Foi contratado pela Globo e ganhou exposição diária no horário nobre. Conquistou uma legião de fãs; passou a receber ainda mais carinho e assédio depois que abriu uma conta no Twitter, onde fala de igual para igual com seu público - dia desses, causou sensação ao dividir sua receita de brigadeiro. Tudo isso seria banal se estivéssemos falando de um ator de novelas. Mas a história se torna no mínimo curiosa quando se trata de um apresentador de telejornal - aliás, o editor-chefe do noticiário de maior audiência do país (o Jornal Nacional, da Rede Globo).
William Bonner está cada vez mais pop. Na tal conta no Twitter, onde já tem quase 160 mil seguidores, brinca com os interlocutores e retransmite os twits mais engraçadinhos a seu respeito. Aliás, ele mesmo parece bem mais soltinho ali do que o JN lhe permite. Entrevistado por Marília Gabriela na última edição de seu programa, que foi ao ar no dia 18/10 no canal GNT, ele explicou que quer mostrar que é "uma pessoa normal" e está adorando esse contato mais próximo com os fãs. Falou também sobre o casamento com Fátima Bernardes (como Tarcísio Meira faria com Glória Menezes, ou Alexandre Borges com Júlia Lemmertz) e, no final, deu uma palhinha dos seus dotes como cantor, entoando alguns versos do clássico "New York, New York", de Frank Sinatra.
Tudo isso me parece bastante inusitado. Mesmo sabendo que apresentadores sérios e sisudos no ar não precisam ser assim na intimidade, fiquei surpreso com essa "revelação" de que Bonner é um cara boa-praça, espontâneo e brincalhão. Ele sempre me passou a imagem de alguém meio arrogante (até mesmo pela posição de destaque que ocupa, e também quando comparou seu telespectador médio ao Homer Simpson) e que se leva a sério demais. Além disso, sua imagem se confunde com a imagem da própria emissora, com todos os juízos de valor e implicações ideológicas que possam estar contidos nisso, o que torna ainda mais complicado "isolar" o William do William Bonner. Cada um tem suas próprias convicções mas, convenhamos, não há como se ficar neutro diante do que a Rede Globo representa para o país.
Mas a reflexão que eu lanço aqui é de outra natureza. O que realmente me intrigou foi ver um apresentador de telejornal tendo com seus fãs o tipo de relação que se esperaria de um Cauã Reymond ou uma Ivete Sangalo. Em relação a artistas, é muito mais natural que exista esse tipo de troca - com admiração, assédio e até cumplicidade. Não estou dizendo que isso é "errado", ou que Bonner deveria se manter dentro da mesma redoma de sobriedade e distância que seus colegas de profissão. Mas o "novo status pop" do apresentador do JN não deixa de ser um bom exemplo da grande avidez voyeurística que os brasileiros nutrem pelas pessoas que aparecem na televisão, de quem desejam se aproximar a todo custo. Em que outro país o âncora do telejornal sofreria tamanha tietagem?
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Menos Bonner e mais William
Postado por Thiago Lasco às 5:10 PM
Marcadores: brasil, comportamento, mídia
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17 comentários:
O que não se faz pra tentar segurar a audiência claudicante...
Ele é gato tbm!
O William é ótimo, vi os 4 na Disney uma vez... uma linda família! Ganhei um oizinho especial dos dois.
Bjo!
Ele é bem inteligente, so nao escancara se nao perde o emprego, no meio de gente tao mediocre nao é. E concordo com o amigo do comment mais acima- ele é um gato.
Bjos e bom final de semana,
Cam
Acho que o mais legal é justamente essa inversão: não é positivo tanto alarde por um apresentador de telejornal, no meio de todo esse alvoroço por pessoas com conteúdo tendendo ao vazio? :)
(em tempo: não acompanho twitter e estou dando esse pitaco de "orelhada", como todo pitaco deve ser)
Em TODOS os países. Isso não é característico do Brasil. Pesquise Anderson Cooper, nos Estados Unidos, e vc vai ver que Bonner ainda é pintinho.
