segunda-feira, 30 de maio de 2005

Semana da Parada, parte 2: sexta e sábado

Sexta, dia 27. Depois de um dia normal de trabalho para muitos, duas grandes festas disputaram a preferência do público. No Anhembi, a E-Joy Moon reunia DJs nacionais e estrangeiros em duas tendas e um palco, num arremedo de festival de música eletrônica para gays, que recebeu informalmente o apelido de Skol Bicha. A atração mais esperada era a cantora americana Deborah Cox, considerada por alguns como a nova Whitney Houston (?), e que empresta sua voz a alguns dos hits mais grudentos e manjados das pistas gays.

Enquanto isso, a The Week recebia o top DJ Peter Rauhofer, dono de selo e produtor respeitado, que já fez remixes para artistas de primeira linha e lançou ótimas coletâneas em CD, puxadas para o progressive house. Como tenho ojeriza a drag hits e não tenho a menor vocação para jogar o cabelo pra lá e pra cá fazendo dublagem, escolhi a The Week, até porque já tinha visto o Peter tocar (muito bem) numa X-Demente no Rio em 2002 e já conhecia alguns de seus CDs (também muito bons).

Infelizmente, porém, o set dele foi uma grande decepção. Ao invés de mostrar sua cultura musical e aproveitar o público de qualidade que estava lá para vê-lo, ele optou pelo caminho mais fácil de reproduzir a hard house das piores pistas gays, e fez um som burocrático, maçante, arrastado, estridente. Começou apenas sem inspiração, e foi-se tornando um martírio tão grande que, às 5h30, não agüentei e fui embora, três horas antes do fim do set dele. Na saída, encontrei uma fila de pessoas vindas do Anhembi, dizendo que a E-Joy tinha sido um lixo, cheia de gente feia e com um pífio showzinho de apenas 6 músicas da Deborah Cox. Ou seja: a noite mais esperada por todos acabou sendo a pior da semana.

Sábado, dia 28. Assim que se recompuseram da jogação de sexta, todos os gays que estavam em São Paulo aparentemente foram passar o dia no mesmo lugar: a Praça Benedito Calixto. Antes das três o burburinho (que costuma começar só depois das cinco) já era grande, e ao cair da tarde a rua já estava completamente tomada, impossibilitando a passagem dos carros, lembrando a Rua Farme de Amoedo no carnaval carioca. Todo mundo estava lá, e de rodinha em rodinha era impossível ir embora dali.

À noite, minha primeira parada foi o Hotel Unique, onde o DJ nova-iorquino Junior Vasquez se apresentava na festa mais cara da temporada (R$65 antecipados, passando para R$80 e astronômicos R$120 na hora). O público era a nata da nata da nata dos homens mais belos, mas a festa em si não ajudou nada. A produção era paupérrima: não havia iluminação alguma (apenas duas estrobos e meia dúzia de luzinhas que mudavam de cor, dessas de festinha de condomínio), de modo que a pista ficou praticamente toda escura. Sem falar que, com o preço salgado da entrada (nem vou falar da água a R$5 e do estacionamento a R$18), acabou vindo muito menos gente do que seria o ideal para um espaço daquele tamanho. Resultado: uma festa meia-bomba e sem vibe, um triste quadro o que o som da cacura de NY só agravou: se o set do Peter havia sido ruim, o do Junior era um medo total - só faltou ele tocar “Ilariê” !!!

Assim que consegui carona, fugi correndo para a The Week, onde por R$30 tive uma festa de verdade: superprodução, muitas luzes, euforia coletiva na pista, e um clima mais do que agradável no jardim - onde já fazia bem menos frio, sinalizando que o domingo da Parada seria quente. Se o Peter e o Junior haviam sido surpresas ruins, esta foi a melhor: a nossa prata da casa deu um presente para o público. Desta vez o João Neto estava meio bagaceiro, é verdade, mas quando entrou o Renato Cecin...

Já eram cinco e meia da manhã, e o horário permitia um set menos travestcheee. E o público estava no auge da disposição, vivendo aquela festa como a grande festa que ela era. Cecin então mandou uma seleção antológica, que remeteu aos tempos áureos da X-Demente na Fundição Progresso. Do hard house mais batido ele foi evoluindo para uma coisa mais progressive e até para o tech house, e aquelas paradinhas chatas que cortavam qualquer onda deram lugar a um set contínuo, crescente, épico, perfeito para o colocón.

Ele não deixou de fazer algumas concessões à bagaceirice, mas até nos momentos mais fubá ele foi feliz – como no remix de Greatest Love of All, que bem ou mal é a melhor música que a Whitney Houston já gravou, e aqui veio numa versão meiga mas dançante, que rendeu um momento perfeito para sorrir e abraçar os amigos mais chegados, lembrando o quanto eles eram especiais. A resposta do público era sempre excelente, a pista menos lotada já estava gostosa para dançar, e essa felicidade toda fez do sábado da The Week a melhor noite da temporada.

Às oito e meia, a pista continuava feroz e o DJ Pacheco, que já havia aberto a noite, voltou para o som, enquanto um dia lindo de sol enfeitava os jardins. Saí às dez e meia, pedindo misericórdia. Mas o babado rolou até... duas da tarde.


Sem dúvida, uma noite histórica.

2 comentários:

Mutatches Mischelle Tedezco disse...

Isso sim eu adoro... Drag Hits, festa acabando no meio da tarde.

Só não aguento é Faustão fazendo piadinha...

Anônimo disse...

Meu querido,

Como sempre, endossando tudo o que você diz. Ainda bem que agora vc publica os seus escritos: tenho certeza de que não vai faltar muito pra que a coisa assuma uma roupagem "declaradamente" profissional!

Saudade e beijo do

I. :***