segunda-feira, 17 de maio de 2010

Mobilidade social

Quem gosta de ler Valor Econômico e cadernos de finanças em geral (não é o meu caso) sabe que o valor das ações de uma companhia na Bolsa sobe e desce ao sabor de diversos acontecimentos nos quais a empresa se envolve. Lançamento de produtos, notícias de fusões e aquisições, escândalos envolvendo sócios e até mesmo meros temores, boatos e especulações são capazes de fazer a cotação daquela empresa escalar degraus ou despencar no mercado.

Algo parecido acontece na vida social. Nossa cotação nos meios em que transitamos também flutua ao longo do tempo. E tudo pode ser motivo. Construímos um corpão. Ganhamos destaque por conta de nossa atuação profissional. Compramos um belo carro. Passamos a frequentar o círculo social de alguém tido como importante. Vestimos as roupas certas. Começamos a sair com um tipão, desses bem cobiçados. Fazemos uma determinada viagem. Moramos numa casa ótima para festas. Pelos nossos feitos ou nossas ideias, conquistamos visibilidade. Ou então descuidamos da forma física. Cometemos uma gafe pública. Enfrentamos um problema de saúde. Levamos aquele fora. Entramos no vermelho. Perdemos o emprego. Ou o trono.

Se as causas são muitas, as conseqüências também são diversas, e bem claras: conforme a maré esteja ou não ao seu favor, todas as portas se abrem - ou se fecham. Quando tudo vai bem, todos querem saber como você está. Querem sua companhia, sua presença e sua participação. O telefone não pára de tocar; convites chegam ao seu e-mail e à soleira da sua porta. Chovem gentilezas, scraps, twits, comments, beijos e abraços, de dia e à noite. E propostas indecorosas, é claro - de sexo e até namoro. Mas o mercado é instável, e a mesma fonte que jorra dólares pode estar seca depois de dobrada a esquina. É um jogo: lance os dados, ande quatro casas, volte três casas. De mandachuva a pária, de Gisele a Geni, de instant hit a epic fail, esses emocionantes fluxos e oscilações são a verdadeira expressão da mobilidade social em nosso meio.

Como as fases de bonança e revés se alternam, as mesmas pessoas que um dia abriram as portas para você poderão fechá-las e - o que é mais engraçado - depois voltar a abri-las, com um sorriso sempre impecável. O que nos faz lembrar que não dá para levar nada disso muito a sério. E que quem aposta em você em um dia e abandona o barco no outro não é seu amigo, mas apenas um especulador barato. Que é o que mais tem por aí.

25 comentários:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

esta é a realidade fria dos dias de hoje ... é lamentável que ao par de tantos avanços relevantes a sociedade e seus membros vão retrocedendo no tempo e no espaço, tornando-se em verdadeiras bestas medievais ... ou pior que isto ...

bjux

;-)

Anônimo disse...

Ainda bem que existem animais de estimaçao e saunas com boys

Anônimo disse...

Voce tem toda razão, melhor nao levar isso muito a serio, por que essas pessoas assim nao sao serias nem sao amigas de fato. O mundo é cruel, mas nosso pequeno mundo, aquele que escolhemos para nos acolher, pode ser de melhor qualidade. Acabei de escrever algo que se encaixa no seu texto, nao exatamente a mesma coisa,mas parecido.
Enfim, se quiser uma amiga, conte comigo. Voce ja é amigode minha irma e isso para mim é uma boa referencia. Gosto dos seus textos, voce é claro e transparente. Enfim,sei la por que digo isso agora,mas , pode contar comigo.
Beijos, Cam ( ah, entrei para o face...como Camille, claro. Bjos)

K. disse...

esta dinâmica é tão perturbadora... eu percebi que perdi um pouco da paciência com isso tudo... passei a descartar gente louca e preferi manter ao redor alguns poucos. amizade, ou "the next best thing", dá muito trabalho para ser com gente que não vale mais do que "one hit wonder".

Lobo disse...

Nada nessa vida pode ser levada muito a sério. Especialmente as pessoas. Esperar de mais de alguém é um convite a se jogar de um abismo. Quando a consistência das pessoas a sua volta varia tanto quanto a maré, o melhor a fazer é ficar longe da praia. Monótono, porém seguro...

Fábio Carvalho disse...

a síntese perfeita está na sua frase "não dá para levar nada disso muito a sério". não é preciso dizer mais nada.

Mauri Boffil disse...

isso é o pior mesmo... tudo anda tão prático e moderno que chega a não ser duradouro...
Aprendi que sempre devemos esperar o pior das coisas, pois se coisas boas vierem, nos surpreenderemos!

Unknown disse...

Cara vou para Buenos Aires e pesquisando acabei no teu Blogg. Foi uma boa surpresa, virei freguês.
Parabéns!!!!!!!

Carlos Orefice

CARIOCA VIRTUAL disse...

Thi, SENSACIONAL! e o mais impressionante é que isto se dá em qual classe, genero e orientação... pinte a parede do seu barraco e vc vira a sensação da comunidade; exiba-se com o ator da novela a tira colo e vc tem a pulseira vip; compre a bolsa mais cara do momento e ela tem as portas abertas. Sensacional! e triste ao mesmo tempo...

