quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Junior: uma Revista da MTV com verniz fashion

O portal Mix Brasil tem um espaço cativo na minha vida: eu o acesso todos os dias há pelo menos oito anos. É minha primeira e maior referência quando o assunto é universo gay: o que está acontecendo dentro do mundinho, que DJ vai tocar em que clube no finde, como foi aquela festa a que eu decidi não ir, quais as sungas do próximo verão, e por aí vai. Se o Mix não cobre absolutamente tudo o que importa, chega bem perto - e é ágil. Por isso, eu o considero o melhor portal gay do Brasil, sem dúvida. Especialmente quando olho para seus concorrentes, ainda presos em uma visão estereotipada, limitante e completamente datada da cultura gay.

Se o Mix está mesmo na frente dos outros, confesso que me cansa um pouco o seu dialeto wannabe-moderno-deslumbradinho: "A gente aqui na redação está superamando as novas t-shirts, que já nasceram hype! O fundamento é lúdico, fofito e artsy. É para usar e arrasar naquela festa absurdinha, que vai ser bafon báfu e ter lineup bombator. Tipo assim: loucurinhas! Arrasa na pólo! Porque vai ser bafônico, bee. Tipo incrível!"

Bem, a Junior é a revista do Mix Brasil. Com tudo de bom e de ruim que isso contém. Felizmente, na hora de migrar para o meio revista, eles deram um breque nas palominoses lingüísticas e capricharam um pouco mais na redação. Os textos são mais bem-feitinhos, e muitos (não todos) passam até por uma revisão. Mas não são eles a razão de ser da revista. A Junior é, essencialmente, uma revista que se apóia e gira em torno das imagens.

São imagens belíssimas, é bom dizer. Especialmente nos ensaios fotográficos e na seção de moda, que são o que a Junior tem de melhor. O ensaio "Depois do after" é de extremo bom gosto. O dos "pólo boys", então, é para pendurar na parede e ficar olhando o dia todo. Esteticamente perfeito, sensual, biscoito fino mesmo. E aquela foto do morenão abraçando seu labrador, bem lá no final? Coisa mais fofa! Sem falar que o projeto gráfico da revista também tem umas brincadeirinhas legais, como na matéria com os casais (o que é aquela abertura, com os pombinhos olhando um para o outro??? que imagens mais lindas, que olhares, que expressões!)

Se como exercício estético a revista é nota dez, em termos de conteúdo o Junior ainda precisa comer mais mingau. Tirando as imagens, a revista às vezes parece ter pouco a dizer. Em muitas matérias, os textos apenas dão suporte para as fotos - alguns são tão rasos que quase servem como meras legendas. Dava para falar muito mais, sem ser demais. Falta reportagem - não se faz bom jornalismo sem sujar os sapatos. A matéria sobre a Espanha, por exemplo, é de uma superficialidade atroz - o nível de informação que qualquer um pode conseguir "de orelhada" numa rodinha, sem precisar ter ido até lá. A melhor comparação que vem à minha cabeça é com a Revista da MTV (que será descontinuada pela Abril já no comecinho de 2008), que seguia a mesma linha: textos leves e de leitura rápida, para não entediar os consumidores adolescentes. A Junior, em uma boa ponte aérea você mata de cabo a rabo.

Outro pecado: assim como o Mix Brasil é um site feito por uma panelinha e para uma panelinha (basta ver que, na cobertura das festas, as fotos mostram sempre as mesmas caras, como se aquelas figurinhas carimbadas fossem as únicas pessoas relevantes para a noite), a Junior fala para um público muito específico: moderninho, fashionista e/ou fashion victim - e morador/freqüentador do miolinho "pheeno e cool" de São Paulo (ou Ipanema, se tanto). A Junior olha demais para o umbigo do mundinho dela. As imagens são um colírio para os olhos, mas acho um pouco difícil um leitor de Salvador ou Porto Alegre realmente se identificar com a revista. A Sui Generis, que era feita inteiramente no Rio, com colaboradores cariocas e pauta carioca, conseguia ser de interesse muito mais nacional.

