O empresário que pretende trabalhar com noite precisa conhecer bem seu público e ficar sempre ligado nos seus desejos, que mudam. Deve estar atento para detectar lacunas e nichos ainda não explorados, e transformá-los em oportunidades. E, acima de tudo, não pode se acomodar, sobretudo se estamos falando de uma cidade ávida por novidades como São Paulo. Enquanto em San Francisco os lugares que acontecem na cena gay já existiam há 15 anos, e provavelmente viverão outros quinze [vou falar sobre esse assunto no próximo post, que continuará minha série sobre os Estados Unidos], aqui é preciso se esforçar para manter o interesse do cliente, cuja fidelidade muitas vezes só vai até a página três.
Dono de um tino empresarial admirável, André Almada não veio ao mundo a passeio. A The Week fez dele o principal nome da noite gay do país e virou uma marca de projeção internacional. Sete anos depois, a joia está cada vez mais lapidada, e a lotação das duas pistas do clube em um sábado comum é a maior prova de seu sucesso. No entanto, depois de tanto tempo, certa parte da freguesia - o gay bonito e de melhor poder aquisitivo, que sempre foi o público-alvo da casa - já vinha dando sinais de cansaço: alguns passaram a aparecer somente nas festas especiais. Existia uma demanda por um formato de diversão menos hardcore e mais intimista, como eu já havia comentado aqui. Além disso, para quem busca a sensação de exclusividade, a chegada de pessoas sem o mesmo pedigree, fruto das listas de desconto que passaram a formar longas filas na entrada lateral antes da 1 da manhã, foi um balde de água fria. Esperto, e sabendo que precisava evitar a perda de sua melhor clientela, Almada concebeu um novo clube, uma alternativa para aqueles que estavam cansados da The Week.
A nova empreitada atende pelo nome de The Society e veio ao mundo nesta semana, em três noites de inauguração. A localização é estratégica, na esquina da Augusta com a Marquês de Paranaguá, a uma quadra da Frei Caneca. O casarão, tombado, tem dois andares e o projeto de decoração, assinado por Sig Bergamin, recria "a residência de um aristocrata boêmio do século XIX, que recebe os amigos para festas", segundo li por aí. No térreo fica a pista, com o DJ tocando em um palco emoldurado por luzinhas amarelas de camarim, numa referência meio Moulin Rouge. Não é permitido ficar sem camisa, nem mesmo usar regata: a proposta aqui é outra, sem a jogação pesada do galpão da Lapa. Uma escadaria leva ao piso superior, um lounge com muitos tapetes, quadros, cortinas de veludo e móveis de época. Como sempre, o capricho nos detalhes é visível - a cereja do bolo é o aposento onde ficam os caixas, lindamente decorado como um escritório-biblioteca. No terraço que serve de fumódromo, uma bandeja de prata com bem-casados não destoaria em nada do estilo, que tem algo de bufê. Até os barmen-cafuçus do staff ganharam borrifos de nobreza, com camisa e gravata.
Na minha opinião, é justamente no andar de cima que está o maior potencial da casa. Nossa cena tem diversas boates que chovem no molhado, com a mesma proposta de sempre, mas não tinha bons lugares para sentar e conversar. O finado Café com Vodka foi uma iniciativa válida, mas no Sonique as pessoas ficavam em pé o tempo todo e o ambiente, claro e com concreto aparente, não propiciava o aconchego necessário. No The Society, o conforto e a luz baixa do lounge convidam a uma noite regada a bons drink, sempre sem desarrumar o penteado, suar a camisa ou perder o celular. Os preços - R$8 por um suco e R$22 por um drinque com aguardente nacional - filtram um público mais sofisticado, assim como a decisão de não aproveitar o sistema de cartões White e Black da TW.
Num primeiro momento, quando voltei ao Brasil e os amigos me contaram da novidade, pensei que a ideia era revidar o ataque do Lions, que vinha roubando parte dos polo boys da TW. Depois de conhecer o novo clube, entendo que são propostas diferentes, ainda que possam atingir o mesmo público. Ambas as casas têm algumas referências estéticas parecidas, mas o Lions é mais clube e o The Society, mais lounge. A imponência rococó da casa de André Almada contrasta com o clima mais informal da varandona do Lions. Os cardápios sonoros também não se confundem, já que a pegada do Lions é mais eletrônica, enquanto o próprio Almada me contou que seus DJs não vão fugir do padrão usual na nova casa. Por fim, o The Society funcionará na quinta, na sexta e no domingo, dando ao público inúmeras possibilidades - inclusive a de também continuar frequentando o Lions e a The Week.
[Foto: Alê Macedo/Vipado - Ayltom, se você quiser eu removo a imagem do blog, ok?]
sexta-feira, 27 de maio de 2011
The Society: para moços de fino trato
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11 comentários:
"pedigree", "público sofisticado", "polo boys"...já pode vomitar?
Titulo do texto deveria ser: A Sociedade do Jabá
o clube está realmente lindo. sobre o andre almada, bem, ele parece mesmo ter o toque de midas.
mas eu e a Giselle, continuamos sendo convidadas de honra.
Gente, deixa o moço trabalhar. Se ele quer abrir outra casa e tem público pra isso, porque demonizá-lo? Acho que tem espaço para todo mundo, ainda mais em SP.
eu quero conhecer!
E essa casa nova...tem jardim para os polo boys finos? ;)
Don Diego: Não, não tem jardim. Tanto que lá pelas tantas um rapaz disse que iria alugar a casa da frente e transformar em dark room. "Vou ficar rico!", brincou.
mega cara do brasil e de sampa! me pergunto sempre pq o brasileiro precisa se sentir importante e exclusivo e pagar muito caro por isso. a quantidade de pessoas é grande, mas manter um sociedade somente na exclusao pelo dinheiro é um caminho que nao vai levar o pais ao futuro, pois sempre ouvi que o brasil é o pais do futuro, me avisem qdo ele chegar.... rssss
a bientot!!
O Ale Macedo fez mesmo ótimas fotos do clube. Bjos querido. Ailton
Nossa! Essa sensação de exclusividade é muito boa mesmo... Realmente, beleza e dinheiro é algo que ENGRANDECE o homem, seja ele hétero ou gay, bonito ou não. E ter pedigree... ah..., isso é pra poucos cachorros mesmo! Mas me tranquiliza saber que os barmen-cafuçus ganham seus borrifos de perfume nobre - eu não suportaria o odor. E sou tomado por uma alegria colossal ao perceber que somente pessoas com poder aquisitivo, um os dois diplomas na parede, e que viajam o mundo - como nós - podem ter uma visão de mundo tão ampla como essa. Preciso parabenizá-lo por defender os direitos dessa nossa sociedade exclusiva e intimista - e por se preocupar com "direitos iguais" para os homossexuais! (#ashamed#)
Anônimo, se vc tivesse feito uma leitura menos superficial do texto veria que não defendi coisa alguma. Mas acho que vc não é capaz de ler nas entrelinhas...
Anônimo, bati palmas pra vc... clap clap clap... E.., me impressiono com pessoas que mesmo tendo um certo potencial se tornam em verdadeiros "cafuçus" em nome de um puxa-saquismo de donos de boates... Mas, tudo pra garantir sua entradinha diferenciada e não ter que frequentar as tais filas quilométricas que se formam até a 1:00 da manhã... Como adm posso garantir que é o "volume" dessas filas de listas de desconto que fazem o ambiente... Uma pista vazia ou com buracos não dobraria a proxima esquina... É gente diferenciada usando e descartando os cafuçus... Viva o Brasil sil sil sil silll...
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