Contraste social existe no Brasil inteiro, mas em Alagoas algo chama a atenção: os ricos são muito, muito, ricos. Por algum motivo que desconheço (será o calor?), a grã-finagem local usa e abusa de looks monocromáticos em bege, fazendo a linha "safári do sertão". Os alagoanos estufam o peito de orgulho ao lembrar que o cantor Djavan é de lá. Outra filha ilustre por quem eles nutrem muita simpatia é a ex-senadora (e hoje vereadora) Heloísa Helena. Já quando se fala em Renan Calheiros, eles gaguejam e tentam desconversar. E, antes que se chute o pau da barraca de vez, fazem questão de frisar que o ex-presidente Fernando Collor (que teve um romance com Leila Lopes, segundo a autobiografia deixada pela atriz, vocês viram?) é do Rio de Janeiro. As praias do Nordeste não costumam ter trechos segmentados por tribos, como Ipanema. Mas o trecho mais gostoso da Ponta Verde para ficar é entre os bares Lopana e Kanoa. Aliás, falando em Ipanema, esqueça o grito de "AAAAAAAAAAA-bacaxi!": a marca registrada de Maceió é o mantra "Pi-co-lé e-sor-ve-te CAI-CÓ! Pi-co-lé e-sor-ve-te CAI-CÓ!", repetido ad nauseam pelos falantes de um exército de carrinhos. Eu não conseguia parar de pedir o suco de abacaxi, laranja e gengibre do quiosque Guaraná Ponta Verde - tomava pelo menos três por dia. Estou longe de ser um santo e já vi diumtudo nessa vida, mas fiquei chocado com o quanto as camisetas com dizeres chulos (produto tipicamente nordestino que faz sucesso entre os turistas da classe C) estão pesadas. Coisa de tirar as crianças da sala! Onde o Brasil vai parar? Alugue um carro e passe um dia redondo no litoral norte: pegue praia em Guaxuma, depois siga até Ipioca, entre no condomínio Angra de Ipioca, almoce com os pés na areia no Hibiscu's (peça camarão ao champagne), e na volta para Maceió, tire fotos no mirante da Praia da Sereia. Já no litoral sul, a minha sugestão para quem tem pouco tempo é pegar praia no Gunga de manhã e em Barra de São Miguel à tarde (quanto mais você se afastar das barracas centrais, em direção às casas de praia, melhor). No fim da viagem, eu já estava me acostumando a ser chamado de "galego" pelos nativos. Para dar um up na vida dos filhos, há quem resolva batizá-los com nomes próprios inspirados no inglês: Kléberson, Dayane, Maicon, Rosicleide. Em Maceió, não vi muitas amostras do "estilo Creysson" - mas notei que nomes comuns recebem grafias diferenciadas, como Kaio, Karllos e Rogéryo. Morro de saudade da torta caseira de mousse de chocolate, pedaços de morango e creme de doce de leite que eu comia no Massarella, meu restaurante favorito em Maceió junto com o Takê. Aqui em São Paulo, muitos torceram o nariz para a favelização do Orkut e migraram para o Facebook - que, até o fechamento deste texto, ainda era tido como cool. No Nordeste, porém, o Orkut ainda é ferramenta de contato fundamental e necessária - todo mundo que você conhece em qualquer situação pergunta se você tem perfil e pede para te adicionar. Não existem gays em Maceió (e nem no Irã), mas, com um mínimo de perspicácia, é fácil encontrar um macho que curta uma brincadeira "na baixa". E a brincadeira que o moço quer, em 99% dos casos, é colocar a "pomba" dele no seu "boga". Mas gay é somente aquele que brinca com a pomba deles, capisce? Bom mesmo é dar risada de tudo isso, e ainda disparar a seguinte pérola, na iminência do abate: "Essa pomba gosta de um carinho?" Ah sim, e antes que perguntem: a amostragem realizada constatou que os alagoanos moram longe, bem longe. Se a liberdade de viajar sozinho e aprontar à vontade não tem preço, é duro ter que pedir para os outros nos passarem filtro solar nas costas - as alagoanas recusavam, ruborizadas: "não posso, eu sou uma mulher casada!".
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Picadinho nordestino (parte 2)
Postado por Thiago Lasco às 11:50 AM
Marcadores: maceió, nordeste, rapidinhas
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14 comentários:
Muito bom o seu review local, como sempre.
Eu acho que tive o azar de só conhecer alagoano FEIO, acho que preciso tirar essa má impressão.
E esse texto de gay é só aquele que brinca com a pomba, isso é bem comum até aqui se você já se misturou entre os enrustidos.
Nego jura que é "hetero" pq come. Aham, sentem lá, Cláudias!
