segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um lassi no inferno

Se uma dona-de-casa finlandesa alugar os DVDs de Cidade de Deus ou Tropa de Elite em uma locadora de Helsinque, será compreensível que ela descarte a ideia de passar férias no Brasil, horrorizada com a visão de um país onde crianças de oito anos correm descalças empunhando pistolas automáticas e montanhas de pneus queimam e assam pessoas no meio da rua.

Dentro desse mesmo espírito, quando vi o filme Quem Quer Ser Milionário, de Danny Boyle, tive a nítida convicção de que eu não visitaria a Índia nem por vinte milhões de rúpias, nem que o Malvino Salvador fosse meu acompanhante. A fita vencedora de sete Oscars mostra uma nação miserável, suja e nauseabunda, em que turistas são invariavelmente depenados, enquanto mercenários escravizam crianças pobres e arrancam-lhes os olhos, para em seguida explorá-los como cantores cegos.

Ao mesmo tempo em que admiro pessoas com cultura global, sempre interessadas e dispostas ao contato com outras realidades e civilizações, constatei que minha curiosidade em relação a culturas diferentes vai só até Tóquio e Istambul, e olhe lá. Em relação à Índia, eu bebo lassi, faço uma aulinha solta de ioga, como os PFs temáticos do Gopala, e namastê, meu bem. Meu amigo Tony que se aprofunde no resto - e nem precisa me convidar para os filmes de Bollywood que ele tanto adora (podem me chamar de cabeça-dura, que eu não ligo; todo mundo é mais curioso com alguns assuntos e menos com outros).

Feitas essas considerações, saí do cinema muito satisfeito. Não sei dizer se Slumdog Millionaire foi superestimado ou realmente vale todo o hype, só sei que foi o filme mais legal que vi no ano até agora. Depois da primeira meia hora, a história foi ganhando ritmo, criei empatia com o protagonista e fui gostando mais e mais, até achar que estava diante de um filmaço. Aos que ainda não viram, recomendo: vale até o choque de realidade e o desconfortável mergulho no mundo-cão.

[Nota mental: "esforçar-se para ver os filmes no mês em que eles entrarem em cartaz!"]

21 comentários:

A.M.B disse...

Assim como sei que o Brasil não é como nossas produções mostram, assim como sei que o Rio não é como estampa o Jornal Nacional, também não acredito muito em Bollywood. Acreditar numa única fonte é ficar preso na “caverna” como diz Platão. Não acredito em nada que corre em via de mão única. Estar disposto a conhecer os fatos por diversas óticas é fundamental. Pensar que a Índia inteira seja como no filme, é o mesmo que acreditar inteiramente na bondade dos EUA em suas intervenções em prol da democracia, acreditar na 2ª guerra mundial somente pela narração dos Aliados. Como não leio só um autor, como não escuto somente uma pessoa, nem só um blog, e nada que tenha somente uma versão. Estar disposto a esquecer primeiras impressões seja ela de pessoas, de países, ou qualquer outra coisa, é fundamental para a extinção de pré-julgamentos, PREconceitos, e estereotipações.
Gosto bastante de seus posts.
Abração.

Lucas disse...

Não gostei de Slumdog Millionaire. Creio que por duas razões distintas: achei fabulaico (não curto fábulas) e pq a Índia também não me atrai - fora a culinária e ioga.

Daniel Cassus disse...

Eu também ainda não vi e, sinceramente, não senti muita vontade de ver. Não sei... a premissa do filme não me atraiu.

Little Pet disse...

o filme pode ser um pouco exagerado, mas mostra um pouco a real Índia. Pq vou te contar nem qndo buda era vivo o Ganges devia ser tão limpo qnto do "caminhos da índia"

TONY GOES disse...

Eu gostei do "Slumdog", mas achei um pouco overrated. Não é a oitava maravilha do mundo: "Milk" é bem melhor, tanto como cinema quanto como "Mensagem".

Ah, e Bollywood não retrata a Índia em si, claro - mas retrata a alma dos indianos, ou uma faceta dessa alma. Tem luxo, música, dança, pieguismo, sentimento de inferioridade, misticismo, cafonice, humor, tudo ao mesmo tempo com curry por cima.

Ricardo disse...

o ganges da novela só dá pra levar a sério como piada...

Gui disse...