Não que eu não tenha gostado da Junior. Acho uma revista gostosa para o verão, como uma canção pop do Kid Abelha. Boa para ler na casa de praia, depois de tomar muito sol e bater aquele almoço tardio. Agora, embora eu "superentenda" o carinho e o orgulho da equipe do Mix pela nova cria, acho que eles ainda estão um pouco deslumbrados demais com o fato de estarem lançando uma revista, e deixando o discurso "inovador e vanguardista" ofuscar a necessidade de dar mais consistência ao produto. Mas ainda estamos no número 2, e o próprio André Fischer reconhece no editorial que a revista ainda está tomando forma. Vamos ver em que direção esse fotogênico rebento chamado Junior irá amadurecer.

14 comentários:

TONY GOES disse...

Nenhuma revista nasce pronta, e a gente estava tão carente de uma revista gay "séria" que todo mundo caiu matando em cima da "Junior". Concordo que as palominoses (adorei, na mosca) mixeanas embabaqueiam o ambiente, mas o André Fischer tem razão em dizer que a "Junior" ainda está tomando forma. Agora, com a "DOM" concorrendo tão de perto, vai ser interessante acompanhar os próximos capítulos.

E curioso como as duas estão cheias de anunciantes. nnao? Uma enorme demanda reprimida, que revistas como a "G" não conseguiam canalizar. Nos EUA também é assim: só a "Playboy" tem anúncios legais.

ludo disse...

Ainda não li a 2ª e nem a DOM (a 1ª chegou aqui em casa através da minha mãe), mas achei realmente bem fraquinha de reportagens. Me lembrou uma VIP sem aquelas dicas de como arrasar com as mulheres (no caso com os homens). É bem isso que você falou, para ler na praia.

Sobre o encontro, pois é, quase não nos falamos. Mas com certeza não faltarão oportunidades.
;-)

Gui disse...

Ludo, entao espere a DOM: tem muito mais cara de revista VIP, a começar pela parte das "novidades eletronicas" e o "como arrumar seu closet". Boa, mas exagerou no conceito versão gay de revista pra heteros 30ões com dinheiro e recem-separados.

No mais, concordo com o que vc disse sobre a Junior, apesar de ter elogiado bastante a revista. É fashionista, um pouco rasa, mas tem momentos bem interesantes.

Que as duas melhorem e vinguem, porque o esforço é grande e merece ser recompensado.

BHY disse...

Moço, gostei muito da sua crítica. Eu dei minha opinião toda reacionária, você foi mais sutil, mas concordamos: os editores têm que sair dos mundos em que vivem e procurar assunto, conteúdo. Nem precisam vir com tratados filosóficos. Só não devem cair no lugar-comum.
;-)

Vítor disse...

Eu acho a Junior menos pronta, menos formatada, mas nem por isso é a que menos me agrada. Do contrário: faz bem mais o meu estilo que a DOM. Gosto dos editoriais, da parte gráfica e acho que o conteúdo cresceu em qualidade com relação à primeira edição.

A respeito da DOM, eu achei tudo muito certinho já desde o primeiro número. Pro melhor e pro pior. A revista é interessante, mas não é uma revista que eu vejo possibilidade de comprar sempre. Há várias outras parecidas (e melhores) do gênero. Além disso, como já disseram, tem um certo ar fantasioso de "tenho 35 anos e um labrador, sou gay, não dou pinta (tooodos dão, né?) e freqüento cruzeiros gays". Não tenho muito saco pra isso. Prefiro um editorial "féxion" de caras gostosos com camisetas e cuecas. E uma pinta-freak eventual.

Bjs!

Anônimo disse...

Acho a revista bem fraca também.
Não existe uma linha editorial muito bem definida. E revistas de moda já existem milhares. Só fotos bonitas não me fazem querer comprar a revista.

Não li nada ali que não pudesse recorrer ao próprio Mix Brasil pra me informar.

Entrevistas interessantes? Matérias legais?

Isso eu ainda não vi.

Gui disse...

Querido, eu ia enviar por email, mas vi que não tem seu endereço aqui...

Entao vamos lá: riscado é < s> para abrir, < /s> pra fechar (sem esse espaço depois do <, claro...)

Já os marcadores, o blogger muda o html pra você. Quando estiver logado, vai na palheta "modelo", "elementos da página" ("adicionar e organizar elementos").

