terça-feira, 1 de maio de 2007

Tinta fresca no Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro é deprimente: sempre que eu volto de lá, me dá uma deprê danada. Amo minha cidade mas, quando volto do Rio, preciso de pelo menos uma semana para recuperar minha auto-estima de paulistano e lembrar que São Paulo também é legal.

Brincadeiras e bairrismos à parte, os cariocas sempre guardaram um certo ressentimento pelo fato de que São Paulo se tornou o centro econômico e financeiro do País e, com isso, o Rio de Janeiro perdeu não só prestígio como também muito dinheiro. Antigamente, a maioria das grandes empresas tinha sede na Cidade Maravilhosa; hoje, pouquíssimas são as que não se transferiram para cá, deixando no Rio apenas um escritório comercial ou algo do tipo. Aos poucos, o Rio foi passando a receber menos investimentos e começou a viver uma certa sensação de abandono. Definitivamente, "o dinheiro do Brasil" não estava mais ali.

Se o Rio atravessou mesmo uma fase de desaquecimento econômico, o que me pareceu nessa última visita é que essa recessão já está bem longe, no passado. A cidade nunca esteve tão agitada em termos de novos investimentos - pelo menos, naqueles setores que um cidadão de fora como eu percebe. Fazia apenas dois meses que eu não ia para o Rio, e ainda assim fiquei impressionado com a quantidade de novidades que encontrei no circuitinho Zona Sul que eu freqüento.

Algumas dessas novidades já eram esperadas havia bastante tempo, é verdade. Os novos quiosques da orla de Copacabana, por exemplo, já deveriam estar prontos para o verão passado, mas só agora finalmente deslancharam - vi muitos novos em funcionamento. Ainda em Copacabana, a nova estação do metrô ficou uma beleza. Chama-se Cantagalo e foi construída estrategicamente na Praça Eugênio Jardim, pertinho do Corte Cantagalo, servindo também aos moradores da Lagoa. E, como já era óbvio que o metrô para a Barra não iria sair do papel a tempo para os Jogos Panamericanos, trataram de esticar até lá o tal "Metrô na Superfície", típico improviso de carioca que, de qualquer forma, permite uma viagem bem mais rápida do que pelo ônibus normal.

Em Ipanema, outras novidades com cheiro de tinta fresca. A tradicional padaria Martinica, na esquina da Visconde com a Vinícius, praticamente veio abaixo e se refez do zero - ficou um desbunde, parece até aquelas superpadarias classudas de São Paulo. E o querido Gula Gula construiu uma nova filial Ipanema, na Henrique Dumont, aposentando o apertado ponto da Aníbal de Mendonça. No Leblon, o Shopping Leblon já é notícia velha, mas continua dando o que falar, com mais restaurantes abrindo no piso superior - depois de Ráscal e Outback, veio o japa fashion Nori, e o primeiro Wraps carioca já está a caminho. E, por falar em restaurantes, não dá pra esquecer do recente boom de restaurantes paulistanos no Rio, de que já falei, especialmente no Jardim Botânico.

Para completar, a The Week, maior clube gay do Brasil e sensação da noite paulistana desde 2004, acaba de anunciar que abrirá no final de maio uma filial no Rio de Janeiro. O local escolhido fica na zona portuária da cidade e a boate terá capacidade para 2000 pessoas - o que é muito, dado o porte da cena noturna carioca. A julgar pelo que aconteceu com a matriz, a The Week Rio tem tudo para fazer sucesso também com o público hétero, e quem sabe comandar um efeito cascata de readequação urbana em toda a região.

Podem dizer que essas novidades beneficiam uma parcela restrita da sociedade, ou mesmo que sou um cara fútil e de visão estreita por dar "tamanha importância" a um punhado de novos lugares "classe média". Mas o fato é que o Rio está vivendo um momento de otimismo, com idéias novas e dinheiro novo. Nós, paulistanos, costumamos ter a sensação de que no Rio as coisas não acontecem, que a cidade vive estagnada, curtindo preguiçosamente a leseira praiana dos cariocas; os exemplos de que falei hoje são um claro sinal de que lá as coisas estão acontecendo sim, e numa velocidade no mínimo comparável à de São Paulo.

5 comentários:

Gui disse...

Acho que muita coisa se foi pra SP, mas só agora estão enxergando que alguma coisa ficou...
O carioca estava com inveja, precisando ser bem tratado, ter mais opções, bons serviços e, principalmente, tava disposto a bombar isso tudo.

Um exemplo simples? Eu sempre reclamava que em SP todo restaurante tinha serviço de manobrista, enquanto no Rio ficava hooooras procurando vaga. Morria de inveja. Hoje poucos não têm... Demorou, mas chegou.

Gui Sillva disse...

O RJ é uma ótima cidade para se viver...Sã Paulo se tornou o centro econômico e financeiro do país, mas isso também acarretou na correria do dia-a-dia que vive o paulistano e agregados.

Tem muita coisa boa acontecendo (e a caminho)na cidade carioca. Boa parte dela, por causa dos jogos Pan-Americanos. Mas que com certeza ficarão por bons anos para cariocas, agregados e visitantes. Ahhhh.e com um detalhe: temos a praia logo ali.

Abração. Boa quinta-feira.
Gui

i disse...

Eu sou um apaixonado pelo Rio de Janeiro... não agüentava São Paulo e achava que o Rio era a solução. Bobagem minha, claro, ambas são cidades pra gente doida. Mas devo dizer duas coisas: nos últimos tempos, quando ia ao Rio, via a mesma, digamos, retomada que você vê. Mas, talvez mais importante, de uma maneira que descaracterizava o que o Rio tinha de melhor, a que damos o nome de "brasilidade", e que se espelhava em lugares que estão pouco a pouco fechando: o Mistura Fina, o Bola Preta, o Caneco 70... Temo que o Rio está seguindo o péssimo exemplo de São Paulo e se tornando um lugar sem face. Isso seria um desastre. Um verdadeiro desastre. Imagine, todo o Rio uma enorme Barra?

Anônimo disse...

Em cidade de praia geralmente é tudo mais lento mesmo, está provado que quanto mais quente o lugar, menos se trabalha.
Sou publicitário e, quando ligo pra alguma agência carioca, nada acontece após às 18h.
Não que isso seja ruim, acho que se trabalha demais aqui em São Paulo, mas o que quero dizer é que o Rio nunca vai ser "eficiente" como São Paulo, assim como a capital paulista nunca vai ter a magia do Rio.

Unknown disse...

Acho uma pena esta comparação que sempre é feita entre as duas cidades por paulistanos.Parece-me provinciano sairmos da nossa cidade e ficarmos comparando a cidade visitada com a nossa de residëncia. Rio de Janeiro e São Paulo são duas cidades com vantagens e desvantagens, da mesma forma que Paris é diferente de Roma, Lisboa ou Londres.