sexta-feira, 20 de julho de 2007

O sobe-e-desce de Buenos Aires

Decidi não me alongar demais no assunto Buenos Aires, por enquanto. Se mais tarde eu perceber que muita gente resolveu ir para o festival Creamfields (que acontece todo ano no segundo sábado de novembro; neste ano, cai no dia 10), eu farei aqui um guia completo da cidade, nos mesmos moldes do guia de SP que preparei para a Parada Gay deste ano. Por enquanto, aqui vai mais um resumão clássico com o melhor e o pior.

UAU:

1 - A GASTRONOMIA. A fama das carnes e do dulce de leche argentinos já correu o mundo. Mas a mesa de Buenos Aires vai muito além do manjado bife de chorizo. Tem muitas massas deliciosas (fruto da expressiva imigração de italianos para lá), os sorvetes incríveis que eu comentei aqui e boa culinária contemporânea com sotaques que vão do escandinavo (no moderninho Olsen) ao asiático (nos tailandeses Empire e Lotus Neo Thai e no surpreendente vietnamita Green Bamboo). A cidade é capaz de agradar aos mais exigentes paladares, sem provocar um rombo no orçamento.

2 - A NOITE ELETRÔNICA. Buenos Aires está na rota das turnês de todo grande DJ que se preze e é a meca sul-americana do progressive house. Mas se esse não é seu gênero predileto, não tem problema: a agitada cena local curte tudo sem preconceito e também dança techno, minimal, electrohouse e até drum n'bass (nas terças-feiras do clube Bahrein, com residência do top Bad Boy Orange). A jogação vai de megaclubes como Crobar e Pacha a redutos underground como La Cigalle e Shamrock - e tem seu ápice no megafestival Creamfields, em novembro, que em 2006 juntou 65 mil pessoas e continua crescendo. Tudo isso embalado na buena onda dos argentinos, que quem já esteve no after do Caix conhece bem.

3 - AS BOAS COMPRAS. Com o dólar custando 1,90 para nós e 3,08 para eles, até artigos de valor "tabelado" como tênis e eletrônicos saem 30% mais barato do que no Brasil. A cidade é um bom lugar para rechear o guarda-roupa. Amantes de grifes não acham cuecas CK nem camisetas A&F, mas encontram tudo da Emporio Armani e Diesel (nas novas e atualizadas lojas próprias das marcas e também na Red Store, multimarcas que vende Diesel mais barato), além de artigos diferenciados da Puma, Nike e Adidas. Sem falar que grifes argentinas como Ona Saez, Bensimon, Kosiuko, Airborn, Tascani e Key Biscayne têm peças bacanas e diferentes para você usar em São Paulo sem estar igualzinho aos outros.

4 - PALERMO VIEJO. Nesse grande quadrado (formado pelas avenidas Santa Fe, Scalabrini Ortiz, Córdoba e Dorrego), foram aos poucos pipocando mais e mais lugares novos, entre bares, restaurantes, lojas de roupa e decoração, ateliês e galerias de arte. Hoje, é aqui que está o que há de mais cool na cidade: boas compras, jantares badalados e muita gente bacana. Se hoje a região não é mais segredo dos descolados, ainda são poucos os brasileiros que se aventuram por aqui. Vale a pena ser um deles.

5 - AS BEBIDAS (COM ÁLCOOL). Um povo de hábitos europeus como o portenho não poderia deixar de cultivar o gosto por bons vinhos. Os bares e restaurantes da cidade possuem uma boa oferta deles, entre rótulos argentinos, chilenos e europeus. Eu pessoalmente não ligo muito para vinhos, mas não resisto a uma boa jarra de clericot - versão da famosa sangría espanhola, feita com vinho branco, morango, kiwi, abacaxi e outras frutas picadas, açúcar e gelo. É leve, docinha e sobe rápido - como é que nenhum brasileiro pensou nisso antes?

UÓ:

1 - O CIRCUITINHO DO BRASILEIRO-PADRÃO. Pesquisar nas fontes certas antes de viajar é o único jeito de ter acesso ao lado bacana de Buenos Aires. Quem chega lá contando com as dicas dos guias da operadora local acaba se limitando a programas manjados, fazendo compras na calle Florida (que está bem caída e hoje só vale pelas boas lojas de tênis e pela melhor Zara da cidade) e, no máximo, indo jantar nos restaurantes de Puerto Madero - caros (como tudo que é feito para turista), caretas e, com algumas exceções, nada brilhantes em termos de comida. Isso se não for comer nos lugares indicados pelos guias, que ganham comissão por cada turista apresentado...

