quinta-feira, 4 de março de 2010

Formato mínimo

Depois de anos fazendo download apenas de músicas soltas aqui e ali, finalmente aprendi como se baixa um álbum inteiro de uma vez (#Incruzaum Dijitau Feelings). Tenho aproveitado meus raros momentos ociosos (pois é, o ano começou) para dar uma conferida em alguns discos que, por motivos diversos, ficaram um tempão parados numa "lista futura" que nunca se consumava.

Um desses discos (o termo é cada vez mais antiquado, quase anacrônico, mas me deixem) é Cosmotron, lançado pelos mineiros do Skank em 2003. Eu tenho uma certa preguiça da fase funk-boboalegre-radiofônica da banda (especialmente "Garota Nacional", que ninguém aguenta mais ouvir forever, tipo a "Bad Romance" de 1996), mas esse trabalho veio numa direção diferente, que já vinha se sinalizando desde o anterior Maquinarama: menos dançante (chega de metais!) e mais puxado pro rock. Em Cosmotron, o grupo resolveu prestar um tributo aos Beatles. O resultado vai da simples inspiração à mais descarada chupação, especialmente na primeira metade do álbum (a faixa de abertura "Supernova" é o exemplo mais gritante).

O álbum foi bem recebido pela crítica, mas não teve o mesmo sucesso comercial de lançamentos anteriores. Três foram as músicas de trabalho: a alegrinha "Vou Deixar", que virou tema de novela da Globo, a acústica "Amores Imperfeitos" e a balada "Dois Rios", talvez a canção mais bonita da história da banda, junto com "Resposta" (1998). O disco todo é gostoso de ouvir, coeso e bem amarrado (até me animou a pesquisar trabalhos posteriores da banda), mas a música que me cativou mesmo foi "Formato Mínimo".

Embalada por uma melodia delicada, a letra conta a história de uma one-night stand, dentro do bom padrão de qualidade do compositor Samuel Rosa. Muito bacana a métrica dos versos, toda apoiada em palavras proparoxítonas, uma ideia simplesmente genial... que Chico Buarque já tinha tido antes, em "Construção". Tudo bem: certa vez, o editor de uma conhecida revista gay escreveu em seu blog que "se a pessoa não tiver ideia nenhuma, não tem muito problema. Juntar outras de repertórios diferentes e dar um novo sentido a elas já é um trabalho digno de nota. Vale copiar, reproduzir, refazer". Nesse exercício de retroalimentação, de releituras de referências, o Skank mandou muito bem.

FORMATO MÍNIMO
Começou de súbito
A festa estava mesmo ótima
Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima

Ele reparou nos óculos
Ela reparou nas vírgulas
Ele ofereceu-lhe um ácido
E ela achou aquilo o máximo

Os lábios se tocaram ásperos
Em beijos de tirar o fôlego
Tímidos, transaram trôpegos
E ávidos gozaram rápido

Ele procurava álibis
Ela flutuava lépida
Ele sucumbia ao pânico
E ela descansava lívida

O medo redigiu-se ínfimo
E ele percebeu a dádiva
Declarou-se dela o súdito
Desenhou-se a história trágica

Ele enfim dormiu apático
Na noite segredosa e cálida
Ela despertou-se tímida
Feita do desejo a vítima

Fugiu dali tão rápido
Caminhando passos tétricos
Amor em sua mente épico
Transformado em jogo cínico

Para ele uma transa típica
O amor em seu formato mínimo
O corpo se expressando clínico
Da triste solidão a rúbrica


Uma versão ao vivo da música, tirada do DVD da turnê de Cosmotron, você encontra aqui.

14 comentários:

Danilo Idman disse...

Aprendeu a baixar albuns inteiros via torrent? Bjo

Unknown disse...

Esse disco é ótimo nas músicas que menos tocaram. Formato Mínimo é, sem dúvidas, minha preferida! :-)

Unknown disse...

Putz, não apenas captei vossa mensagem, amado mestre, como participei até de gravação do dito programa! E, cá entre nós, tinha uma tara infantil secreta pelo Bambaleão (mais tarde tive outra dessas pelo Dino da Silva Sauro, vai entender...)

Unknown disse...

P.S.: Sabe que eu nunca tinha realmente reparado no lado lúdico-infatil daqueles nomes todos? Quando você os mencionou de uma vez, achei divertido! :-) Tomatão... :-)

Anônimo disse...

Obrigado, Thiago! Mas você não se livrou de mim, pois continuarei a dar pitacos por aqui...hehehehe

Abraço.

Daniel Cassus disse...

Finalmente instalou o WinRar?

Thiago Lasco disse...

Sim, Daniel! E sabe que não doeu nada?

De qq maneira, eu ainda defendo que as pessoas COMPREM discos. Depois de fazer um test drive com o MP3. E se eles forem encontráveis nas cada vez mais mirradas lojas de CD.

... disse...

Oi! Tudo bem? Eu ainda não ouvi esse disco... vou conferir a tua dica!
Agora... cerveja com gosto de cera de ouvido eu ainda não tinha ouvido... hehehe... acho que vou parar de beber até!
Gostei de sua visita, do seu blog e dos seus comments... principalmente aquele no post O Gueto! Volte mais vezes! Eu voltarei! Hugz!

instiga-me disse...

Adorei a dica, Introspective!
abç!

Anônimo disse...

Legalzinha. Pena que na última frase há um erro crasso...Não existe "rúbrica", mas "rubrica", por ser uma palavra paroxítona...
Ruiu a "bacanice" da métrica dos versos...

Wans disse...

Olá, tudo bem? Muitíssimo obrigado pela visita. Tava ontem, fuçando no seu blog. Depois eu te conto o processo de cicatrização e outras coisas, ok?

Eu particularmente não gosto de Skank. Mas reconheço que uma ou outra música as veze snão em sai da cabeça.

Mauri Boffil disse...

ah... esse cd é magnífico!

... disse...

Valeu pelo comment, man! Hugz!

Cristiano Contreiras disse...

Ótimo cd!