Estávamos eu e alguns amigos batendo um papo solto, falando sobre ambições materiais, planos para o futuro, e o assunto acabou naquele jogo de "o que você faria se ganhasse bastante dinheiro". Todos se puseram a imaginar o endereço das suas casas ideais, e comparar as respostas. A minha teria que ser em uma entre cinco regiões: Moema, lado pássaros, de preferência na Inhambu, Pintassilgo, Tuim ou Pavão; Vila Mariana, entre o Instituto Biológico e o Metrô Ana Rosa; Paraíso, especialmente na Teixeira da Silva; o trecho da Alameda Franca entre a 9 de Julho e a Melo Alves; ou Sumaré, no finalzinho da Dr. Arnaldo, Rua Havaí, Bruxelas, Apinagés.
Todos esses são bairros bons para se morar. Mas eu poderia ter citado outros, alguns até mesmo mais caros, já que naquela brincadeira dinheiro não era problema: Higienópolis, Vila Nova Conceição, Jardim Europa, Pacaembu, Cidade Jardim, Butantã, Morumbi. O que havia influenciado minha escolha? Depois de pensar um pouco, percebi que todos os lugares que eu havia selecionado me eram mais do que familiares: eles tinham adquirido um significado pessoal na minha infância. Cresci andando com minha mãe por Moema, brincando em uma pracinha perto de casa. Meus avós maternos sempre moraram na Vila Mariana e minhas tias-avós, no Paraíso. A Alameda Franca era a rua dos meus avós paternos. No Sumaré ficavam a minha psicóloga e a casa de uma prima do meu pai, para onde eu ia logo depois da terapia.
Comecei a me perguntar se essa busca da memória afetiva era uma particularidade só minha, uma simples demonstração de apego ou saudosismo. Tenho amigos que já passaram por inúmeros endereços, em várias zonas da cidade, sem jamais olhar para trás. Por outro lado, eu, em 31 anos de vida, morei sempre no mesmo apartamento, olhando sempre pela mesma janela do mesmo quarto. Encaixotar coisas, só quando era inadiável pintar a casa. Minha experiência é bastante peculiar, mas, pensando melhor, o apego às raízes não é assim tão incomum, nem tem a ver com nascer em bairro nobre ou pobre. Já li entrevistas de gente humilde que ganhou dinheiro na televisão ou no futebol e, apesar de ter melhorado de vida, optou por comprar uma casa no mesmo bairro ou morro. No Rio, muitos suburbanos que ascendem migram para a Barra; em São Paulo, eles podem mudar para o Tatuapé, mas preferem não sair da Zona Leste.
Continuando o jogo do faz-de-conta, imaginei que, se eu fosse milionário mesmo, também compraria um apartamento no Rio, para usar como refúgio hedonista e garçonnière de verão. Minha escolha ali provavelmente ficaria com o Posto 6: Conselheiro Lafaiete, Rainha Elisabeth, Bulhões. Mesmo com possibilidade de trocar o povão de Copacabana pelo charme arborizado do Jardim Botânico, a fofura interiorana da Urca ou o "jeito Manoel Carlos de ser" do Leblon, acho que eu ficaria mais feliz tomando o mesmo café-da-manhã no supermercado Zona Sul da Francisco Sá e fazendo o mesmo caminho a pé até a praia. Não por acaso, foi no Posto 6 que moraram uns amigos cariocas muito queridos, e a casa deles foi, por muito tempo, minha referência e minha casa também.
terça-feira, 7 de julho de 2009
Meu sonho é continuar bem perto
Postado por Thiago Lasco às 7:44 PM
Marcadores: introspective, são paulo
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12 comentários:
A pior parte de ter que mudar de endereços é mudar de amigos. Nem sempre essa troca é legal. Mudei de casa umas quatro vezes. Na última já estava tão cansado disso, que acabei não fazendo amigos. E lá já se vão 13 anos num mesmo lugar. Daqui eu só saio prum canto somente meu.
Já passei pela mesma conversa com meus amigos aqui no interior. Como eu ainda sou novo, moro com família e longe de todos os amigos, enquanto todos falam de bairros (mais) nobres de minha cidade, eu já faria a linha família Cigana: compraria um casarão e botava todos os amigos para morar junto mesmo rs...
A busca por nossas memórias afetivas acho que todos passamos e passaremos, mas no meu caso eu gostaria de morar perto do cenário do meu crescimento em vez de minha família de relação sanguínea.
