Quem trabalha com festas sabe que o público é como um rei manhoso que precisa ser muito bem servido por seus criados. Os produtores que sabem escutar e seguir as vontades da freguesia - desejos que mudam com o tempo - sobrevivem; já as festas que não conseguem entender isso acabam sendo engolidas e ficando pelo caminho, como aconteceu com a X-Demente. Na noite de ontem, a B.I.T.C.H. mostrou que de boba não tem nada e está preparada para enfrentar os "novos tempos" que começaram com a chegada da The Week Rio. De volta à locação que marcou seus anos dourados, o parque temático Terra Encantada, na Barra da Tijuca, a label party de Téo Alcântara fez uma edição babadeira, que deve ficar na boca dos cariocas por um bom tempo.
Fazia muitos anos que eu não ia a uma B.I.T.C.H.: meu referencial eram as festas que Téo fez ali entre 2000 e 2002, bem antes de começarem os problemas com o parque, coroados com o trágico acidente com uma bee que caiu de um brinquedo. Não peguei a fase do Monte Líbano, a parceria com a R.Evolution de Rosane Amaral, as megafestas de Carnaval na Leopoldina, nem as recentes edições na Fundição Progresso. Pelo que eu sempre ouvia, a festa tinha deixado de ser um ponto de convergência de pessoas interessantes e só tinha sobrado o povo bagaceiro. Se os tempos mudaram de 2002 para cá, a B.I.T.C.H. mostrou que também mudou.
Esqueçam aquela festinha inocente e fofa em que a pista era montada dentro da tenda dos carrinhos de trombada (que aqui têm o nome de "bate-bate") e a maior loucura possível era cheirar Vick Vaporub e dar uma volta na montanha-russa que emoldurava o cenário. A B.I.T.C.H. de ontem foi uma gigantesca festa open-air, que mais parecia uma edição noturna e carioca da Gira-Sol, a day party que antecede a Parada Gay de São Paulo. Pelo menos cinco mil pessoas, num cálculo modesto, espalharam-se no vão central entre as casinhas da cidade cenográfica do parque, que serviu como pista principal, com um palco enfeitado por uma grande parede de leds, de onde os DJs comandavam a massa feroz.
Por "massa feroz", entenda-se toda a nação tribaleira/barbie/rata-de-festa do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense, da Vieira Souto à Estrada do Catonho, com direito a uma espetacular oferta de machos que nenhuma outra cidade do Brasil consegue reunir. Na bombada pista principal, não faltaram peitorais, braços, tanquinhos, sovacos, trenzinhos, almôndegas, fio-terra e pegações diversas. A qualidade dos corpos denunciava que todas as "bunitas" estavam lá. Prova disso é que a The Week Rio dispensou parte dos funcionários e nem abriu a pista principal: funcionou apenas a pequena parte nova que compreende a pista 2 e o puxadinho que se convencionou chamar de "área externa" da casa.
Claro que a B.I.T.C.H. não perdeu a pegada democrática que sempre foi sua marca registrada: para cada adônis esculpido, havia três pessoas fora desse padrão. E tinha de tudo mesmo, desde clone do DJ Ze Pedro até Fergie em versão trava, passando por sapas de pochete e mullet e muitas bees novinhas coreografando a diva Madonna na pista 3 (o tema dessa B.I.T.C.H. era o lançamento mundial do album Hard Candy). Na porta da festa, a cena era dantesca: os funcionários tentaram fazer cu doce e liberar a entrada aos poucos, mas a multidão logo perdeu a paciência e literalmente invadiu a festa, derrubando as grades e avançando sobre os insuficientes seguranças. Com isso, ninguém teve ingresso checado - e quem, como eu, tinha acabado de pagar salgados R$60 na bilheteria se sentiu um idiota.
Felizmente, o Terra Encantada é bastante amplo e houve espaço de sobra para a multidão se acomodar bem. Além da pistona principal e do "cantinho Madonna", havia uma pista coberta com hits pop. A acústica era um pavor (eu me senti no salão de festas de algum conjunto residencial em Belford Roxo), mas era até divertido dançar lá alguns minutos e ver o povo ficando histérico já nos primeiros acordes de cada música da Rihanna (duro foi engolir a virada de "Umbrella" para "Ilariê"). Enquanto a bebida era vendida a preços oficiais nos bares em volta da pista principal, uma dose dupla de vodka com gelo saía a meros R$ 3 no "mercado paralelo", um bar pobrinho que fez a alegria dos mais espertos. E o jeito era entornar o álcool goela abaixo - a menos que você preferisse os espetinhos de coração de galinha da casa ao lado ou, quem sabe, forrar o estômago numa outra portinha que oferecia yakissoba e café.
Detalhes insólitos à parte (nem vou comentar os banheiros, pois, pelo que consta, só paulista se importa com isso), foi uma noite e tanto. Os DJs sabiam fazer o povo pular com pancadões tribais atualizados (não lembro de ter ouvido Safri Duo nenhuma vez) e as pessoas estavam lá para se jogar mesmo. Tanto é que dois rapazes que tinham feito um certo carão para mim no chill in de sexta-feira me agarraram, primeiro em separado e depois ao mesmo tempo. Não sei quando a festa acabou, mas não pode ter sido antes das 8 da manhã - o povo estava descontrolado, era gente pra caramba, e olha que a cidade nem estava tão cheia de turistas (quando tem festa, os cariocas não perdem a chance de sair da rotina e comparecem em peso). Fui embora do Terra Encantada como se tivesse saído de um grande festival, exausto. Aquela festinha meiga e naive de 2002 provou que ainda tem muita munição para defender seu espaço no panteão das grandes.
domingo, 4 de maio de 2008
B.I.T.C.H. perde a inocência e se adapta aos novos tempos
Postado por Thiago Lasco às 1:09 PM
Marcadores: gay, noite, rio de janeiro
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13 comentários:
Como assim o senhor despenca para terras cariocas sem ao menos dar um "hello" aos blogayros do Rio?
