Quando surgiu a oportunidade de conhecer Vitória por conta de uma viagem de trabalho, eu não sabia o que esperar. Ofuscada pelos dois maiores centros urbanos do país, a capital do Espírito Santo é uma espécie de Teresina do Sudeste, que raras vezes desperta de seu sono profundo, renegada ao esquecimento coletivo. Mesmo as praias do litoral capixaba não recebem a mesma atenção de vizinhas ilustres como Búzios e Trancoso. Para não chegar lá totalmente perdido, tive que recorrer aos universitários: leitores do blog e amigos de amigos que moram lá. Ainda assim, aterrissei no minúsculo aeroporto da cidade sem saber muita coisa sobre ela.
E tive uma surpresa: Vitória é superfofa. Limpa e aparentemente tranqüila (para quem está acostumado com SP, Rio e Salvador), a cidade é toda recortada pelo oceano e tem alguns trechos bastante fotogênicos, incluindo um mini-Aterro-do-Flamengo, com parques, quadras e lazer à beira-mar. Ligadas a ele estão as ilhas do Frade e do Boi, com casas belíssimas e prainhas tranqüilas - tipo uma mistura de Urca com Horto. Mesmo com o novo calçadão, a Praia de Camburi [foto superior], a maior de Vitória, não é lá grande coisa (pense em Amaralina, na Pituba e em São Vicente). Mas é só pegar a mini-ponte-Rio-Niterói que você chega em Vila Velha, que não é tão graciosa como cidade, mas tem praias bem legais, como Itapoã e a Praia da Costa [foto inferior], além do Convento da Penha, que fica no alto de um morro com vista absurda da capital.
Quanto aos capixabas, acho difícil sair ditando regras e conceitos sobre um povo depois de apenas quatro dias de convívio. Eu recebi alguns comentários, em tom de advertência, dizendo que eles eram "provincianos" e "pouco antenados". Reconheço que vi pessoas que se encaixavam nisso... tanto quanto eu vejo aqui em São Paulo. Naturalmente, existem privilegiados e marginalizados, gente refinada e gente ogra, lá e cá. Diferença maior eu senti no trânsito (eles são meio estabanados ao volante) e, especialmente, na qualidade dos serviços - o atendimento é lento como na Bahia e indelicado como no Rio de Janeiro, mas com um bônus de despreparo por conta da falta de hábito de lidar com gente de fora. Por outro lado, as pessoas com quem eu convivi mais de perto não tinham nada de provincianas - muito pelo contrário, tinham a cabeça aberta para enxergar além e o costume de usufruir do melhor que o resto do Brasil tem a oferecer.
Aliás, essa viagem foi mais uma prova de que há alternativas para viver bem fora do eixo São Paulo-Rio, com todas as facilidades que urbanóides exigentes consideram essenciais. Vitória tem seu bairro charmoso, seus endereços da boa mesa, sua academia mega com freqüência top e aparelhos de última geração, seus bofes lindos tomando cerveja nos bares, filiais das mesmas marcas que se usa aqui... e, ao mesmo tempo, tem um pique de cidade menor, onde dá para viver com mais qualidade de vida. Com alguns minutos de viagem, você escapa para as serras ou para Guarapari, um balneário de primeira linha. Com um pouco mais de estrada, você pode ferver no sul da Bahia ou no Rio. E sempre dá para descolar um vôo barato e dar pinta em São Paulo, como muitos deles fazem. Prestar um bom concurso público, levar uma vida confortável por lá e ter acesso fácil ao que interessa das outras cidades pode ser um ótimo negócio para quem não precisa mais estar aqui o tempo inteiro, mas também não quer se afastar totalmente.
Meus quatro dias só deixaram a desejar porque o tempo conspirou contra mim até o fim. Choveu - muito - todos os dias, ao ponto de eu quase perder minha audiência, porque a cidade estava alagada e eu não conseguia nem achar um táxi (existem poucos por lá, um drama), muito menos chegar ao fórum. Muita coisa bacana teve que ficar para a próxima. Não subi no Morro da Fonte Grande, não voltei com calma à parte histórica (aliás, a Cidade Alta parece o Bairro Nazaré em Salvador), não fui comer moqueca na Ilha das Caieiras, não aproveitei as praias (as fotos que ilustram este post foram raros momentos de trégua das chuvas), não conheci Guarapari... mas pelo menos engrandeci meu círculo social com ótimas amizades. Tive a sorte de conhecer pessoas maravilhosas, extremamente hospitaleiras, e só por causa delas eu já voltarei ao Espírito Santo. Em tempos de crise, nada como redescobrir nosso próprio país.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Os encantos da Teresina do Sudeste
Assinar:
Postar comentários (Atom)
17 comentários:
Tô decepcionadissimaaaaa!!!