As realidades, distâncias e dimensões são bem diferentes de uma região metropolitana de interior contra a capital, mas acho bobagem "se perder" de amigos só por não estar (tão) perto, nunca tive amigo de mesma rua.
Thi, que texto poético! Fiquei encantada mesmo!
Apesar de morar até hoje na mesma casa, dividindo alguns metros quadrados com os mesmos vizinhos, etc, penso sim em mudar de bairro. Almejo morar em um lugar melhor, ainda que este novo endereço não me traga qquer tipo de lembraças. Creio que, na verdade, nunca fui apegada às raízes, por isso não sofreria tanto assim.
Beijossssss
Fofura "interiorana" da Urca?? A Urca é um principado! É pacata sim, mas a palavra "interiorana" remete a caipira, coisa que a Urca, que já teve cassino e a primeira estação de TV do Brasil, nunca foi.
Ouvi dizer até que Urca é a sigla de "Urbanização Carioca", o nome da empresa que fez o aterro onde hoje está o bairro (sim, o lugar é totalmente artificial).
Adivinha qual meu sonho de consumo nessa brincadeira da moradia dos sonhos... Urca, évidemment.
invés da Teixeira da Silva, dá uma passada na Abílio Soares...te faço conhecer o paraíso...(ui)
bjão
Já morei em alguns lugares, mas o que mais gosto hoje é onde moro mesmo. Cheguei à conclusão de que, familiar ou não, gosto de morar em bairros mistos: residenciais e com vida comercial e noturna. Onde tiver gente andando na rua o tempo todo, lá estarei me sentindo em casa.
beijo!
Interessante este post, adorei essa reflexão! Moro a 41 anos no mesmo lugar, com meus pais. Estes sim, mais nômades: como todo migrante nordestino, aprenderam desde cedo que o lar é aquele lugar em que você faz sua história. Eu, por conta do trabalho, tive a chance de viajar um pouco e ficar dias fora de Sampa, mas sempre querendo voltar. Caso pudesse - ou fosse obrigado a escolher, por conta de outros fatores -, viveria em Porto Alegre. Aqui em São Paulo, acalento o sonho modesto de viver no centro, perto da Consolação, ali pela Vila Buarque ou Santa Cecília. Não me perguntem a razão, apenas sinto que lá é meu cantinho...
Concordo com você quando diz que esse lançe de raízes nao tem a ver com o lugar ser rico ou pobre. Acredito que o fundamental pra se apegar é você ver o lugar não como um simples pano de fundo pra o que acontece na sua vida.
Se a ideia é viajar, meu lugar ideal seria lugar caótico, que teria um pouco do leblon de Manoel carlos com o a NY de seriados americanos... Enfim, uma São Paulo melhorada, rs.
Abraço!
Gente, quase eu perco sua visita de novo rsrsrs, chega hj neh, olha só, se tiver já uma programação, me passa por email pra eu tentar me encaixar e te conhecer, se não tiver, passa tb que agente inventa algo pra fazer, abração!!!
Não me prenderia em referencias, pois não as tenho, na minha infância mudei bastante de residência, hoje, se eu pudesse morar em qualquer bairro, provalvelmente moraria em moema.
Na Urca é assim: quem está dentro não quer sair de jeito nenhum, o que dificulta, e muito, pra quem está de fora, entrar. Mas o Leblon de Manoel carlos é legal desde que seja na altura da Visconde de Albuquerque, ali onde tem o Canal. Ou no "alto" Leblon, óbvio. Moro em Copacabana a vida toda (tirando os 8 anos em que morei na França), no Posto 2 e gosto, apesar da zona, apesar do barulho, dos perigos (?!) e de todos os pesares. Só sairia daqui pra voltar pra Paris. Aliás, nem pra lá. Vou envelhecer e desencarnar aqui, em Copa mesmo. Sabe assim, aqueles velhinhos que ficam na Praça do Lido ? Um dia espero ser um deles. Tralálá...
Adorei ler esse post: eu tabem adoro a rua Bulhoes Carvalho no Rio, porque a primeira vez que eu estive no Rio morei ai! Agora se eu pudesse escolheria o Arpoador ou a Lagoa(lado Ipanema, of course). Sempre gostei mais de Ipanema que do Leblon...a orla è melhor...e se vc tirar o Shopping Leblon e Dias Ferreira ...mas o Alto Leblon e o Jardim Pernambouco sao bucolicos (e exclusivos mesmo)..quando nao sao invadidos pelos bandido da Rocinha e da Chacara do Ceu. Que pena que ja começam vender as coberturas na rua Timoteo da Costa...
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