quinta-feira, 15 de maio de 2008

Parada: ir ou não ir à Paulista?

A Parada Gay de São Paulo está vivendo um momento bastante peculiar. Depois de levar mais de 3 milhões de pessoas à Paulista em 2007, num evento caótico onde sobraram queixas de roubos, furtos e agressões, ela perdeu prestígio justamente entre a parcela do público que deveria ser sua principal protagonista. Um sintoma disso é a ausência das boates gays, como observou o jornal O Estado de S. Paulo (esse fato também deve ter outras explicações, como os altos custos de participação impostos aos clubes pelos organizadores do evento, mas não vou entrar nesse mérito aqui). A lista dos trios é quase totalmente formada por carros de ONGs e sites de relacionamentos.

Se antigamente terminar o feriado marchando sobre a Paulista era praticamente obrigatório, hoje esse programa está longe de ser uma unanimidade. Enquanto uns dizem, categóricos, que "essa Parada não me pega nunca mais", lembrando o desconforto das últimas edições, outros lembram que esse ato é, acima de tudo, uma manifestação de cidadania, que deve ter seu verdadeiro propósito resgatado. Como não cabe a mim ditar aos leitores o que eles devem fazer, preferi bancar o "advogado do diabo" e dar razões concretas para que cada um tome a sua própria decisão. Vamos a elas:

4 RAZÕES PARA VOCÊ 'FAZER A EGÍPCIA' E PASSAR BEM LONGE DA PAULISTA:

1) A Avenida Paulista está toda em obras, para a substituição das deterioradas calçadas de pedras portuguesas por blocos de concreto. Há inclusive trechos com interdições parciais dos dois lados da via. Se normalmente o excesso de gente já gerava transtornos e empurra-empurra, com o espaço reduzido pelos canteiros de obras a circulação deve beirar o insuportável.

2) Como já foi dito, nenhuma boate gay terá carros na Parada. E a The Week, não satisfeita em deixar de participar, ainda resolveu fazer uma grande festa justo no domingo à tarde. Resultado: se nos outros anos a quantidade de gente feia já era considerável, sem as "bunitas" desfilando provavelmente só vai ter dragão na rua.

3) Na última edição da Parada, os roubos e furtos não foram brincadeira. A situação estava completamente fora de controle: como os policiais foram colocados apenas nas laterais (como se estivessem lá para proteger os prédios e não os participantes do ato), não tinham como ver o que estava acontecendo na muvuca, justamente onde os crimes mais aconteciam.

4) A Parada deixou de ser uma manifestação pela causa gay e virou uma festa de rua esvaziada de sentido, palco de arruaceiros interessados apenas em confusão e baixaria. Em meio à apelação barata e às aberrações, fica até difícil falar em direitos civis ou orgulho gay - é esse o recado que temos a passar para o resto da sociedade?

4 RAZÕES PARA VOCÊ DEIXAR DE SER BESTA E IR À PARADA, SIM:

1) Temos que lembrar que a manutenção da Parada na Paulista foi uma conquista suada da Associação. Diversos setores da sociedade pressionaram para que ela fosse transferida para lugares "mortos" como a Avenida 23 de Maio - o que, além de dificultar o acesso dos participantes, seria como varrer a Parada para baixo do tapete, tirando toda a sua visibilidade. É preciso valorizar esse esforço.

2) A Nova Pool Party da The Week só começa às 15h e não deve começar a decolar antes das 17h ou 18h. É perfeitamente possível conciliar as duas coisas, já que a Parada começa às 12h em frente ao MASP. Dá para pegar pelo menos metade do ato (que termina às 19h30), antes de dar um olé na multidão, entrar no metrô e chegar rapidinho ao Clube de Regatas Tietê.

3) A organização da Parada promete uma estrutura muito melhor, para dar conta dos problemas de segurança. Foi feito um acordo com a Polícia Militar, que colocará seus homens misturados na multidão, e não apenas nas bordas. O efetivo policial será de 1000 policiais militares e 200 homens da Guarda Civil Metropolitana. Desses 1200 machos fardados, é razoável esperar que pelo menos uns 150 sejam apetitosos.

4) Se a Parada foi desvirtuada, não é abandonando o evento que isso vai mudar. É incoerente que um grupo que levanta a bandeira da inclusão social não seja tolerante com a participação de outras camadas da população - afinal, a parada ocupa um importante espaço público, trazendo inclusive transtornos à vida da cidade como um todo. Além disso, a Parada só passará a ter outro sentido se nós reassumirmos o que é nosso e fizermos a Parada que gostaríamos de ter.

16 comentários:

Unknown disse...

Thi, eu adoro quando você se mostra diplomático.

Depois de 3 anos seguidos de ponte-aérea, me considero escolado na questão "Paulista". Ano passado foi o pior ano e é bom mesmo prestarem mais atenção para o evento (em todos os aspectos), caso contrário vira uma "Parada do Rio".

Mas se a questão é ir ou não no domingo, isso fica diretamente ligado ao nível de jogação que a pessoa, desde quarta, irá enfrentar, né!?

Afinal, propostas e motivos para ir para SP, existem mil.

Bruno disse...

AH! As daqui da minha cidade são u ó! Queria muito ira pra de SP! haha
Abraço!

Vítor disse...

Como eu não vou à parada e nem tampouco a SP, vou ficar na parte do assunto que mais me interessou: por que diabos estão querendo tirar as pedras portuguesas das calçadas? O César Maia assumiu a prefeitura de vocês? Fiquei confuso, rs. Será que eu sou a única pessoa do mundo que acha as pedras portuguesas um charme?

Bjs!

