Gosto da Madonna e tenho um conhecimento razoável da trajetória dela, mas estou longe de ser um fã descontrolado, daqueles que acampam em fila de bilheteria, colecionam recortes de revista e se descabelam em saguão de hotel. Por isso, eu jamais poderia imaginar que, apenas quatro dias depois de ter falado sobre ela no blog, eu voltaria a escrever sobre o mesmo assunto. Mas serei obrigado a fazê-lo: aconteceu algo inesperado no fim de semana.
Como não sou maníaco por ordem e limpeza, não arrumo meu quarto todos os dias - espero até a bagunça me incomodar, ou eu não conseguir achar algo de que esteja precisando. No sábado passado, resolvi parar de protelar e me lancei numa corajosa faxina, daquelas que levam horas. Quando escuto música em casa, sou incapaz de ouvir um CD inteiro: escuto algumas faixas e saio trocando. Também não tenho saco de programar playlists longas de MP3 (como planejar o que eu terei vontade de ouvir daqui a 40 minutos?). Mas não dá para interromper uma boa faxina para mexer no som a toda hora, então resolvi colocar um CD do início e deixar rolar.
Quando Madonna lançou o single "Hung Up", no final de 2005, achei o refrão bem chatinho (apesar de gostar da faixa sampleada do ABBA) e não me animei a ir atrás do álbum. Aí veio a faixa de trabalho seguinte, "Sorry", que os Pet Shop Boys deram uma sutil maquiada e eu adorei. Baixei a música e resolvi o problema. No começo de 2007, fui visitar um grande amigo e o CD Confessions on a Dancefloor estava tocando. A faixa "Get Together" chamou minha atenção, mas eu estava mais interessado na nossa animada troca de confidências que na música ambiente, então nem reparei direito no resto do disco.
No ano seguinte (este), Madonna resolveu se cercar dos produtores hypadinhos do momento e lançou um álbum novo. Obcecada em parecer urbana, antenada, street girl, ela acabou soando como qualquer cantorazinha da hora, menos ela mesma. Os singles me deram uma preguiça gigante (curti apenas o remix do Bob Sinclair para "4 Minutes") e condenei Hard Candy ao mesmo desprezo mortal que eu nutro pelo American Life (2003). Veio a turnê, o anúncio das datas no Brasil, o quiproquó dos ingressos... E eu nem tchuns. Até que, há algumas semanas atrás, uma força desconhecida me levou a pedir para o meu amigão madonnamaníaco me fazer uma cópia... não do Hard Candy, mas do Confessions.
E adivinhem quando eu finalmente fui ouvir Confessions? Sim, durante a faxina de sábado. Três anos depois, já superado o bode da superexposição, "Hung Up" não soou tão chatinha. "Get Together" me levou na mesma viagem virtual pelo Elevado do Joá que eu descrevi aqui. Aí começaram as faixas que eu ainda não conhecia... e alguma coisa bateu dentro de mim (ui!). Achei "Future Lovers" incrível, ainda mais eletrônica que "Get Together" (como é que não ganhou as pistas?), aumentei o volume na hora para sentir aquela batida gostosa. Fiquei surpreso com "I Love New York": Madonna flertando com o rock (!) e criando um refrão absolutamente bobo e bom de cantar, na melhor linha "a-la-la-ô".
Com "Forbidden Love", o disco me ganhou de vez. É meio lenta, mas também levemente dançante, fofinha - já me vi na pista numa festa gay gigante, naquele momento em que o DJ dá uma baixada no set e coloca algo fofo, pra gente que está fofíssimo abraçar e beijar bastante. E de repente o disco emenda a introdução de "Jump", aquele baixo funkeado delicioso, rebolativo, meio Scissor Sisters em "Comfortably Numb", meio Queen em "Another One Bites The Dust", e abri um sorriso... a melodia de fundo desenvolve num crescendo de expectativa, otimismo, felicidade. "Jump" tocava por aí e eu achava sem graça, agora vejo tudo com outros olhos, parece que estou na mesma onda. Fui eu que mudei?
Dali pra frente, foi uma surpresa atrás da outra: todas as faixas têm luz própria, é um disco prazeroso de se ouvir de cabo a rabo (exceção à regra do álbum irregular puxado por dois ou três singles). Até "Isaac", um vôo bastante arriscado, com trechos de uma cantiga religiosa em hebraico, tem um resultado harmonioso. Até a faixa-bônus ("Fighting Spirits") me convenceu, o que também é raríssimo. Fui obrigado a reconhecer, mais de um ano depois, que Tony estava certo: Confessions é mesmo o melhor álbum da carreira de Madonna (e não Music, como eu escrevi no ranking, que obviamente já corrigi). O disco é simplesmente sensacional.