Ali aparece o modelo do seu template, certo? Na caixa de "mensagens de blog" tem um botão editar que vai abrir uma nova janela. Nessa janela dá pra selecionar quais os itens aparecem na sua pagina e depois organizá-los.
Na caixa "organizar itens" você clica e arrasta os que você quiser pra onde você quiser...e depois salva (êee!).

Acho que agora vai dar certo.
Qualquer coisa avise que a gente procura de novo... ; )

Beijos, saudades

Anônimo disse...

A receita parece que a Junior é uma fonte de informação de internet impressa em formato revista. Mas, de algo tenho certeza, pouco a pouco ela se molda em tempo de encontrar a demanda ou, quando otimista, até criar uma.

É bem de lembrar que, ao mesmo tempo, a DOM tem uma pegada informativa interessantemente confiante mas que perde um pedaço de personalidade.

O próximo, felizmente, só tem uma maneira de descobrir.

Anônimo disse...

pooo!! naum consegui comprar a DOM!! to com medo de qnd eu voltar ja terem recolhido!!

a junior eu comprei mais perdi em sao paulo!!! nhééé

Anônimo disse...

Eu realmente adoro suas análises e conclusões sobre qualquer assunto, Thi.
Adorei as palominoses!
Comprei hoje cedo a DOM e a Jr.
Já dei uma boa olhada nas duas.
Concordo totalmente com sua opinião e com o editorial do Fischer na n. 2. da Jr.
A DOM me agradou em uma primeira olhada e deixei algumas matérias para ler depois.
Mas o que eu mais amei disso tudo foi o fato de termos duas novas publicações na praça, muy bien direcionadas ao seu público, com muitos anunciantes (o que era raro um tempo atás) e acho que o mercado está aberto.
Tomara que saibam ousar mais.
Beijo e obrigado por mais um post nota 10!
Luv U!

Alexandre Lucas disse...

Adorei o número 2 da JR, mas vc falou o que poucos tem coragem: PANELINHA!
;)

Anônimo disse...

Já vi as publicações em bancas, já as folheei em revistarias, mas não me animei em comprá-las por justamente não sentir uma consistência além do que já existe na internet, onde você obtém o mesmo, senão mais, em termos de informação e opinião, ainda que fragmentado. Infelizmente ainda está restrito ao universo dos livros a formação e reflexão, processos muito mais lentos para acontecer, mas que modestamente acredito que deveriam sempre ser considerados a exemplo do que se encontra nos periódicos em geral.

Maravilha de texto e opinião, como sempre para saborear em vários níveis: personalidade e consistência na medida, sem rabo preso, de olho no que já foi e no que tem sido feito no Brasil. Entretanto, senti falta de referenciais externos como a Out e The Advocate. São publicações norte-americanas sim, mas em todo tipo de negócio creio que sempre é bom ver o que já fizeram e resultou em sucesso ou fracasso, seja nacional ou não a experiência. Buscar ou citar referenciais, jamais se ater a parâmetros fechados, armadilha barata essa em que eu duvido que você cairia, é sempre saudável, não acredita?

Nem sei se é hora, mas você já pensou no que fará de trabalho de conclusão de curso? Que você tenha notícia ou meio de checar, existe algum trabalho falando sobre a mídia voltada para o público gay e como isso se dá em diversos países? Assunto que pode até dar livro. Apenas uma questão que me ocorreu, embora eu não saiba das suas próprias aspirações.

Abração!


Junior

Anônimo disse...

Amei o editoria dos casais. Fonte de inspiração e coragem. Parabéns aos editores e aos casais.

Alberto Pereira Jr. disse...

no post sobre a DOM eu acabei falando do poder e beleza das imagens da revista Junior e realmente nisso ela é imbatível.. mas como vc disse nem só de fotos vive uma revista.. A Junior tem pautas interessantes, mas os textos em sua maioria são curtos demais. Não se aprofundam muito mesmo... pode ser uma opção editorial, mas seria mais plural e agradaria mais se investisse em reportagens de maior fôlego mesmo.

adoro o site do mix, é o site com informações mais completas e atuais para o publico gls, só acho que as fotos de hoemns nus na home do site depões contra o portal. Pois vincula ele ao gueto dos sites pornográficos.. e o MIX não é isso.