Para quem é bem resolvido, conta com a compreensão dos entes queridos e tem autonomia para levar a vida que quiser, sem prestar contas aos outros o tempo todo, ser gay ou lésbica não é nenhum estorvo. A sociedade ainda tem um longo caminho a percorrer em direção à aceitação da diversidade, mas nós driblamos o preconceito construindo um círculo social com pessoas tolerantes e amigas e passando a maior parte de nosso tempo dentro dele. Isso dá o conforto emocional de que precisamos e, de certa forma, nos blinda contra a homofobia. De repente, não sentimos mais na carne o tal "peso de ser diferente", já que na nossa bolha gay-friendly isso não é um problema.
Engana-se, porém, quem pensa que esse bem-estar vem da noite para o dia. A descoberta e aceitação da própria condição sexual pode ser um processo doloroso, especialmente quando se vive em um ambiente familiar pouco receptivo (o que é bastante comum). Muitos LGBTs se vêem desamparados quando os pais, completamente desorientados com a revelação, passam a reprimi-los, tornando as coisas ainda mais difíceis para todos os envolvidos.
Para o adolescente homo, o acesso fácil ao meio gay (que perdeu o estigma de clandestinidade de 20 anos atrás) e a overdose de referências trazida pela internet logo se encarregam de mostrar o caminho. Ao constatar que não está sozinho e receber exemplos positivos de seus semelhantes, ele se sente encorajado a assumir a própria identidade e descobre que, apesar dos pesares, é perfeitamente possível se encontrar e ser feliz sem ter que negar sua condição. Já os pais custam a assimilar a novidade, sobretudo porque têm mais dificuldade em encontrar pessoas com quem possam se abrir, elaborar e digerir o assunto.
Foi pensando nisso que a professora e escritora Edith Modesto [foto], mãe de um rapaz gay, fundou o Grupo de Pais de Homossexuais, em 1999. O GPH começou com quatro mães e hoje já tem 200 associados, entre pais e mães de todo o Brasil. Esses quase dez anos de experiências, Edith compilou no livro Mãe sempre sabe? Mitos e verdades sobre pais e seus filhos homossexuais (Editora Record), lançado ontem em São Paulo. No coquetel de lançamento, tive o prazer de encontrar Edith e conhecer um pouco mais da história de sua ONG, que tem feito um trabalho belíssimo e já ajudou muitas famílias a vencer o inevitável estranhamento inicial e se reaproximar. Do GPH, exclusivo para pais, nasceu o Projeto Purpurina, que é voltado para os próprios adolescentes que também procuravam o grupo.
Edith já teve a oportunidade de divulgar as atividades de seu grupo em espaços nobres da mídia, como os programas de Jô Soares e Marília Gabriela e o jornal O Estado de S. Paulo. Inteiramente voluntário e sustentado por doações, o GPH conta com apoios pontuais da Prefeitura de São Paulo, mas ainda tem outros desafios pela frente. O maior deles é conseguir o empréstimo de um imóvel que possa ser usado como "casa de passagem": um lugar onde adolescentes massacrados pelos seus pais após o outing ou mesmo expulsos de casa possam passar um tempo, enquanto as coisas se acalmam. Enquanto torço para que isso aconteça logo, aproveito para divulgar aqui o GPH e convidar todos vocês a conhecer o site do grupo.
domingo, 19 de outubro de 2008
Uma luz para os pais desorientados
Postado por Thiago Lasco às 8:31 PM
Marcadores: comportamento, gay, livros
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18 comentários:
JÁ A VI PALESTRANDO E FALANDO NA TV E É BRILHANTE. QUE TENHA SEMPRE SUCESSO EM SEUS PROJETOS TODOS. PAIS PODEM SER UM GRANDE PROBLEMA, SIM, PODEM ODIAR, SÃO HUMANOS. E TAMBÉM CABE A CADA UM SABER ATÉ QUE PONTO PERMITIRÁ QUE SEUS PAIS TENHAM RELEVÂNCIA E INFLUÊNCIA EM SUA VIDA. HÁ HORA DE DIZER BASTA! CLARO, PRA ISSO PRECISA-SE TER JÁ UMA CERTA MATURIDADE, AÍ O FOCO DO PROJETO DE EDITH. AJUDAR O RAPAZ/GAROTA A RECUPERAR A AUTO-ESTIMA, DAR ALENTO POR UM TEMPO. MAS, DEPOIS, A GENTE DEVE SIM SABER O MOMENTO DE DIZER PROS PAIS QUE EM NOSSAS VIDAS MANDAMOS NÓS, QUE NOSSAS ESCOLHAS PARA A FELICIDADE CABEM A NÓS.