Estefanio e eu ficamos intrigados com a notícia, que só fui saber por ele, no MEIO da pista da BITCH.
Certamente, vc estava na mesma festa do que eu. A festa, quando acontece no Terra Encantada, parece provocar nostalgia nas pessoas mais "vividas" (como eu) e muita curiosidade nas pessoas que nunca foram ao evento. Sim, evento, afinal mover 5 mil ou mais por aqui, só festa rave.
De fato foi uma Rave Gay... tocou até Skazy, o que provocou um certo nojinho do ambiente.
Em 2002 eu acabava de me "encontrar" a BITCH foi a minha primeira festa gay... entendeu o significado? Uma pena a festa ter sido levada para outros lugares e ter virado um caldeirão mix.. se tivesse continuado onde estava, hoje seria diferente..
Talvez igual...a ontem.
Sei lá..
Bjon.
fio-terra?
huahuauh Thiii arrazou na definição!
Foi bem legalzinha mesmo a festa né? Mas nada disso valeu pq nao nos encontramos, não valeu!
Ai, tinham 3 pistas? Tujura? eu só vi a principal e passei em frente uma q tava tocando asereje q obviamente eu não passei da calçada.
E de Madonna mesmo, 2 remixes tocados e só! Se bem que pra mim não faz diferença nenhuma, já disse que cansei dessa véia? haha
Thi,
Adorei seu post, mais uma vez acertando no alvo.
Isso serve para mostar que reciclar é palavra de ordem entre os produtores de festa.
Abração....
Puxa... Pra variar: ler o texto foi como estar na festa, rsrsrs!
E, a propósito, voltei a blogar e agora que já tem uns 15 posts queria que vc desse uma olhada! Um bjão. Cris
Sinceramente, minha experiência na noite carioca, tirando a The Week Rio, foi péssima. Fui em um lugar chamado Cine Ideal, que de ideal mesmo estava muito longe. Preciso de novos referenciais para comentar a respeito. Hey, queria q você visse o meu post de sábado, tô pensando em fazer um esquema coluna semanal, nos moldes do post de sábado. Opine!
Um beijo
Tudo bem? Só fui ver sua mensagem ontem à noite... Fiquei morgando em casa no resto do fim de semana.
Quanto à BITCH, nunca achei nada inocente. Para mim, é uma festa de 5ª bem fedorenta. E, pelos relatos que ouvi, foi xexelenta como sempre. :P
Bjs!
Vc tem toda razão... arrumado!
Ai, na boa, eu não consigo entender essa festa: banheiros imundos, confusão na porta, gente estranha, musica ruim. Na Fundição, qualquer tipo de bebida estava quente. E isso tudo por 60 reais?!
Mas nem morto!
Pra mim, esses são fatores decisivos pra um local ser chamado de bagaceira. Nem a locação salva. Alias, nem se fosse na Muralha da China ou no topo da Torre Eiffel salvaria...
Eu só iria na Bitch em duas situações: se estivesse solteiro - pq a pegação é forte - ou se estivesse maluco.
Ate aqui, nenhuma das duas se aplicam a minha pessoa.
"Vc pode tirar a pessoa de Sulacap, mas não pode tirar Sulacap da pessoa"
Saudade das nossas idas ao Pagodão do Elite, dos bailes do Big Field.
Soube q o Sr. desfilou com o seu tricot degradê pela Terra Encantada, fazendo um carón absurdo!
Bjox
"Com isso, ninguém teve ingresso checado - e quem, como eu, tinha acabado de pagar salgados R$60 na bilheteria se sentiu um idiota."
Porque alguem que fez o seu dever de comprar o ingresso pra uma festa e contribuir com os produtores deva se sentir um idiota pq a festa foi invadida por uma multidão? Quem deve estar se sentindo um idiota são os organizadores que levaram um calote! Só no Brasil.. e depois reclamam dos politicos que mandam eleitos pra Brasilia. Discordo.
Daniel, é no mínimo um grande desprestígio para quem desembolsou o preço de um ingresso caro ser atropelado por uma multidão de espertinhos que não pagou nada. E quem disser que ficou apenas orgulhoso de si e não se sentiu lesado está sendo hipócrita.
nao es o paulista q liga p banheiro nao.. eu me senti num brejo tentando entrar no banheiro.. sem contar a falta d organizacao dos bares q davam fichas d papel q so valiam para bares especificos.. pelo menos o empurra empurra da entrada eu perdi, ja q cheguei tarde.. mas depois q achei um lugar pra ficar quieto com meus amigos, deu p m divertir.. mas bitch e q nem rave ou festival.. tem seu lado bom, mas tb tem um monte de "contratempos"...
O seu blog é muito bom. Parabéns. Os textos são extremamente inteligentes e muito bem estruturados.
Caso queira, dê uma olhadela no meu blog e veja como foi o último RAPIDO uma das melhores festas do momento aqui na Europa.
http://poorguyfashionvictim.blogspot.com/
Abraço
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