Eu também vi essa semana - oi? - e digo que continuo morrendo de vontade de conhecer a India.

Anônimo disse...

Adorei o filme, principalmente pela turma que foi comigo ao Cinemark - única franquia de cinema presente em Aracaju City. Mas, convenhamos, aquela dancinha à la High School, nos créditos finais, ninguém merece!

Rico disse...

Ué, se o Brasil poderia ser uma descoberta incrível para a finlandesa corajosa (quando viu as fotos do filho bicha que passou o carnaval no Rio), você ainda pode descobrir pedacinho de mundo inimagináveis e absolutamente deliciosos.
Quando estive na Tailândia, a esticadinha ao Camboja estava fortemente ameaçada pelas minas terrestres, a prostituição desenfreada e súditos vivos do Pol Pot, e não é que foi a parte mais incrível da viagem inteira?

Ps: E voltei com todos os dedos do pé!

Ps2: Depois dá uma lida nos posts do André Fischer quando fez um roteiro "alfaiatado" por lá.

Ostras e pérolas.

Rico disse...

Lá, eu digo, na Índia.

Thiago Lasco disse...

Rico: Que coisa mais rara, vc dando as caras por aqui! Como vai Paris? Eu li os posts do André Fischer na época, sei que ele gostou de lá. Sabe que eu queria muito ver o que VOCÊ ia achar? Pelo que eu te conheço, no mínimo seu texto sairia bem engraçado...

Fiz a comparação com a finlandesa para mostrar o efeito que o filme surtiu sobre mim. Eu posso até imaginar que a Índia não é só o que aparece no filme, assim como o Brasil também não é: sabemos muito bem que a gringaiada que se joga por aqui tem uma experiência bem diferente daquilo que aparece em 'Cidade de Deus'. Quis apenas dizer que pelo filme, a Índia continua não me apetecendo muito! ;)

Fabiano (LicoSp) disse...

Eu creio que o Brasil tem muitos lugares interessantes, mas sinceramente eu aconselho a finlandesa a não ir ao Rio de Janeiro.
No mundo, existem vários locais aonde o abuso de menores e do ser humano é grande, não creio que devemos por isso deixar de conhecer tais lugares. Acho muito interessante conhecer a cultura dos locais, sejam eles bons ou ruins. Podemos crescer muito com a experiência, desde que claro não corramos muito riscos...rs

Abs do Lico

Renato disse...

Slumdog é um filme favela. A exploração gráfica da pobreza sugere (como todo filme favela) que ser pobre é ser desgraçado. Será?

Mas em Slumdog, Jamal deixa de sê-lo, pois fica milionário. Além dos clichês(como o romance entre o protagonista e Latika) achei que o filme é menos que eu achava depois de ler este artigo na Folha:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u502753.shtml

O filme tem bom ritmo, boa edição, a trilha sonora foi bastante elogiada e isso acaba inebriando os sentidos.

Se é para elogiar filme deste gênero, fico com os nacionais, são bem melhores. Seja Tropa de Elite, Cidade de Deus, Próxima Parada 174, Querô, Linha de Passe, entre outros.

poor guy fashion victim disse...

Olá gajo,

Costumo dizer em tom de brincadeira, que já não viajo para país nenhum país em que não haja pelo menos uma loja Gucci, com excepção da Índia.

No continente Africano, já estive em Angola, Marrocos,Cabo Verde, São Tomé, Guiné, MoÇambique e não pretendo lá voltar a por os pés e até ao americamo estado do Alaska, não pretendo jamais voltar a não ser que me obriguem, mas a Índia fica fora de tudo isso.

Andei um mês pelo Norte da Índia e é um dos meus locais do mundo preferidos.

Veranasi é mágico, Delhi bastante civilizado, os templos jainistas de Kajuharo melhores que filme pornô, Udaipur e mais outras cidades do Rajasthan são lindas de morrer. Leh, já nos Himalaias é verdadeiramente sublime e NUNCA ME SENTI TÃO SEGURO COMO NA Ìndia.É verdade, senti imensa segurança na Índia e não viajei através de companhia de viagens nem em grupo. Apenas por minha conta. Comprei todos bilhetes de hotel na internet, comprei um passe aéreo numa agência em Londres que me dava 10 voos abertos e que apenas teria que marcar com 3 dias de antecedência com uma simples visita à agência em cada cidade das linhas aéras Indianas e não me deu mais trabalho nem imprevistos que uma simples viagem aqui na Europa.Os comboios funcionam igulamente bem, apenas é obrigatório viajar em primeira classe que as outras classes, sim é um filme de terror, pelo número de pessoas.

