segunda-feira, 23 de julho de 2007

Sonhando acordado na pista da The Week

Nosso meio gay é muito mais influenciado pelos Estados Unidos do que pela Europa. O que toca aqui não é a house gostosa que junta gays e héteros em Londres e Ibiza, e sim o tribal marcado e cheio de vocais que faz as barbies depiladíssimas dublarem nas circuit parties de Miami. Como muitos gays brasileiros só se divertem dentro do gueto, seus ouvidos acabam sendo condicionados a só gostar de batida com cara de Tony Moran e gritaria de diva. Assim, quando uma boate gay daqui traz um DJ de fora que destoa dessa estética, ela corre o risco de enfrentar a cara feia de quem saiu de casa para bater cabelo e acha qualquer coisa sem refrão "pesada demais".

Por conta de tudo isso, para uma casa como a The Week, é muito mais fácil manter o som na linha popular de Offer Nissin e derivados do que convidar um gringo que, mesmo agradando em cheio ao público de Buenos Aires (que tem um ouvido mais europeu), pode não cativar os paulistanos. Por outro lado, não são poucos os clientes da TW que sentem falta de um som mais underground na pista da casa. Essas pessoas acabam preferindo clubes como o Pacha e o Sirena para dançar, e só insistem na TW para ver os amigos e beijar na boca.

Assim, para deixar todo mundo feliz na TW, um DJ convidado tem que saber conciliar os desejos desses dois tipos de público. Deve construir uma base melódica rica e envolvente, gostosa de ouvir e se deixar levar - e o house progressivo costuma ser perfeito para isso. Mas esse som não pode ficar sombrio ou introspectivo demais, muito menos deixar de lado os vocais, porque eles dão uma cara mais leve ao set e, sem eles, quem prefere um som mais fácil acaba se sentindo meio perdido na pista. Assim, agradar a gregos e troianos, sem ser chamado de "pesado" por uns, nem de "bagaceiro" por outros, exige um equilíbrio bastante delicado.

Pouquíssimos DJs que passaram pela pista da TW até hoje entenderam esse equilíbrio tão bem como Aldo Haydar. O argentino não conhecia o público brasileiro mas, em questão de minutos, entendeu a pista que tinha nas mãos e deu conta do recado. O set começou fortemente progressivo, meio dark até, conquistando de cara os fãs do gênero e abrindo um sorriso familiar no rosto dos que já conheciam seu trabalho no Caix. Aos poucos, ele foi jogando vocais e o som ficou mais happy e para cima, mas sem perder a característica intensa e sofisticada. Foi uma deliciosa viagem de três horas, em que a TW viveu o sonho impossível de ter os tais gregos e troianos dançando juntos e felizes. Nas rodinhas em volta, todo mundo estava amando o som do cara.

A The Week acertou em cheio ao convidar Aldo, mas desperdiçou seu poder ao escalá-lo para tocar só a partir das 6 da manhã. Nesse horário, muitos já estavam indo embora, cansados depois de uma noite em que os próprios residentes Renato Cecin e João Neto tocaram mais pesado do que o habitual. Mesmo algumas pessoas que só tinham ido lá para ver o argentino acabaram não dando conta: de 13 amigos meus que já o conheciam de Buenos Aires e eram fãs do cara, apenas 3 tiveram pique para saborear seu som até o final.

Um amigo especulou que a idéia da casa ao colocar Aldo tão tarde era não bater de frente com a inauguração do clube Flex, que aconteceu na mesma noite. Outro contou que naquela ocasião a TW estava estreando seu afterhours - nada mais coerente, portanto, do que colocar o argentino para fazer sua especialidade, que é tocar ao nascer do dia. Nesse caso, porém, a casa deveria ter trabalhado melhor a divulgação do projeto e criado nas pessoas uma expectativa maior, que as fizesse ficar até mais tarde (ou mesmo chegar mais tarde) na boate. Muita gente que estava indo embora não sabia de after nenhum, muito menos de convidado de fora prestes a entrar no som.

Claro que a noite não deixou de ser brilhante por causa disso. Aliás, foi muito mais gostoso ter espaço na pista para poder saborear o manjar sonoro de Aldo Haydar sem empurrões, cotoveladas ou atropelos. Digo sem medo de errar que foi a segunda melhor noite na TW da minha vida. Por outro lado, a TW perdeu a chance de testar o poder de fogo do gringo diante de uma casa cheia - a resposta do público teria sido muito maior se o convidado tivesse assumido as pickups às 3 ou 4 da manhã. Muito mais gente teria ficado maravilhada com o som do argentino, e quem sabe a casa não passasse a considerar Aldo um nome forte para as festas da Parada de 2008. Tenho certeza de que ele seria uma excelente pedida, e farei a sugestão ao próprio André Almada assim que tiver oportunidade.

[Foto: pista principal da The Week bombando em uma outra noite]

17 comentários:

Anônimo disse...

Que tal pro aniversario da boite em setembro? :-)

Alexandre Lucas disse...

