quarta-feira, 7 de setembro de 2005

Já é, já foi

Vontade de se esbaldar onde tudo pode
Um 0300 e o caminho está aberto
Uma carona e dez estações de metrô
Retirantes, sacoleiros, plataformas, formigueiros
Todos errantes - mas aqui o destino é certo
O piquenique posto de lado, abandonado
A transparência do celofane e a textura felpuda da lã
Cenas datadas e legendas amareladas
E o corpo sólido gingando pela madrugada
Antes tarde do que nunca, um cheiro novo no ar
Babel de sotaques e sacolas e sorrisos a passar
De 5 graus a 35 e novamente a 5 graus
Seguindo pelo rio branco que desemboca no aterro verde
Um caminho sinuoso como as curvas da mulata
Passa pelo pão, pela princesa e pela barata
E termina em braços onde a saudade morre apertada
Mochila no chão, queijo branco no pão
E os raios do sol ardem a areia no chão
Os gritos dos vendedores e os artigos cheios de cores
As curvas, os cheiros e os conhecidos sabores
De biscoito, de mate e de tesão
O tecido claro contra a pele morena
Que não precisa de filtro nem de proteção
A boa do dia nasce em cadeiras alugadas
Por garotos marrentos e cachorras abusadas
Que cruzam sem medo a arrebentação
As cangas famintas vão ao delírio tropical
Enquanto os donos dos tanques saciam sua fome
Em meio aos eucaliptos cheirosos do redentor
As labaredas do céu queimam os dois irmãos
E um breve intervalo para trocar de estação
Sabonete na pele, perfume, brim e algodão
De carro amarelo com destino à função
Malandros entre arcos e paralelepípedos mijados
Os feixes de luz anunciam o progresso
E apitos ecoam por trás das escadarias
Um caldeirão em ebulição e uma bala na mão
Dior na cabeça e Armani no coração
As tribos tribais já conhecem o roteiro
E se perdem e se encontram sob o mesmo sermão
Enquanto a água evapora atrás do balcão
A clarabóia anuncia o fim da missão
E os fritados na pista, na areia fritarão
Pelas horas que faltam até a onda passar
Os que não chegaram terão tempo de chegar
Ou então, só um olá rápido pelo celular
Os panos amontoados e o zíper apertado
Com a falta de jeito de quem está atrasado
Vinícius fugindo caiu na lagoa
E o mundo mágico sumiu atrás do túnel
Mais uma vez os marimbondos retirantes errantes
Que como eu voltarão para sua vida de antes
Até que bata outra vez essa mesma vontade
A vida é assim: 0300 para ser feliz.

Nenhum comentário: