domingo, 25 de janeiro de 2009

A São Paulo de cada um

"Olha o Rique ali. Pode encostar". Paramos o carro na Faria Lima e nosso amigo carioca, um estilista que despontou no penúltimo Fashion Rio, se juntou a nós, animado. "São Paulo é glamourosa pra c****lho, né?". Olhei para ele com cara de interrogação. "É?" Não era a primeira nem a quinta vez que Rique estava em São Paulo, muito menos no Iguatemi. Marquinhos, também carioca, estava ao volante e aderiu ao discurso, dizendo que a Paulista era um lugar sem similares no Brasil inteiro. "No Rio tem a Presidente Vargas e a Rio Branco, mas é diferente, não tem uma avenida que cumpra esse papel de reunir as pessoas... A Paulista é o centro das atenções, tudo acontece ali, as pessoas sempre estão se encontrando ali, fazendo alguma coisa ali, é uma energia diferente".

Como paulistano da gema que sou (nasci aqui e moro no mesmo lugar até hoje, 30 anos depois), a Paulista sempre foi um cenário recorrente na minha vida. Papai trabalhava lá, meus avós moravam ali perto e eu sempre imaginava que, no futuro, meu destino como "gente grande" seria aquele. Mas nunca consegui enxergar nela o que tanto atrai e fascina os forasteiros. É uma avenida reta, com calçadas largas e cheia de prédios comerciais, que ficam ociosos no fim de semana, nada mais. No entanto, pela descrição entusiasmada que os cariocas faziam a caminho do restaurante, a Paulista ganhava o magnetismo e a efervescência de uma Times Square.

Pensei melhor e lembrei que já tinha visto essa empolgação em muitos outros amigos de fora que vinham se jogar aqui, especialmente na época da Parada Gay. Aos olhos deles, São Paulo é a verdadeira "Nova York brasileira", sem sombra de dúvida. Fico pasmo com a quantidade de passeios e atividades que eles conseguem espremer em tão poucos dias. Eles viram os Jardins do avesso, dão pinta em todos os cafés, fazem maratonas de compras, pulam em ziguezague da Pinacoteca pro Ibira pra Benedito pro Cidade Jardim, encontram energia para dar mais pinta nos Mestiços e Spots da vida (não importa o tamanho da fila) e terminam a noite fervendo nas boates até o sol raiar, sem dó nem cansaço. Tudo aqui é festa, tudo aqui é excitante.

Quando estou na companhia deles, tenho a oportunidade de ver São Paulo com olhos de turista, e é como se eu redescobrisse minha cidade. Vejo como a rotina e as preocupações do dia-a-dia nos absorvem e nos tiram a atenção do nosso próprio cenário. São Paulo tem uma grandiosidade de que não nos damos conta. O dinheiro e a ambição do homem construíram obras e fortalezas de uma megalomania ímpar, que não podia estar em nenhum outro lugar. O Shopping Cidade Jardim e a Ponte Estaiada são os mais novos símbolos dessa mania de grandeza, mas ela já estava presente em muitos outros lugares. Em bares e restaurantes de pé-direito altíssimo e porte mastodôntico, feitos para abrigar e encantar as multidões que circulam ávidas em busca de diversão. Ou mesmo na The Week, um superclube que ainda arranca ah!s e oh!s dos visitantes (mas que, para nós, é apenas a balada de todo sábado).

O paulistano se orgulha desses ícones, que colocam São Paulo no panteão das grandes metrópoles cosmopolitas do mundo. E acha que é com eles que conquistará a admiração dos visitantes gringos. Mas não percebe que eles são o que a cidade tem de menos interessante para um nova-iorquino ou um londrino - afinal, avenidas com arranha-céus e centros de compras com grifes internacionais não representam nenhuma novidade, não são nada diferente do que eles já encontram em casa. Em matéria publicada na Folha de hoje (cotidiano, pág. C-16), um DJ inglês garante que legal mesmo não é mostrar o shopping Iguatemi e o parque do Ibirapuera, mas os bares bem brasileiros da Vila Madalena, a arquitetura de Higienópolis, o parque do Trianon ("com aquela vegetação exuberante, nem parece que é do lado da Paulista") e até a Rua 25 de Março e a Galeria do Rock. Lugares que contem a história da cidade, bairros típicos - e não aqueles que poderiam estar em qualquer parte do mundo, tipo a SP de Ensaio Sobre a Cegueira.

Longe de mim decretar que o melhor de São Paulo é isso ou aquilo. Eu tenho meus cantinhos preferidos, lugares manjados e desconhecidos onde eu acho que a beleza da cidade está condensada. Lugares que fazem parte da minha história pessoal, das minhas raízes, da minha identidade. Cada morador, nativo ou não, tem os seus. São Paulo é grande e plural demais para ser uma só; ela é uma cidade diferente aos olhos de cada um. E cada um tem suas razões para amá-la. As minhas, eu listei em uma série de dez posts no aniversário de 2005, quando este blog ainda era desconhecido (quem quiser ler, siga este link). De todas elas, acho que a que mais me encanta é a gastronomia. Não conheci nenhum lugar do mundo onde eu comesse tão bem (Buenos Aires chega perto; as incensadas Paris e Nova York, na minha humilde opinião, não). E também gosto muito das pessoas. Talvez eu não more aqui para sempre, mas sempre me lembrarei com carinho das pessoas que eu conheci aqui. Parabéns, São Paulo.

17 comentários:

Lucas disse...

É vero, acho que SP tem que mostrar esse outro lado pros visitantes. Mas com o Rio do lado, fica difícil disputar.

Acho que a maioria dos estrangeiros preferem o Rio a SP, e os brasileiros, SP ao Rio.

Uma coisa é certa: São Paulo não pára. Um segundo.

Adoro isso.

Pegante disse...

temos que pensar no que SP tem a oferecer para cada visitante.
se for brasileiro/sul-americano, é como vc falou, é a NY subtropical, então tome restaurante/bar/loja/local "moderno" e símbolos da "opulência".
já para gringo de primeiro mundo, qual a graça de Diesel megastore?
então vamos ao chope de pé ao ar livre na benedito, churrascaria (daquelas com garçom dos pampas!), o antigo Capim Santo era um sucesso certo, comer um pão de queijo no caos do centro velho e até ver cobras no Butanta.
p.s te mandei um email hj

Daniel Cassus disse...

Ai... fiquei morrendo de inveja agora :P

Mas pode deixar que quando o senhor estiver aqui, nós o levaremos na 1140. :P

X disse...

São Paulo é o melhor lugar do mundo. Ter vivido aí durante oito anos foi a melhor coisa que já fiz na vida até agora. Esse post eh um dos mais lindo do blog.
Obrigado.
P.

Daniel disse...

Beijos de Londres
Dan
www.sembolso.blogspot.com

Fabiano (LicoSp) disse...

São Paulo é tudo... como disse no meu blog... São Paulo é o meu pais.

amo esta cidade de contrastes.

Fabio SJC disse...

Sou do interior e adoro a SP de final de semana quando vou fazer turismo...Adoro essa cidade. Indiscutivel a culinária. Acho o RJ lindo de morrer mas no geral prefiro SP com toda sua pluralidade.

Luana Orlandi disse...

Olá, tudo bem?

Achei muito legal seus vááários comentários no meu blog, obrigada por prestigiar!

Faz graduação na Cásper? Eu tô terminando uma pós. Quem sabe nos vemos no começo do semestre, e trocamos fugirinhas a respeito da cena gourmet da cidade.

Abraços!

Luana

Luana Orlandi disse...

Moço, jura que vc acha nossos textos parecidos com os do Katsuki? Nunca reparei, nem tinha idéia! E olha que não gosto muito do que ele escreve, principalmente por ficar BEM em cima do muro na hora de falar o que acha, de verdade, do que prova por aí. Mas ficarei ligada! Falamos! Inté!

Paulo disse...

O melhor de São Paulo está justamente quando você sai daqueles lugares carimbados. Bares, restaurantes, passeios, muitas coisas que os paulistanos desconhecem por completo! Adoro sair do eixo badalado e descobrir esses novos points!

Isadora disse...

Sou apaixonada por São Paulo, e tenho o privilégio de morar no centro. Descubro várias coisinhas diferentes. E, no dia-a-dia, sou mais da baixa gastronomia: vou dos sucos das grandes galerias à esfiha bem dobrada do Lacerda na Barão de Itapetininga, dando uma passadinha pela zona cerealista e mercadão. Adoro!

Beijo!

Anônimo disse...

Quando vc diz que São paulo é plural, define com apenas esse termo tudo o que ela é de verdade. Lembro-me da última vez que fui, e até hoje penso em ficar de vez, morar; aproveitar toda a infinidade de coisas que ela oferece.

Abraço.

Gui disse...

Amei o post.
Ainda mais pq conversamos estes mesmo assunto enqaunto andavamos na praia de Ipanema no reveillon, ne?

Eu amo a cidade. E olha que ja comecei a enxergar seus muitos problemas - e nem por isso deixei de gostar de SP.
Alias, depois me apresenta esses seus amigos que nao param um minuto quando estão por aí? ;)

Gui Sillva disse...

Todas as vezes que vou à Sampa, a cidade me encanta.
cada vez mais.
saudades!

Anônimo disse...

São Paulo é a NY dos paraíbas

Ou

NY é a SP que deu certo

E

'Nenhuma rua reúne todo mundo no Rio' pq as pessoas se reúnem na praia. Ou na orla - que no fundo não deixa de ser rua...

Fábio Carvalho disse...

Oi Thithi

Não sou tão agitado, moderno, in, fervido, nem nada parecido com seus outros amigos cariocas, mas para mim, quando vou à SP, se eu não der uma passeio na av Paulista, pra mim não fui à SP. É quase religioso, um ritual.
Mas meus programas são bem mais trash do que os seus elegantes e sofisticados amigos...
bjos!! saudades!!
Fábio

danilo conrado disse...

meio q atrasado, mas ai vai...
parabéns pe lo post cara...
tbm sou apaixonado por esta cidade e não me canso de expressar seus pontos positivos...
sem deixar d lado os negativos, q infelizmente existem...
mas fazem parte de um equilibrio natural das coisas né (olha a desculpa...kakaka)

gostei muito da forma como vc escreve...
vou acompanhar o blog ok...rsrsrs

um forte abraço e muito sucesso!!!