intensa, muito rica. Viver intensamente, para alguns, é fazer; para mim, é sentir.

Nesse meu sentir, a música tem um papel importantíssimo. Quando eu sinto e gravo aquilo que estou vivendo, entram também as músicas que estão tocando no momento, e quando eu as escuto depois eu revivo toda a experiência, qualquer que ela seja. Eu me emociono muito com a música. Lembro de coisas (boas e ruins) que vivi, lembro de fases passadas, lembro dos que estão aqui e dos que já se foram, revivo encontros, festas, viagens, verões. Com 26 anos eu já sou meio apegado ao passado, acho que por influência da minha mãe canceriana. Tento não viver andando de costas, só curtindo as coisas quando já passaram por mim e ficaram pra trás, mas não consigo deixar de ser meio saudodista. E cultivo um pouco a melancolia, ela também faz parte de mim. Eu tenho meus momentos alegres, mas acho que a tristeza é tão importante quanto a alegria, e gosto muito do contato com meus próprios sentimentos que a melancolia traz.

Eu devo parecer um cara muito triste e sozinho. Mas, no fundo, estou só tentando ser feliz, como todo mundo, só que da minha maneira. Mesmo quando estou triste.

PS - Ah sim, Introspective é também o título do álbum de 1988 da dupla Pet Shop Boys, cujo som eu sempre curti e tem muito a ver comigo.

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