sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Créu ou crau

No segundo dia do Curso Estado de Jornalismo, logo cedo pela manhã, uma mulher entrou na sala dos focas, que já a aguardavam. Encheu os pulmões de ar, abriu a boca e desatou a falar, falar e falar. Emendava uma na outra, ágil, esperta, verborrágica. Aquela era uma carioca que dançava o créu na velocidade 5, e nunca perdia o rebolado. Diante daquela criatura tão agitada, fiquei entre perplexo e maravilhado. "Mas o que foi que deram para essa mulher tomar?". Estávamos tão interessados que a aula evaporou e metade do grupo cercou a coitada, que quase perdeu a hora de almoço. A mulher parecia incansável, e queríamos sugar todo o néctar dela.

Não tive dúvidas: aquela era uma típica representante da minha nova profissão. Reconheci nela algo muito familiar, tive a mesma sensação que já experimentara quando me metia em rodinhas de jornalistas, nos bares e festas da vida. Verdadeiras metralhadoras giratórias, eles tiravam da manga os assuntos mais variados e díspares, cruzavam mil referências, estavam sempre ligados em tudo, em uma vígilia constante do que se passava no mundo, na TV, nas bolsas de valores, nas paradas de sucesso. Perto deles, eu era uma ameba lenta e analógica, sem a menor condição de acompanhar aquele comboio supersônico frenético que era mezzo enciclopédia, mezzo anfetamina.

Aos poucos, acredito que o Curso nos deixará mais próximos desses seres elétricos. Não falo aqui de experiência ou conhecimento, que só virão com o tempo e as inevitáveis cabeçadas, mas de sintonia, velocidade, ritmo. Estamos no décimo sexto dia, e até agora não tivemos um único dia de descanso - quando não tem aula, tem pauta para bolar na rua e reportagem para fazer. E olha que a brincadeira mal começou. Quando entrarmos nas redações, e tivermos que conciliar também as demandas do trabalho, os plantões, aí sim entenderemos porque nossos veteranos são tão acelerados, e entraremos no mesmo esquema. Não tem outro jeito: é créu ou crau, afinal o tempo urge e o fechamento se aproxima.

E quem disse que os jornalistas não gostam? Filomena Salemme, papisa do rádio que veio nos fazer uma visita um dia desses, não quer outra coisa da vida. "Sabe quando a gente fica feliz? Quando muda tudo, e a gente tem que sair correndo. Amamos essa adrenalina!". O que eu acho de tudo isso? Quando eu era advogado, havia alguma reviravolta no processo e eu tinha que sair correndo para apagar o incêndio, confesso que eu não gostava muito, não. Agora que deixei para trás aquele mundo de mogno, mármore e carpete, no qual eu parecia congelado para sempre, tudo ganha um novo sentido. Sinto-me vivo outra vez, novas possibilidades estão se abrindo e vejo uma onda de excitação me contagiar. Se for preciso correr, então vam'bora! O Jornalismo, que parecia tão distante, está prestes a me tragar em seu redemoinho. Não parem o mundo, que eu não quero descer.

3 comentários:

Fábio Carvalho disse...

"Sinto-me vivo outra vez"
Fiquei extremamente emocionado e feliz em ler esta sua declaração! De verdade!! Como é incrível quando uma pessoa encontra este sensação em sua vida! Agarre este sentimento, Thi, e o faça durar o mais que você puder. Tente entender porque você sentiu isso, o que provocou este sentimento, e busque sempre por este catalizador em sua vida.
BEIJOS!
muito feliz MESMO por você, querido!

Anônimo disse...

To achando mais facil vc emplacar como jornaleiro do que como jornalista.

Fernanda C disse...

...engraçado, certas pessoas realmente não possuem sensibilidade...fico ansiosa esperando uma postagem sua e suas observações realmente são incríveis e nas suas férias não via a hora do retorno dos posts, parabéns!!! Aliás adorei a analogia do mundo de mogno, mármore e carpete...que infelizmente não existe somente no âmbito jurídico, até mesmo como escrito anteriormente...é uma questão de tato...rsss