Cara, parabéns, vc me surpreende sempre!!! Adoro a versatilidade dos seus artigos, aliados à seriedade da sua escrita!!! Seu blog é o melhor, pois vai desde o basfond até o cult..Parabéns, é sempre um prazer le-lo.Um beijo, Márcio G.
Ela é incrivel e admiravel.
O livro anterior, que trazia informações sobre a cultura e a vida gay, é essencial pra quem desconhece o nosso mundo. Grande trabalho de alguem com uma sensibilidade impressionante.
Excelente trabalho do Grupo de Pais Homossexuais e excelente post o seu.
Pena que não exista uma ONG semelhante aqui por Portugal.
abraço
O máximo!
Fã dela! Vou comprar o livro certo.
Só não curti o nome do projeto :P
Amanhã rola na PUC o lançamento do livro aqui no Rio.
é... se gay já nasce sem bula explicando como as coisas funcionam, imagina pais de gays.
a Edith é sensacional
Sempre!
=)
Adorei a dica!!vou comprar o livro!
:)
deveria ser elitura obrigatória!
Ótima dica!!!
ps.: ótima matéria (como sempre) na revista!
Biejossss
Oi...mto interessante seu blog, assim como seus textos. Vc faz jornalismo?
abs
Ok, vou me abster de comentar sobre o grupo de pais e focar na entrada no mundo gay por parte de um jovem, nas palavras de um.
Concordo com você quanto à net. Protegidos sob o caráter anônimo da web, é possível para os jovens gays obterem uma amppla gama de informações sobre esse meio. Filmes, fóruns de discursão e o próprio homoerotismo são uma constante.
Entretanto, não encaro a entrada no mundo gay 'de verdade' como algo simples e sem uma faceta de estigmatização. Vivo em uma capital nordestina e não vejo um meio viável de entrar no mundo gay, principalmente pelo seu caráter de gueto. Para um homossexual que ainda está no ensino médio, não há meio termo. Ou sai do armário e comete suicídio social no macrocosmo hétero, ou fica no armário e abdica de relacionamentos homo-afetivos. Simples assim.
Pow anônimo, eu também vivo numa capital nordestina e hoje em dia, depois que aceitei encarar a barra de sair do armário pra mim, pra família e pros amigos [não, o processo de entrada no mundo gay de "verdade" não foi simples], vejo que a danada da "bolha gay-friendly" te ajuda mesmo a se "blindar". O autor do post conseguiu expressar muito bem a situação como um todo.
Lóóóógico que em outros cantos do mundo e talvez do país a coisa deve ser mais leve e agradável. Imagina poder, por exemplo, namorar numa pracinha com o amor da vez? Ir a praia com o love e ficar à von-ta-de? Putz, até hoje essa disparidade entre os "direitos" concedidos a um e a outro grupo me incomoda pra caramba, especialmente no tocante a espaços públicos [ainda mais com meus impostos em dia!], mas daí a abdicar dos relacionamentos homo-afetivos vai uma distância grande.
Sair do armário valeu muito a pena! :)
Gostei mto do seu blog, da sua forma de escrever!
Parabéns.
Ela é MARA!
Eu já fui à casa da Edith, me diverti muito ali, entre informações e outras "curiosidades", mas concordo que o nome do projeto é meio "batido" e até estereotipado.
No mais, Thigs, vou para Berlim em 10 dias fazer usufruto "in loco" das suas dicas, rs!
sair do armário não é nada fácil. Mas eu não acho que seja necessário alguém contar aos pais "só por contar". É uma coisa que, mesmo no âmbito familiar, onde os segredos não são bem-vindos, é íntima. Não vejo necessidade de explicitá-la só para me mostrar bem resolvido. No início - também sou nordestino - não foi nada fácil. Os locais do meio até "ajudam" de alguma forma, pois vc percebe que não é tão "estranho" quanto pensa. Mas, se já é difícil se identificar como gay, é um passo gigante levá-lo ao conhecimento de quem talvez possa ajudar muito pouco. òtimo blog. sempre visito, mas minha timidez nao me permitia deixar comentários. Mais sucesso pra vc!
vc descreveu muito bem a edith e seu incrivel trabalho!
parabens
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