Nada contra, mas tb nem tanto a favor...
Como tudo na vida... Com prós e contras essa "aproximação tiete" dos "fãs-telespectadores". Confesso que não sei para qual lado eu peso mais essa balança... Horas me incomoda, horas acho interessante, mas enfim, sinal dos tempos e a realidade midiática da sociedade contemporânea pulsa...
SHOWNALISMO
Assim alguns novos teóricos dizem.
Abração Thiago...
argentina, inglaterra, estados unidos, japão, portugal, espanha etc etc etc só pra citar os primeiros q me vem a mente. detesto essas coisas do tipo "em q outro país"...
Aqui nos EUA é exatamente igual, com a diferença de que o Twitter é usado como ferramenta de trabalho também, além de plataforma de exposição individual. Ao fim e ao cabo, mesmo a auto-exposição me soa parte do marketing pessoal e profissional de cada um. Eu mesmo faço isso, confesso. Mas não tenho três mil seguidores, claro. :)
O Anderson Cooper é hors-concours no Twitter e é americano.
Pra mim não passa de uma imagem criada, como novela. Não entendo o porquê da necessidade de querer se mostrar "comum", feliz, engraçado o tempo todo. Isso é chato, pedande e falso.
Sim, isto é comum em TODOS os países, Thiago. A culpa é da nossa cultura ávida por celebridades. O segredo é não perder a dignidade, como o Bonner faz (lembra do Cid Moreira tomando banho de banheira na revista "Caras"? Eca).
Fora que o William é "um dos nossos" (não estou dizendo gay, hein? Ele não tem nada de gay, infelizmente). Quero dizer que ele tem origem parecida com a minha, a sua e a de quase todos os leitores dos nossos blogs. Formação cultural parecida, referências, etc. Ele foi colega de classe de uma ex-namorada do meu irmão, e ela falava super bem dele.
Quanto à famosa menção ao Homer Simpson, pelo amor de Deus, não dê uma de patrulheiro da correção política. O JN é um resumão das notícias do dia, como ele mesmo disse na Marília Gabriela, e tem que ser acessível de A a Z. O próprio Jornal da Globo, que vai ao ar à meia-noite é mais sério, profundo e sofisticado.
Passado que o Cid Moreira tomou banho de banheira na "Caras"!!!
Eu também vejo como muito inusitada a maneira como William Bonner se coloca no Twitter. Parece "ingênua", mas talvez não seja: nada revela sobre os bastidores que era justamente o que seria mais conhecer e compreender melhor. O livro recém-lançado é fruto de uma revisão, reflexão, algo calculado. O cotidiano ordinário de qualquer pessoa, se bem colocado, em nada a depõe, mas desvia as atenções da dinâmica que permite desenhar ou tentar conhecer de verdade um caráter. Longe de especular qualquer "armação", "insinuação" ou "estratégia", mas ele tem sabido se expor sem se revelar.
Pode ser boa pessoa e acredito que a família tambem seja, mas o programa que comanda não tem nada de jornalismo. É mais um balcão comercial da Globo. Se for sério, deve sofrer de ter que se submeter a interesses comerciais, ou será que a vaidade está acima disso?
FIQUEI CURIOSO COM A RECEITA DO BRIGADEIRO ... É FORA DO COMUM? ABRAÇO
Esta "sisudez" típica das pessoas que se levam muito a sério tem mais é que cair mesmo. E o que vejo é que aqui no Brasil finalmente esta bobagem de que para alguém ser levado a sério tem que ter vida e atitude séria está começando a ruir.
O que vemos em outros países são profissionais bem humorados em qualquer lugar. Desde condutores de trens e metrôs com piadinhas que animam os passageiros e até mesmo apresentadores de telejornais.
Não é porque o cara é brincalhão que o trabalho dele está sendo comprometido ou a credibilidade posta em dúvida.
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