Eitcha Terra Arretada! Quero dizer que achei bem interessantes seus textos e ratifico que em termos de beleza natural Maceió ganha de todas as capitais, fácil, fácil...hehe! Pra mim faltou um programa: andar de bike na orla é muito massa; a vista da orla, a brisa na cara e um mp3 no ouvido dão um prazer ainda maior as pedaladas. No entanto, como você disse, ainda precisamos “tanger” algumas manias que se encontram arraigadas na sociedade alagoana. Costumo brincar com meus colegas dizendo que esta terra é um feudo, pois quem é rico é muito rico, mas quem é pobre é muito pobre!
Ps1: Chegou a provar o picolé de tapioca ou o sorvete de rapadura?
Ps2:E eis que no primeiro dia de verão: Chuva!
Abraços
Aposto que o restaurante de 150 reais e que não prestou foi no Rio. Tsc, tsc. Não sei porque ainda vão para lá...
Essa ideia de "picadinho" è mara, vc deveria pegar o copyright como titulo de guias turisticas sobre as cidades brasileiras (mas tambem adorei seu post sobre Buenos Aires!) antes que as malditas lhe roubarem a ideia rsss!
Adorei esse post...da' vontade de ver essa cidade abençoada por essas praias e esses bofescandalos dando uma de "espada" (isso nao me incomoda, se eles precisarem disso psicologicamente falando rss!)
O Collor é carioca, mas quem o reconduziu com glória ao senado foram os alagoanos. Que também já reelegeram trocentas vezes o Renan Calheiros. Despotismo esclarecido nessa gente!
Introspecto, então lá deve ser o paraíso das passivas!!!? Daquelas que adoram se refastelarem com (supostos/ crentes) HTs?
Pois, amigo, se dependesse de mim todos esses maceioenses iam ficar com a pomba desprovidas de carinho pra sempre!
Imagina, cambada de homofóbico!
Devem chegar em casa e "brincar" com a coca zero pet! Vão todos ficar com o saco e o ânus roxo e ainda usar fraldão kkkkkkk
Too-Tsie: Hehehe... eu estava com saudade dos seus comentários bem-humorados ;)
Indigo: Eu comentei algo sobre a ciclovia no post anterior sobre Maceió. Realmente, é linda! E sorvete de tapioca, provei só o da Bali!
Alexandre Bortolli: O restaurante de R$150 [de que falei no Twitter, pra quem não entendeu de onde veio esse comentário] foi em SP mesmo. Foi o Emporio Ravioli. Minha mãe não pisa no Rio por nada: não gosta de praia, detesta calor e fica encanada com o que vê nos noticiários.
Luca Lourinho: Também não me incomodo, cada um com os seus problemas! Legal que vc curtiu o post!
Tony Goes: Pois é. Mas preferi ser gentil e não continuar no assunto ;)
Anônimo: Hahahahaha, adorei a coca zero pet!!! Mas acho que eles resolvem o problema indo para Recife e Salvador dar o 'boga' escondidos...
nunca pensei que vc fosse assediar mulheres casadas, rsrs!
esse truque do protetor solar é velho...
oi introspecto, faltou um hot spot: vc tentou o Kanoa - que fica ali perto do Lopana e do Takê? Nossa, parece um chill-in de ibiza, uma coisa pré balada - com dj soltando muita beach house, achei incrível e saí de lá achando que estava no café del mar - claro que me acabei no prosecco, neam? Morei a trabalho lá por um mês lá e me identifiquei com cada palavra do seu post. Luv u, buzz.
Anônimo: o Kanoa está citado logo no começo do post! :)
Olá! Posso tecer minha crítica sobre seu texto? Obrigado.
Não entendo o fato de você sair de São Paulo para admirar-se com o contraste social de Maceió. Os ricos (muito ricos) de São Paulo estão ilhados pela miséria, marginalidade e pobreza. Problema este grifado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), chamando atenção para esta séria problemática que vem assolando a capital e região metropolitana de São Paulo.
Em 2006, pesquisa realizada pelo MEC trouxe à tona um ranking nacional dos testes de conhecimento em matemática e língua portuguesa. São Paulo ficou abaixo de cidades muito mais pobres no Norte e Nordeste, como Teresina, Aracaju e Rio Branco. Veja bem, numa cidade moderna e de ponta como São Paulo, o povo também "sofre sem saber".
Como você, também acho bem curioso ver caricaturas do povo brasileiro, apesar de não procurá-las nem sobestimá-las por qualquer tipo de impressão padronizada e preconceituosa. Defendo a multi-organização de gostos, gestos e modos do povo. Até mesmo quando, talvez por força da curiosidade, meu controle da TV me leva aos programas de palco de Silvio Santos ou quem quer que seja (Márcia Goldsmith etc.). Dói ver a miséria escancarada, o "nem aí" para o escândalo social, a externação das particularidades individuas e familiares, abusadas e ridicularizadas pelo ânsia do ibope. Em sua maioria, paulistanos/paulistas. Pobres coitados, vítimas da diferença social e da má distribuição da décima maior riqueza mundial (PIB). Tão trágico que chega a ser hilário ver Silvio Santos jogando aviõezinhos para a feminilidade pobre e sequiosa, vestida de "domingo à tarde", passando até entre as pernas do ilustre e rico apresentador, em busca das notinhas esvoaçantes.
Gays em Maceió e no mundo existem aos montes. Não os encontrou na capital alagoana? Algo muito estranho há nisso tudo, mas busque suas próprias respostas. O padrão homossexual de Maceió é realmente diferente do de São Paulo, conhecida por ter uma das melhores noites gays do mundo, regadas a promiscuidade, drogas (no mínimo as famosas balas), liberdade de sexo. Lamento pelo pouco cuidado que o brasileiro em geral, não só o gay, ainda tem tido em relação às Doenças Sexualmente Transmissíveis, aparecendo nossa "rica" São Paulo como o maior pólo da Aids no Brasil. Aqui fica meu grito de alerta para vocês. Cuidado com o falso glamour, aquele que expõe mais ainda os indivíduos à submissão da droga ou destruição da própria vida. Não taxando, obviamente, o mundo gay como o "grande causador e disseminador", mas como não hipócrita que devemos ser, cabe-nos acatar a idéia do sexo incontido que permeia a vida gay.
CONTINUAÇÃO:
Concluindo minha crítica, reforço a pretensa ideia de alertá-lo contra o abuso de impressões e formações de caricaturas. Enxerguemos as mazelas do nosso país como um problema da coletividade. Ainda que não tenha sido sua intenção, este modo de ver e disseminar uma impressão caricata e categórica do Nordeste traz malefícios a nós "nativos" quando nos aventuramos pelas "terras" Brasil afora. Pasme! Somos vítima de preconceitos , construídos na arcaica atitude dos brasileiros que enxergam o Nordeste do alto de suas hipocrisias e dos seus egoísmos. Reafirmo não ser seu caso, apenas quero deixar claro que este tipo de exposição não nos agrada, bem sabidamente.
Lutemos por um Brasil unido, respeitando diferenças. Que os gays não sejam vitimados pela intolerância. Que a pobreza não seja encoberta pela vergonha, mas assumida pela dignidade e sentimento de mudança. Que a pobreza, analfabetismo e subempregos no Nordeste sejam vistos como um problema brasileiro. Que os valores de sua gente sejam reconhecidos e que os trunfos já conquistados sejam levados a planos onde a massa inteira possa se espelhar.
Meu abraço aos maceioenses que se deletam nessa terra maravilhosa, regada a sol e mar, paz, limpeza e organização. Que seus problemas sejam sanados cada vez mais.
Um abraço à maravilhosa São Paulo, aonde pretendo ir mais vezes e poder encontrá-la cada vez mais rica e menos desigual.
Minha força aos gays ou héteros que foram acometidos por problemas de saúde ou vícios etc.
Acredito na ciência. Espero ver a cura da Aids e de muitas outras doenças.
A você, caro compatriota, um 2010 de paz, saúde e reflexão!!!
Por um Brasil melhor,
Maneco, pernambucano, 25 anos.
Erratas:
Onde se lê: "sobestimá-las", leia-se "subestimá-las"; onde se lê "pelo ânsia", leia-se "pela ânsia"; onde se lê "deletam", leia-se "deleitam".
Maneco: obrigado por prestigiar meu blog com um comentário tão rico e bem escrito. Entendo o seu ponto e não desmereço seus argumentos. Mas vejo nas suas palavras uma postura defensiva que é muito freqüente diante de observações feitas por paulistas, como eu. Vocês acham que nós estamos sempre criticando, acusando, apontando o dedo para os defeitos, e vocês precisam rebater e mostrar que SP também tem mazelas, SP também é imperfeita e tal. Colega, não posso falar por todos os paulistas, mas, pelo menos em relação a mim e aos meus textos, vc pode tratar de se desarmar JÁ, visse? :) Longe de mim ter qualquer tipo de preconceito ou discriminação para com o Nordeste (que visito sempre que posso, aliás). A minha intenção aqui não foi gongar Maceió ou o NE, mas apenas registrar as minhas impressões de viagem, as coisas que chamaram mais a minha atenção (inclusive exaltando as virtudes). E não acho que eu reduzo tudo o que vejo a meras caricaturas - embora, muitas vezes, os aspectos que chamam a atenção de um não-nativo sejam freqüentemente exaltados em caricaturas (da mesma maneira como os aspectos de São Paulo citados por você o são). Feliz ano novo pra você também e apareça sempre! Um abraço.
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