domingo, 30 de maio de 2010

Cães e gatos

Quando se fala em animais de estimação, cachorros e gatos são as opções mais lembradas. Para tomar a decisão certa, não basta escolher o mais bonitinho. Conforme o temperamento e as expectativas de cada dono, um ou o outro será mais adequado. Cachorros são carinhosos: fazem festa quando você chega, cobram atenção, querem estar sempre junto, têm prazer em participar da sua vida. Por isso, acabam sendo ótimas companhias para pessoas solitárias, carentes ou simplesmente cheias de amor para dar.

Os felinos, por sua vez, são desapegados, práticos e individualistas. Um gato chega junto, marca presença ou pede colo se e quando quiser. Quando não está a fim, ou quando não está precisando de nada, sai à francesa, vai pro canto dele e nem confiança para o dono. Às vezes, aparece só para comer e em seguida some novamente. Independente por natureza, adapta-se bem àquele perfil de dono que passa o dia fora, não tem saco ou disponibilidade para viver grudado e não poderia bancar um pet que fizesse chantagem emocional diária, a cada nova separação.

Essa mesma dicotomia, eu projeto nas minhas amizades. Costumo dizer que existem amigos-cão e amigos-gato. Os amigos-cão são aqueles com quem você fala o tempo todo; vocês se telefonam e se veem a qualquer hora, mesmo sem ter um grande motivo para isso - o desejo de estar junto e dividir as bobagens do dia-a-dia já é suficiente. São pessoas que estão sempre por dentro da sua vida, porque os caminhos andam juntos naturalmente (ainda que com eventuais desencontros ao longo do tempo). Com eles, você sabe que pode contar sempre, nos bons e maus momentos, sem pudores, frescuras ou cerimônias. São grandes companheiros e os abraços e carinhos só não são mais especiais porque acontecem sempre e a todo momento.

Já os amigos-gato dão as caras apenas quando querem. Vocês se encontram, conversam, se divertem e é ótimo. Depois, eles podem desaparecer por semanas ou até meses, e nem mesmo uma ligação ou e-mail seus podem abreviar o sumiço: eles não vão retornar seu contato, e só voltarão a procurar você dentro do timing muito peculiar deles. Por isso, se a questão for urgente, não peça socorro para eles - você corre um sério risco de ficar na mão. Isso não quer dizer, porém, que eles não se importem ou não gostem de você. Ou que as atenções deles sejam insinceras e movidas por interesse. Como os felinos, eles prezam demais a própria liberdade, o direito de ir e vir como bem entenderem, e não toleram pegação no pé.

Se o segredo da boa convivência passa pela aceitação das diferenças do outro, entender a natureza dos seus amigos é fundamental para evitar desgastes. A combinação mais delicada e sujeita a instabilidades climáticas é aquela em que alguém com perfil de cachorro se relaciona com um amigo-gato. O temperamento afetuoso e, em certa medida, emocionalmente dependente do sujeito acaba exigindo da amizade uma presença e um nível de troca que o amigo-gato não está disposto a dar, porque não é do seu feitio, é contra a sua natureza.

Antes de onerar a relação com cobranças que só farão entornar o caldo, convém fazer um esforço extra para enxergar o outro como é, resistir ao impulso de moldá-lo aos nossos valores e compreender que certos gestos e atenções devem ser espontâneos. Nem todo mundo é capaz de preencher todas as nossas necessidades; para algumas delas, é melhor poupar frustrações e contar logo com um amigo-cachorro. Uma atitude muito mais sábia do que passar dias e noites a fio tentando ensinar um gato a sentar e dar a pata.

16 comentários:

K. disse...

ando passando por um momento de reavaliação de amizades... alguns amigos eu deixei irem embora sem sentir falta, outros eu ainda penso se não deveria resgatar, ligar, mandar sinal de fumaça...

mas no fundo, uma amiga tem razão: não importa o tipo do amigo, o tempo de amizade, nada. se o amigo não cumprir um papel na sua vida (e vice-versa), é melhor deixar a amizade virar uma boa lembrança. ninguém disse que todo amigo é pra sempre.