O resultado disso é que Confessions embalou não só a minha faxina (que eu interrompi depois de três horas, porque o dia estava bonito demais lá fora), mas todas as minhas sessões de música de sábado até hoje. Estou encantado com o álbum, que curto mais a cada nova audição. Liguei pro meu amigo, ele se divertiu com o meu surto e disse que eu tinha que ver o DVD da turnê. Marcamos ontem na casa dele e foi outro embasbacamento: a Confessions Tour foi incríííííível! Muito mais bacana do que a Sticky & Sweet que bate às nossas portas (como eu posso comparar? porque a S&S já está inteira no YouTube, oras).
A primeira razão é óbvia. As duas turnês estão baseadas no repertório dos discos que promovem; se Confessions é superior a Hard Candy, os shows também serão, pelo menos do ponto de vista musical. Em termos de mise-en-scène, a turnê anterior foi igualmente megalomaníaca, com números de grande plasticidade visual, bailarinos roubando a cena com danças absurdas, palco giratório, blá blá blá. Mas achei tudo mais bonito: os figurinos, o repertório em si, ela cantando "Live To Tell" pendurada numa cruz, o perfume S&M do começo do bloco "hípico", a emocionante versão de "Paradise (Not For Me)" em dueto com o cantor de "Isaac"...
Aliás, as novas roupagens para as músicas antigas são uma atração à parte. Conseguiram transformar aquela coisa insossa e insuportável chamada "Erotica" num coquetel de house e disco saboroso e chique, enquanto "La Isla Bonita" ficou acelerada, rebolativa, escrachada, quaquá, divina. Até repensei minha resistência inicial e hoje acho que Madonna tem mais é que dar uma oxigenada nos clássicos mesmo. Pelo que vi da Sticky... na internet, ela cagou "Vogue" e "Like a Prayer", mas deixou "Into The Groove" bacanérrima (as projeções do Keith Haring casaram perfeitamente) e surpreendeu novamente ao transformar a linda "Borderline" (uma das minhas preferidas) num rock com cara de comercial de cigarros Hollywood de 1984.
Mas o saldo da Sticky & Sweet ainda é negativo demais para me fazer ir ver o show, I'm sorry. Tem muita bobagem no setlist e pouca coisa que seja do meu gosto. Tá, não vou mais ficar chochando, vai quem quer e pronto. Quisera eu ter tido a chance de ver a Confessions Tour!!! Pelo menos a turnê não veio para a América Latina, então não fui eu que fiz carão para ela. Mas, se eu soubesse que o disco era tão bom, talvez até tivesse me animado a dar um pulinho rápido em Londres, Paris ou NY, por cinco dias que fosse, para viver esse espetáculo mágico (em que até "Hung Up" ficou grandiosa, como gran finale). Não foi possível, mas não tem problema: vou viver isso no meu momento, que é agora. Enquanto todos vocês estão fazendo força pra engolir Hard Candy a tempo de cantar as letras no Morumbi ou no Maracanã, eu continuo aqui com o Confessions no repeat, firme e forte e sem vontade de parar, em CD e DVD. E digo mais: possivelmente, é ele que vai dar a cara do meu verão.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Confissão tardia (ou: Tony, você tinha razão)
Postado por Thiago Lasco às 11:39 PM
Marcadores: introspective, música
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13 comentários:
Exactamente como você não sou nem pouco mais ou menos fã de madonna, mas o CD Confessions é um caso à parte e o DVD da tour uma perola.
Fui ao último concerto dela e gostei quer das remisturas das músicas do Hard Candy quer de músicas antigas todas com uma roupagem rockeira, o espectáculo é bonito visualmente, hiper bem produzido, mas não fibrei nem um músculo. Vou estar à espera que saia o DVD, porque aí tal como em Confessions a essência de Madonna ( a excelente produção) virá ao de cima.
Confessions é um dos melhores álbuns da loira!! SEM DÚVIDA! A minha fase de adora-lo ainda persiste, diferente de você que a ficha "caiu" somente agora, quem sabe daqui a alguns anos você poderá ver o "S&S", com outros olhos?
Talvez seja necessário que Madonna tenha lançado um trabalho menos bacana para que o último fique em evidência...E sim, "S&S" é o novo "American Life"!
E Mesmo assim, eu vou aos shows, pela chance...Ela poderia estar fazendo um tour só de "American Life" que eu iria mesmo assim...não é pelo álbum, é pela chance....Com 50 anos, não me admiraria se aos 57, ela resolva pendurar as botas de couro e o chicotinho de "Erótica". Isso pode acontecer, apesar do contrato com a Live Nation ser de 10 anos e sei lá, uns 3 novos CDs.
Tomei a libertdade, já que estamos na semana Madonna, de fazer um top-top parecido com o seu no meu blog... até o show do dia 14, postarei as minhas favoritas emocionais...
Confessions, certamente está entre essas!! E posso dizer? Não fui a nenhum show da Madonna na vida, mas já vi TODOS em Dvds (mesmo o Re-invention e o S&S, ambos em Dvds piratas europeus que meu amigo fanático comprou), Nenhum supera Confessions, Re-invention chega perto...