Anônimo disse...

"REASSUMIR O QUE É NOSSO". GOSTEI! E CONCORDO. MAIS SEGURANÇA É NECESSÁRIA SIM, E TINHA ESQUECIDA DAS OBRAS NA PAULISTA... XI, VAI TRANSTORNAR UM POUCO...

Gustavo Miranda disse...

Nossa, Thiago. Você mais uma vez dá uma visão completa da coisa. Sinceramente, os embates entre as correntes pró e contra a Parada são grandes. Sempre fico dividido, mas no final das contas, acabo me posicionando no pró. Festa é até bom. Mas, consciência é melhor. Torço para que estejamos a caminho da evolução.
Abs, Gus

Unknown disse...

Thiago,

Adorei essa parte:
" Além disso, a Parada só passará a ter outro sentido se nós reassumirmos o que é nosso e fizermos a Parada que gostaríamos de ter."

Brasileiro adora reclamar, mas arregaçar as mangas e fazer algo..........

Antonio disse...

hahah...Meu, vc se supera em cada post!!!
Acho que deixar de ir por causa da violência e derivados é até aceitável, agora por motivos frívolos acho um tanto boçal e vazio e preconceituoso.
Maaaaaaas, cada um com seu cada!

bjossss

Paulo disse...

Thiago, vontade de ir na Parada não falta, fui em todas até agora... o problema é a segurança mesmo! Dei sorte na última, muitos conhecidos meus ficaram sem celular, carteira ou máquina fotográfica! Na boa, você acha que esses 1.000 policiais militares e 200 da guarda civil são suficientes para garantir a segurança de mais de 3.000.000 de pessoas? Acho meio difícil... (Embora concorde contigo, deve ter cada fardado delicioso no meio desses 1.200... hehehe... não resisto, vc sabe disso!) ;-)

beijão!

K. disse...

Um amigo norte-americano comentou hoje comigo que no mundo há uma sensação de que a Parada de SP é como Meca: todo gay deve ir pelo menos uma vez na vida.

Ainda reflito sobre o assunto da Parada... mudei bastante minha opinião, mas não consigo realmente chegar a alguma conclusão... Subi no muro, bem no meio dos seus argumentos. E não sei quando poderei descer, ainda.

Redneck disse...

Caro, eu estou aqui num post sobre uma aula que eu não tive, e daí que faço a minha própria versão dessa aula. Fui pesquisar sobre o Pittomba e encontrei o teu blog. E é incrível que eu penso muito as mesmas coisas que vc escreve. E vc está aqui há tempos, hein! Prazer em conhecer o teu blog. Um grande abraço e até a Paulista, então!

Alberto Pereira Jr. disse...

muito bom o post Thiago!

eu fico com o povo que ainda insiste na parada, sounovato nela.. esta será a minha 2ª.

espero mais segurança e muita festa. E quem sabe um minuto de silêncio em atitude contra a homofobia, como o Marcos sugeriu no podcats da Folha Online

Anônimo disse...

algo me diz q no fundo vc é pro. os argumentos era bem melhores. gostei!

Anônimo disse...

Eu não irei esse ano pra ver a parada. Acho que virou , como você mesmo disse, uma festa de rua. Eu, que moro no interior (São José dos Campos), acho uma palhaçada um monte de bee´s sairem daqui, pra desfilarem na paulista, na parada do orgulho gay , e chegarem no trabalho fazerem a linha hetero. Eu me adoro, e adoro os gays, adoro a homossexualidade, e encaro isso de forma natural, como é natural ter 5 dedos, 1 boca e 1 nariz, rsrs Não tenho orgulho de ser gay, tenho orgulho de ser íntegro, responsavel, de correr atras dos meus sonhos e etc. Isso não significa que não goste de festas, muito pelo contrário, mas acredito que a parada há muito tempo perdeu o seu sentido original. Ouço histórias de pessoas que foram pra parada e "soltaram a franga" literalmente, como se ser gay, fosse sinonimo de ser promíscuo. Eu não quero posar de santo, ja aprontei muito nessa vida. Eu só acho uma incoerência o fato de que a parada deva existir pra aumentar a visibilidade gay junto a sociedade, e em consequência conseguirmos ser mais respeitados, e ao mesmo tempo, os gays utilizarem esse evento como se fosse a última festa gay antes do fim do mundo, portanto um lugar onde tudo é permitido e ninguem é de ninguem. Acho que só vamos conseguir algum respeito dessa sociedade heterossexista , quando passar nós mesmos a nos respeitar mais. E se alguém acha, que pensando isso, sou daqueles que ainda está no armário, está enganado. Eu vivo minha sexualidade de forma transparente, ou seja, todas as pessoas que convivem comigo sabem. No entanto, nao acho que ser gay me dá a credencial pra ser promíscuo. Abraços a todos e para aqueles que forem pra parada, divirtam-se com responsabilidade. Beijos Thiago,seu blog é tuuudo. Leio todos os dias.

I. disse...

Adorei as "novidades" aqui, fazia tempo que eu não acessava. Você escreveu tudo o que eu queria sobre os 30. E já estou comprando a DOM semana que vem pra conferir, hehe.

Beijos!

Gui disse...

Eu vou dar apenas aquele "ola, querida" como em todos os anos anteriores.

Sei que nunca fui a Parada de verdade, nunca segui carro nenhum, e justamente por isso nunca tive problemas na Paulista ou na Atlantica. Mas acho que é quase obrigação - pra fazer numero e ser mais um na multidao nem que seja por apenas 5 minutos, tipo dever cívico, sabe?

André Mans disse...

opto pela distância total