... disse...

WOW... aqui é tudo tão... tão... épico-solene que a VJ até se envergonha de sua dispiroquice... hahaha! Mas tipo assim... perereca, não sei... contigo prefiro mais um lance "lagartixa"... tipo: me joga na parede... hahahahaha!
Hugzzzzzzzzzz!

beto disse...

acho que K. aí em cima resumiu bem meu pensamento.
Poucos e bons, gente louca pra escanteio.
E, pode ser egoísta, mas tb ando sem paciência pra gente com vocação de ser infeliz, que toda semana sai pra jantar com vc e sempre passa 90% do tempo falando de si mesmo e se lamentando que não tem um homem na vida (isso vale pros meus conhecidos gays e as conhecidas tb, infelizmente). Meu ouvido não quer mais escutar samba de uma nota só!
Até acho que semana passada abalei seriamente uma das poucas e boas amizades porque deixei bem claro que não aguentava mais ser o repositório das infelicidades alheias (que vem junto com a imaturidade de achar que a vida é sempre um passeio num mar de rosas floridas e perfumadas...)

Discípulo disse...

Mas este foi um post do Thiago, ou minha voz interior? Amei o tema, o ritmo do texto, o dizer sem dizer... CLAP, CLAP, CLAP!

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

ô menino danado sô! como vc advinhou? foi exatamente assim ... todo mijado ... kkkkkkkkkkkkk

bjux

;-)

Diego Rebouças disse...

Detalhe da foto que ilustra o texto. Subir não é fácil. Já cair...

... disse...

Teu comment - assim como teus textos - foi soberbo e divertido!!! Hugz, man! Que Jesus coloque muitos cafuçus na tua vida... hahaha!

endim mawess disse...

nossa que texto. isso é que é critica social estilosa. adorei seu blog. ps: cuidado com esse tal de paulo bracini os textos dele causam dependencia.

Anônimo disse...

“Nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados. Nosso medo mais profundo é que somos poderosos além de qualquer medida. É a nossa luz, não as nossas trevas, o que mais nos apavora. Nós nos perguntamos: Quem sou eu para ser brilhante, maravilhoso, talentoso e fabuloso? Na realidade, quem é você para não ser? Você é filho do universo. Se fazer pequeno não ajuda o mundo. Não há iluminação em se encolher, para que os outros não se sintam inseguros quando estão perto de você. Nascemos para manifestar a glória do universo que está dentro de nós. Não está apenas em um de nós: está em todos nós. E conforme deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo. E conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, libera os outros.”

Nelson Mandela

Anônimo disse...

ESPERO QUE GOSTE DO TEXTO, O SEU É OTIMO!E ME FEZ LEMBRAR DESTE DO MANDELA ! ( VC SAIU DO ORKUT OU APENAS SAIU DO MEU???)

Ivo disse...

Unsurprisingly, mais um post irretocável. Se puder, leia esse texto da (minha de sempre) Clarice:

http://www.interney.net/blogs/heresialoira/2009/12/10/a_vitoria_nossa_de_cada_dia/

O trecho está naquele livro que eu dei pra você uns aniversários atrás.

Grande beijo e parabéns.

Alexandre Willer Melo disse...

esse é um caso de clichê mais do que real.
você conhece verdadeiramente as pessoas na hora que precisa muito delas..fato.
geralmente, nessas horas, espantosamente, a quantidade de pessoas dispostas a estar com você é inversamente proporcional ao tamanho do seu problema.
gente que só enxerga você quando está com as marcas, com tudo em cima e cifrões e facilidades ao seu redor.
no fim, ficam aí meia dúzia de três ou quatro que realmente não se importam se você vei servir caviar ou rapadura.

S.A.M disse...

Nessa vida realmente especuladores não faltam, mas o pior é quando eles se aproximam de voce tentando sua amizade.

Estou tentando ser uma "poupança", pode não estar rendendo horrores, mas é segura, placida e sempre rende... rs

Abração e eu amo os teus raciocínios queridão!

Guy Franco disse...

Por isso que existe o termo "alta sociedade" e eu faço xixi.

Vinildo disse...

adorei seu blog!
parabéns. informativo, bem escrito, com opinião
abraço

Junior disse...

Mais um parabéns pra lista. Curioso mesmo foi o timing: após uma festa ontem, graças a observações e constatações durante o acontecimento, acordei hoje a refletir sobre os mesmos aspectos. Agudo e certeiro seu texto, como sempre.
;)

FernandoBSB disse...

Thi,

Vou pular a parte em que elogio e blá blá blá para não ser redundante. ;-)

Eu fico com a turma que retirou as ações do mercado, reavaliou valores (com foco apurado no próprio valor) e hoje prefere investir consciente de quem está por trás do carrão, das marcas, do corpão, da casa incrível, da conta com vários dígitos, da kitinete, do bilhete único entre outros... No fundo especuladores não sustentam o investimento por muito tempo e sequer são capazes - na maioria das vezes - de simular seu comportamento. Para eles o mercado é vasto, mas eu, felizmente, estou fora ;-)

Abração!