Acho que, quando gostamos de algo, a experiência conta...mesmo anos depois! hehehehe
Thi, get over it! Vamos nos jogar no show da diva!
Sem duvida, é um dos melhores albusn dela. Sorte de quem conseguiu ver a turnê lá fora...
Sobre as musicas, eu tenho uma cena na memória: pista lotada, lado esquerdo perto do bar, onda incrível e aquele refrão ecoando nos meus ouvidos. Sim, The Week São Paulo e Forbidden Love.
Viu como você está sempre certo?
Quando foi que eu não tive razão?
Enfim, você é de Touro, é cabeça-dura, não ouve conselhos, e as coisas acontecem no seu tempo. "Confessions" é maravilhoso, mas é tão três anos atrás... Feliz verão de 2006 pra você!
Ah, e o que se ouve em "Isaac" não é árabe, é hebraico. É uma cantiga tradicional de louvação a Deus, "Im' Nin Alu", imortalizada numa gravação techno por Ofra Haza, a maior cantora que Israel já teve. Procura e baixa!
Isto de você não ouvir um CD inteiro nem fazer sets me deixou matutando... será uma coisa generacional? Acho que vai render um post no meu blog, aguarde.
Ah, e foi você mesmo que me mandou hoje um comentário sobre o post que eu fiz sobre a boate Lux de Lisboa em ABRIL??
E agora vê se anima e vamos todos no show. Tá cheio de gente vendendo ingresso extra! Ah, e ouve direito o "Hard candy", tem VÁRIAS músicas boas. Madonna só não soa mais vanguarda, mas "Miles Away", "Heartbeat" e "Beat Goes On" são óteeemas. E o remix do Oakenfold pra "Give it 2 Me" é um dos melhores do ano! Vou te mandar por e-mail.
Ufa, esse comentário tá quase tão longo quanto seus posts...
bacichiamami
Tony: só você mesmo para me avisar que aquela cantoria ininteligível era em hebraico e não árabe. Vou corrigir já, thanks! No mais, eu tenho a teimosia, você tem a soberba, enfim, todos nós temos nossos pecadilhos... ;)
entre a teimosia e a soberba... Eu passo um pato purifik e fica tudo brilhando. Mas taurino é assim mesmo. Demora 3 anos, mas uma hora entende o babado. Não adianta insistir!! E o faxinon no quarto ficou bom? Ou precisa de serviços profissionais para isso? Um beijo e me liga, fio!!!
E como disse o Tony... Feliz verão 2006 procê!!
Ano que vem você começa a gostar de Hard Candy... hehehe. A princípio eu tb achei o Hard Candy bem chatinho, mas depois de ouvir várias vezes vc começa a curtir algumas músicas. Miles Away, Beat Goes On, Heart Beat, Devil Wouldn't Recognize e até mesmo Spanish Lesson.
Give it a try!
Soberba? Moi? Guardas! Cortem-lhe a cabeça!
Você falou das várias faixas que são legais por conta própria, mas o que mais me chamou a atenção no Confessions foi a coesão entre as músicas. Lembro-me da primeira vez em que eu o ouvi, na casa de amigos, assim também como música de fundo, e tive a impressão de ter ouvido uma única e grande música, sem perceber muito bem onde começava uma e terminava outra. Não assisti ao show ao vivo, mas dá pra ver no DVD que houve muita produção por cima, então não sei se a experiência ao vivo seria a mesma coisa. Em todo caso, fica a dica: coloque as músicas mais animadinhas do Confessios juntas e dá uma ótima trilha para academia, principalmente para correr.
P.S.: E o Hard Candy não é o Confessions, mas tem algumas músicas legais. 4 Minutes é um saco, mas gosto de She's not me, Hard Candy e Give it 2 me.
Concordo em gênero, número e grau. "Confessions..." é sem dúvida o MELHOR trabalho da Mady, e a turnê (que por azar nosso não veio por essas bandas) foi a obra-prima de toda a carreira dela.
Ao todo, considero 3 os discos mais coesos dela: True Blue/87, que a levou para as páginas do Guiness; Music/00 e Confessions/06. O restante só se escuta dando um "ff" música a música...
Que texto bonito (inclua seu nome aqui)! Também não sou fã da madonna e partilhamos opiniões super parecidas. Conheço o trabalho dela, até porque não tem como ser diferente, e quando vi o dvd do drowned world achei pavoroso. Um circo! Vi o confessions tempos depois e achei lindo, elegantissimo. Like a virgin ficou sensacional. e o remix de erotica com you thrill me ficou na minha cabeça durante meses. abração.
Tiago, só esqueceu de comentar 1 coisa do DVD: Lucky Star. Em uma palavra: genial. Pra mim foi *A* surpresa do DVD, que emenda com Hung Up e fica perfeito!
PS - Voce vai na Miss Kittin?
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