Teresina do Sudeste é hiper ofensivo, tanto qnt chamar aqui de Rio em miniatura. As analogias são necessárias, até euzinha as faço as vezes, massssss. Enfim, Tirando esse titulo medonhooo (to passadaaaa a lot), achei que conseguiu pegar bastantes coisa da cidade.
Tchynna, como vc mesma disse, isso foram apenas analogias! Nada para ofender a cidade... acho que vc entendeu bem as comparações que eu fiz. Don't be such a drama queen :)
Loooooooooooooooooogico que entendi, mas que o título é pavoroso é!!! uhauhauahauhau E drama queen é comigo mexxxma... hahhaha Beijinho...
Eu tenho autoridade para dizer que já esperava um post exatamente assim.
Morar um ano em Vix foi muito parecido com os seus quatro dias...as impressões foram as mesmas, de uma cidade pequena-querendo-ser-grande mas ofuscada pelos vizinhos.
E na boua? Que Vitória fique assim, como está, e não perca a fofura e o charme. Para isso, temos o Rio, São Paulo, Salvador, Belo Horizonte....
que texto! como sempre arrazou!
adorei o café, a boate, as risadas, a serra/serrana e a praia/praiana (hahahahha), as fotos.
Não gostei da chuva!
com sua estadia aqui, acabei conhecendo outras pessoas bacanérrimas. :)
não demore a voltar. estaremos sempre de braços abertos te esperando!
beijão!
Gui
Não vai aparecer nenhuma bixa de teresina reclamando não?? Porque afinal... preconceito reverso também pode existir. E eu dispenso a moqueca da ilha das caveiras. Vai saber se não vem envenenada, e é por isso que a ilha tá é cheia de caveiras. Um beijo e me liga, que ainda estou no ceará arrasando com os bofes, o carro tá lá batido no poste, a mamãe em SF e o bofe em Boipeba. O layout novo fica pra quando eu voltar.
é caieiras! hahahah
nada de preconceito.
Neh, Vix pega todo mundo de surpresa, comigo também foi assim, mas uma coisa que eu queria acrescentar, e que deves ter atentado-te, é um sexto mercado de 'luxo' bastante desenvolvido, com muitas lojas, condomínios, franquias e bares de ótimo nível instalados tanto em Vitória quanto Vila Velha, o que é ótimo em vista do desenvolvimento econômico da região. Só estou esperando a formatura e já abocanho o meu emprego na Petrobrás, e não saio mais do ES! Abraçaum!!
VITÓRIA NÃO SERIA MAIS UMA ARACAJU OU JOÃO PESSOA DO SUDESTE? ANYWAY... SIM, COM CERTEZA HÁ VIDA FORA DO EIXO RIO-SÃO PAULO-FLORIANÓPOLIS, É SÓ SE PERMITIR CONHECER E DESFRUTAR.
Vix conheço muito mal.
uma noite lá e me levaram no dia seguinte pra trabalhar em outro lugar.
e num dia turístico fui ao Convento e comer moqueca em Vila Velha!
falando em comer... já que ninguém conhecia o Piaf, fui conferir. serve como opção, mas não é um Spot rsrsr (mas nem os preços, ainda bem). acho válido prestigiar como alternativa de restaurante GLS e sair de só spot-mestiço-ritz-l'open.
a localização achei meio ruim... na Franca, mas na quadra DEPOIS da 9 de julho.
Finalmente achei seu blog, que bom que o pouco que conheceu do ES eu estava presente, faltou vc escrever da moqueca capixaba que comeu na Barra do Jucu (Vila Velha) e do Bar do Ceara (Vitória), quarde a medalha que eu te dei com carinho. Um abraço.
Roger Souza e Souza
gostei do texto, normalmente as pessoas tem essa mesma impressao daqui... vitória é realmente encantadora, todos os dias percebo isso.
volte sempre!
abraços
Tchyago,
comecei a postar as dicas que dei láaa no blog, porém dou mais informações... hahhahaha
beijosss
Que bom que você gostou de Vitória.
Nosssa missão é agradar paulistas equivocados, que se acham Upper West Siders!!!
Por favor, não volte!!!
Adorei o texto! Agora você podia fazer um daqueles seus guias dando os endereços de Vitória...
Nossa, é incrível como certas alusões não são compreendidas... Acho mt oportuna a comparação Vitória-Sudeste Teresina-Nordeste.
E agora, "híper ofendida"??? Realmente, Teresina deve ser um lixo, não deve chegar aos pés de Vitória. Cada um com seus complexos (de inferioridade e de superioridade)...
Ihhh não dou conta!
leia meu comentário todo que você vai entender que o problema é o processo da analogia e não a analogia em sim. O Thiago já se manifestou e explicou o que queria. Papo morte. Bicha, não vem bancar a psicanalista de blog que Tchynna é Hiper muitoooo bem resolvida!!! Deixa Freud, Lacan, Jung, Reich, Piaget e toda a patota queira. Passar bem! Beijos Intropestive!!!
Postar um comentário