2 - A NOITE GAY. Não que Buenos Aires não tenha nada para o turista gay fazer. Dá para jantar em lugares gay friendly (entre eles, recomendo as pizzas do Filo e a comida tailandesa do Empire), tomar os primeiros drinks no Chueca (o bar gay mais fervido da cidade), ir dançar no Palacio Alsina (já comentado no post anterior) e fazer uma pegação básica no Zoom (um cruising bar digno de Primeiro Mundo, que faz a nossa Station parecer ainda pior do que já é). E tudo pode ser divertido. Mas quem ficar comparando tudo com SP e RJ corre o risco de voltar para casa decepcionado.

3 - O MICO DO VERÃO. O verão é, definitivamente, a pior época para se visitar Buenos Aires. O calor chega a bater recordes cariocas, mas a cidade quase não tem piscinas. Praias? Estão a 4 horas de carro, são feias e têm água gelada - não é à toa que os argentinos invadiram Santa Catarina. Outra má idéia é ir a BsAs para o Réveillon: a cidade não tem a animação de lugares como Rio e Nova York, e as (poucas) comemorações legaizinhas acontecem em espaços fechados, como em São Paulo. Programe sua viagem entre março e novembro.

4 - O MULLET. Aberração capilar popularizada no Brasil por Chitãozinho e Xororó, o mullet é uma verdadeira mancha na elegância dos argentinos e já fez a cabeça de gerações e gerações. Hoje, ainda é visto nas ruas e também nos estádios de futebol, onde vários jogadores da seleção desfilam corajosamente seus rabinhos. Felizmente, muitos argentinos acordaram para a vida e podaram seus mullets; ainda assim, a esmagadora maioria dos homens gosta de usar o cabelo bem compridinho dos lados e atrás.

5 - AS BEBIDAS (SEM ÁLCOOL). Se a cidade é a alegria dos amantes do vinho, quem não bebe álcool passa um mau bocado. Sucos e refrigerantes são surpreendentemente caros, mesmo para bolsos brasileiros beneficiados pelo dólar forte. Para piorar, o maior dos crimes: a água mineral tem gosto ruim, não importa a marca que você escolha. Como os refrigerantes também têm fórmula e gosto diferentes dos do Brasil, o jeito é escolher aquele com paladar mais agradável - eu, por exemplo, passei dez dias à base de Fanta Laranja.

[Foto: detalhe de uma varanda no Caminito, ruela turística de La Boca]

8 comentários:

Anônimo disse...

Amen!!
especialmente o mullet...

Anônimo disse...

Nova Iorque no Reveillon é programa de Indio congelante. Ninguém merece. É Rio e pronto.

Alexandre Lucas disse...

Mullet é uó mesmo.

Discípulo disse...

Thi... Vamos juntos?
Me daria a honra da sua companhia? A gente se fala! Um beijo.

TONY GOES disse...

Já que você é amante da música eletrônica, já comprou discos argentinos do gênero? Existem verdadeiras preciosidades, e num nível que acho que por aqui só o Gui Boratto alcançou. Hoje em dia é fácil encontrar: na enorme Musimundo da Florida, quase em frente às Galerias Pacifico, tem uma seção eletrônica completíssima. Mas também vale a pena fuçar a loja mais cool da cidade, a Miles, na Honduras, quase Plaza Cortázar, em Palermo Viejo. E aqui vai um segredo só para iniciados: a Agujerito (literalmente, o buraquinho), uma lojinha numa galeria entre Esmeralda e Maipu , no finzinho dessas ruas (sentido Retiro). E o quê comprar? Comece pelas coletâneas, tem várias, e depois siga por Boeing, Canu, Audioperu, Rosal, Juana Molina... e muito Miranda!, sempre.

Anônimo disse...

Ta, nao tinha reparado issa, mas e verdade. se fala de "animacao" de nova york pra reveillon. me pasmem! aqui e so pra comprar roupas ou pra fazer a cultural.
arrrff... meu brasil... que saudades!...

Thiago Lasco disse...

Eu jamais cogitaria passar o réveillon em NY, nada me atrai na idéia. Mas não dá pra negar que a cidade é considerada um dos principais lugares do mundo para virar o ano.

Anônimo disse...

"eu jamais cogitaria passar o reveillon em ny, nada me atrai na ideia" - tudo foi dito...;-))
tem muitas coisas bacanas aqui, mas pra mim passar o reveillon nao faz parte dessas... especialmente num puta frio... enfim, essas coisas, cada um tem sua opiniao.
rio, rio, rio, nao tem nada igual...