(mas confesso que me dou bem melhor com os cachorros... assim como só gosto dos cachorros - os quadrúpedes)

Wans disse...

Pra minha vida, prefiro os cachorros. Nunca gostei dos gatos. Se é para dividir carinho e apego, que seja pelo ser mais leal de todos, não?

bjs

Pois é, mas cadê esses cús, menino?

Anônimo disse...

Muito bacana o texto...as amizades são assim mesmo e devemos entende-las para melhor aproveita-las...Tá chegando a parada. Esse ano você não vai fazer um guia atualizado dos bares e restaurantes para turistas como eu? Abraços.

Lourival Lima Jr disse...

Gostei da comparação. Mas penso que existem exceções...como o Gron, meu gato de estimação. É muito apegado comigo, sempre está no mesmo cômodo que eu, pede colo e aceita colo também. É só eu deitar no sofá ou na cama e ele deita ao meu lado ou encima de mim. Reclama horrores quando passo muito tempo fora. Até me chama prá brincar com ele (a preferida é a da bolinha de papel. Eu jogo uma bolinha, ele brinca, depois pega a bolinha na boca, vem até mim e joga no meu pé, esperando eu jogar de novo). Fico pensando se não é um cachorro encarnado em um felino.

Voltando aos amigos, como você disse, é preciso haver respeito. Entender a natureza dos amigos-cães e amigos-gatos. E, pensando bem, somos um pouco de cada. Com alguns sou mais cachorro, com outros, mais gatos. Uma natureza dual-animal em mim.

Mas amigos-pets sempre são bem vindos.

Paulo disse...

Cachorros e amigos-cachorros são a minha preferência!! Muita festa, sempre por perto quando você precisa, melhores amigos, etc!

Não costumo me dar muito bem com amigos-gatos. Afcabo me afastando e, invariavelmente, perdendo todo o contato com eles...

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

só tenho amigos cachorros ... os outros não considero como tal ... no máximo conhecidos ... tenho um verdadeiro canil ...

bjux

;-)

Mauri Boffil disse...

Eu prefiro os cachorros... embora eu seja meio gato...

Diego Rebouças disse...

Eu prefiro os cachorros.

E acho que tem uma linha bem tênue aí nesse amigo-gato, de ser ou não ser um amigo, você não acha? Acho que liberdade e timing próprio não podem ser pretexto para irresponsabilidade.

E uma amizade sempre é uma responsabilidade. Se não, é outra coisa.

O que você acha?

Lourival Lima Jr disse...

Ah, sim...esqueci de falar.

Meu gato (o de verdade, não o namorado) dá a pata.

André Mans disse...

pode ser meio gato, meio cachorro?
eu sou assim.

Lobo disse...

Concordo muito com isso.

Seja um gato para com os amigo-gato, e um cachorro para os amigo-cachorro. Assim cada um tem a atenção que merece. Eu sou fã dos cachorros e amigos-cachorros, mas lido muito bem com os amigos-gato, e sei ser um amigo-gato muito eficiente quando convém...

Coisas que a vida ensina...

Abraços!

Rodrigo disse...

Cara, gostei muito do texto e como ja disseram, 'coisas que a vida ensina'

bjo, guri.

Alexandre Willer Melo disse...

estou mais para o cão,,,fato.
tenho dos dois tipos e entendo os dois.
wans é cão também e gosta dos cães, ai se você ficar uma semana sem dar novas ou um e-mail que seja...ele gosta de ter os amigos perto...

Scofield disse...

Adooooro gatos. São a minha cara.

Discípulo disse...

Miau II - o retorno

Anônimo disse...

Texto ótimo, Thiago. Mas, como tudo o que se presta aos estereótipos, não esgota o assunto (nem pretende, acho eu). Tenho amigos que ficam no meio-termo. Tendem ao canino, mas sem a fidelidade, a constância e a doçura do cão. E não se pode dizer que seja questão de temperamento - ou só de temperamento. Existem os amigos casados, com filhos e ocupações que não permitem aquele convívio canino. São amorosos e muito queridos, mas desaparecem por longos (e compreensíveis) períodos. Nesses casos, é preciso ser um cão inteligente. Aprender com o gato, sem deixar de latir.