O mundo colonial sempre foi influenciado pelo império da vez. E neste momento são os EUA.

Anônimo disse...

Aldo arrasou, mas não esqueçamos do incrível set de João Neto, que arrebentou tudo.

mariajoao disse...

Oi Thiago!!
Como está?! Descobri seu blog! Muito legal!

Tenho um também, mas ainda é bem novinho...
O seu sim, tem historia pra contar!!

beijos e abraços!
mel

www.mariajoaoo.blogspot.com

Anônimo disse...

Eu reforço o que você disse aqui. Eu mesmo teria curtido mais se ele tivesse entrado no meio da noite. Quem sabe em BsAs (ainda esse ano?) em confira mais esse "manjar" com muitas ameixas, se é que você me entende.

Anônimo disse...

Olá Thiago ,como gostaria de ter ido a TW esta noite ....a anterior me acabei com Mário Ochoa... a festa foi muito boa, vibrante,pelo meno pra nossa turma,adoramos o som do colombiano...decididamente o público gay batecabelo precisa conhecer essas outras vertentes antes de tecer comentários babacas...passei mais uma vez pra lhe dar os parabéns pela delícia de texto.
Pode continuar escrevendo .....até mais.

Anônimo disse...

Excelente post, passo no blog há tempos e vc foi perfeito ao descrever os "gregos e troianos".
Realmente, como vc postou, não se fez alarede à visita do Aldo à TW e mto menos ao projeto de after da casa, foi uma falha grotesca.
Assim como vc diz q vai sugerir o Aldo pra 2008, sugira tbm trazer a dupla Midnight Society, acho q o som dos caras cairá como uma luva na TW.
Abcs e mais uma vez, parabéns pelo post e, mais ainda, pelo blog.
Hunter_SP

Anônimo disse...

Fiquei curioso pra conhecer o som do som do Aldo Hayar. Quem sabe numa próxima?

Estefanio disse...

Não conheço ainda o som do Aldo, mas concordo muito com o que você disse, acho um desperdício sem fim toda essa massificação do tribal americano -amo Tony Moran, Rosario e afins- esquecendo de outros 'estilos', muitas são as músicas que baixo na internet que são óóótimas e nunca as ouço nas pista! Nem iria tão loge na Europa, mas pela America do Sul, tem uma galera que faz um som que amo cheio de identidade e se parar pra pensar nos top produtores brasileiros seus sons são todos muito americanos e por isso meio sem identidade e cultura. Amei o set do Eric Entrena na TW Rio exatamente por isso, tocou desde Christina Aguilera Ain't no other man até o som mais progressivo sem vocal que está na minha lista do 'adoro mas não toca' porém muita gente não o entendeu. Acho que agora é a hora da TW trazer os djs ainda desconhecidos da massa brasileira pra torná-los mais conhecidos e quem sabe um dia comandar uma noite especial na casa, como parada por exemplo.

Anônimo disse...

Não consigo ficar num lugar onde a música é mais alta que a conversa. Gosto de sair para trocar idéia com os amigos, até curto dar uma dançada. Mas voltar pra casa com o tímpano apitando, nunca mais... hehehe

Discípulo disse...

Vi no msn a notícia... ótima viagem pra vc, meu querido! Bjus! Cris

Estefanio disse...

Só esqueci de perguntar, qual a primeira melhor noite?

Anônimo disse...

arrff... teve TANTAS primeiras melhores noites na tw!...

Gui disse...

Estefanio, aposto que foi Deeborah Cox e Kristine W.

O Thi dublou horrorez que eu bem sei...rs

Thiago Lasco disse...

@ RAFAEL PASCHOAL: entendo seu comentário, mas é também por essa razão que a TW é um clube incrível: vc tem uma área externa enorme onde pode conversar sossegado - e paquerar! - sem ter que se descabelar mais do que a diva que está cantando.

@ GUI, ESTEFÂNIO: a melhor noite de todas foi a supermaratona do sábado da Parada 2006, com Peter Rauhofer (neste ano, ele não chegou nem perto...)

Anônimo disse...

especialmente que na twsp, o som nao e ensurdecedor. eu nunca sai de la com os ouvidos apitando [mesmo ficando muito tempo na pista]. contrariamente a outras boates aonde ate se ve caras colocando tapa-ouvidos porque nao aguetam mas o som/ ficar surdo (e patetico, mas e comun nos eua ou na europa). sem falar que de fato, se pode ir no jardim, o ano inteiro - e por isso que a tw e tao incomparavel. mas bom, se vc queria mesmo conversar com os amigos, e ir numa boate que e errado. acho melhor ir pra um bar/ um restaurante.

Anônimo disse...

Cara, eu fui no caix no domingo anterior a apresentação do Aldo na TW...
REalmente foi muito maneiro e achei
muito bacana teu comentario, to começando a ler teu blog agora, e tem muita coisa pra ler ainda...

Conseguiu mais um leitor!

Abraço
Leo