quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Parte 10: conclusão

Aqui termino as minhas homenagens a São Paulo.

Eu quis fazer essa série por dois motivos. O primeiro, como eu disse na introdução, foi pelo fato de que eu sempre externei a quem quisesse ouvir o meu profundo amor pelo Rio de Janeiro, mas nunca dei tratamento parecido a São Paulo, fazendo parecer a muitos dos meus amigos que eu não tinha o menor orgulho da minha cidade, das minhas origens e de ser paulistano. Não os culpo, pois eu sempre volto do Rio meio enfeitiçado e passo alguns dias com a cabeça meio lá meio cá, mas, ainda assim, a verdade é que eles estavam redondamente enganados, e assim resolvi aproveitar o aniversário de 451 anos para mostrar para todos que eu acho São Paulo o máximo SIM.

O segundo motivo é que eu acho que São Paulo precisa de mais manifestações de apreço como essa. São Paulo é uma cidade muito querida (tanto pelos paulistanos como por tantos outros que escolheram viver aqui ou mesmo que vêm passear aqui) mas também muito desmerecida, muito desprezada, muito criticada. Existe uma rejeição muito grande a ela por parte de pessoas de outros Estados, e se algumas das críticas são fundadas em defeitos e pontos fracos que esta cidade efetivamente possui (e que são de conhecimento geral), outros comentários são apenas manifestações gratuitas de puro preconceito, de pessoas que conhecem pouco ou nada da cidade e de seus habitantes e não se dispõem a lhe dar uma chance, a tentar descobrir o seu lado bom e as suas virtudes.

Por isso, São Paulo precisa ser mais defendida pelas pessoas. Sem dúvida, é uma das capitais menos bonitas do País, não só pelos predicados geográficos naturais como pelo próprio uso que fizemos e fazemos do seu espaço. Mas não dá pra esquecer que, se é fácil manter arrumadinha e bem cuidada uma cidade de 700 mil habitantes, o mesmo não se pode dizer de uma megalópole de 18 milhões, que cresce desordenadamente e recebe um incessável fluxo de migrantes sem ter como se preparar para isso. É muito difícil cuidar desse trem todo, gerenciar os problemas e manter a qualidade de vida num nível aceitável. Assim, acho que cada habitante daqui tem seu papel para fazer desta uma cidade melhor, e isso inclui também cuidar da auto-estima dela.

Sou um cara particularmente interessado pelos outros Estados do Brasil (embora conheça apenas as regiões Sul e Sudeste, tenho curiosidade de conhecer todos os cantos do País, bem como seus povos) e, mesmo com pouca experiência de campo, tenho a mais clara consciência de que todas as regiões têm algo de bom para mostrar e oferecer. E essa consciência só cresce na medida em que conheço aqui em SP mais e mais pessoas encantadores vindas de outros lugares. O Brasil é uma colcha de retalhos de diferentes povos, linguagens e culturas, e é isso que faz dele um país tão sensacional. E as pessoas deveriam estar mais abertas a isso, ao contato com mundos, modos de vida e pontos de vista diferentes dos seus.

No entanto, eu vejo que as pessoas ainda estão muito longe dessa consciência. Em minhas andanças tanto pelo mundo real como pelo virtual (em especial nas comunidades do Orkut), eu constato que o bairrismo está mais vivo do que nunca. Em pleno ano 2005, paulistas e cariocas ainda trocam desaforos extremamente violentos, absurdos e irracionais, e que me deixam profundamente entristecido. Mas o bairrismo não se resume à surrada rixa RJ x SP, não! Há também mineiros contra paulistas, paulistas e cariocas contra nordestinos, gaúchos contra catarinenses (e vice-versa), brasilienses contra goianos. É lamentável, porque todos seriam mais felizes se se permitissem receber aquilo que é diferente, fazer trocas e aprender com ele. É uma pena que algumas pessoas tenham uma cabecinha tão estreita e não enxerguem quanta coisa legal elas estão perdendo quando julgam e desprezam aquilo que elas nem sequer conhecem.

Hoje, eu posso dizer que transito em alguns mundinhos e aproveito o que cada um tem de melhor. E me orgulho disso. O segredo reside justamente em estar aberto a compreender o outro, aceitar como ele vive e entender que não há nada de errado em admirá-lo também ! Eu sou o maior fã do Rio e dos cariocas, amo-os sem o menor pudor e se eu ganhasse comissão da Secretaria de Turismo do RJ hoje eu certamente estaria rico, mas isso não faz de mim um paulistano menos orgulhoso ! Muito pelo contrário... hoje eu sou um paulistano melhor, mais vivido e mais descolado, justamente porque o contato com outras realidades me ajudou a entender a minha melhor – e valorizar ainda mais o que existe de bom nela.

Pessoal, somos todos brasileiros! Estamos no mesmo barco: somos irmãos! Por que é tão difícil gostarmos uns dos outros, afinal?

Um comentário:

Anônimo disse...

Bem, mais do que ninguém, você sabe que eu também adoro SP. De coração. Pela cidade, pelos amigos que a habitam. Em muitos aspectos até preteriria o Rio por SP. Aliás, o meu plano com o Bê é comprar um apartamentinho aí daqui a 5 anos. Vai ser nossa casa de campo. Nada mais cosmopolita, não? Beijos, lindo. Favoritei o seu blog no meu trabalho e prometo te visitar mais vezes aqui. Beijos!