As cores, os cheiros, a luz, o movimento nas ruas, é tudo mágico. Sim há pobreza e muita, mas a Índia também é um dos países com a maior classe média do mundo.Claro que não se pode beber água da torneira, não comer alimentos crús e tem que se fazer 10.000 vacinas antes de partir.

Não esqueça que a ÍNdia é fortemente marcada por uma cultura pacifista que conjuga com a organização britânica.

Não pretendo ir às China e só planeio sair da Europa para voltar a NY o maior número possível de vezes, conhecer Buenos Aires, e conhecer o Rio e São Paulo (é verdade no Brasil só conheço Salvador e o Nordeste)mas pretendo voltar à Índia para conhecer o Sul e se possível voltar a Delhi e a Veranasi.

Nada a ver, como é o DJ Edson Pride? conhece? muita gritaria?

poor guy fashion victim disse...

Ah e quanto ao filme. Gostei da Cidade de Deus do fernando meirelles, tal como de todos os outros filmes dele, mas o slumdog millionaire achei fraquito fraquito, já nem lembrava que tinha visto.

Não esqueça de responder à questão do DJ

Thiago Lasco disse...

PGFV, repito o que disse no comentário acima: o filme mostrou um país feio e me afugentou, assim como Cidade de Deus mostra um Brasil horrível. Mas sou daqui e sei que o Brasil não é apenas aquilo, embora o filme mostre um lado real. Acredito que o mesmo aconteça com a Índia. Mas ainda assim, hoje a Índia não me apetece, e tenho 1000 lugares para conhecer primeiro.

Sobre esse DJ Edson Pride, como se diz por estas terras, "nunca vi mais gordo"! Não tenho ideia de quem seja. Mas também não sou a pessoa mais devota do house tribal (e, pelo nome artístico, suponho que ele toque pencas de Thunderpuss e Tony Moran nos seus sets...) Sabe o que vc faz? Pergunta lá no Glamaddict, meu amigo Estefanio certamente saberá responder!

poor guy fashion victim disse...

Obrigado, vou ouvir e depois direi se foi gritaria ;)

Quanto ao filme, nunca nenhum filme é um documento acerca da realidade seja que realidade for, a forma como se lê um filme nunca pode ser como se assiste a um documentário, um filme é sempre uma interpretação muito pessoal do realizador acerca de uma infíma parte de uma realidade.

Mas o meu comentário também não pretendeu convence-lo a ir à Índia ;) nem a outro lado nenhum;)

Abraço e mais uma vez obrigado

André Mans disse...

concordo contigo
que deixe a índia para a gloria perez
e o rio de janeiro só na zona sul
ashauhsaush

bjo!!

Baiano disse...

Oi Tiago! é o baiano, tudo bem ? lembrado de seu leitor fiel ? risos
sei que você entende bastante sobre música eletrônica e cena, também, na qualidade, inclusive, de público e crítico, sendo este predicado consequência da primeira condição, aliada a sua sensibilidade.
pois bem, escrevi algo sobre o tribal house, o andamento dele hoje no mundo, o preconceito em torno dele e demais peculiaridades. dá uma conferida, depois, e me diz o que você achou ?
o link é o http://www.farofadigital.com.br/blogdj_tribal.htm
abração, querido

Sérgio Rodrigo disse...

Eu iria para a Índia...

Moreira disse...

Ei, não vamos confundir cinema com realidade. Cinema é arte e arte é licença poética. Alíás arte é arte e pronto. Culpa do realismo italiano que confundiu tudo. Posso contar uma história em qualquer lugar e mostrá-la do jeito que quiser, que jamais será a realidade. Que onda essa de confundir Brasil com Tropa de Elite ou Cidade de Deus. Índia com Caminho das Índias ou Quem quer ser um milionário. Se assim fosse jamias visitaria a Inglaterra por ter assistido Laranja Mecânica ou os EUA por ter visto O iluminado ou O massacre da serra elétrica. Bibas, acordem, os sinos estão tocando...