terça-feira, 12 de junho de 2007

Resumão: o sobe-e-desce da Parada 2007

Minha idéia era fazer uma cobertura completa e detalhada de tudo o que rolou nessa temporada. Mas o tempo corre, o assunto envelhece rápido e, até eu ter tempo para escrever os três posts que eu prometi, ninguém mais ia ter saco de ler tanta coisa sobre algo que já passou. Então, aqui vai um resumão bem objetivo, no estilo daquele quadro sobe-e-desce da revista VEJA, com o melhor e o pior da Parada 2007.

UAU:

1 - SÃO PAULO OVULANDO. A cidade viveu uma histeria sem precedentes: nunca se viu tanta gente fervendo tanto em tantos lugares. A região da Paulista e Jardins estava em polvorosa. Os lojistas da Oscar Freire e do Iguatemi riam sozinhos com as vendas (e, pela quantidade de calças novas nas festas, a Diesel deve ter ficado mais uma vez sem numeração, como em 2006). O saguão do hotel Formule 1 parecia fila de chapelaria de boate. A Benedito bombou, os restaurantes idem - a Bella Paulista então, nem se fala. Na Frei Caneca, uma muvuca se aglomerava na porta da Labirinttu's, enquanto nos corredores do shopping o clima lembrava véspera de Natal. Em todos os cantos, a sensação era de estar fazendo parte de uma euforia coletiva - um sentimento de festa muito especial, como o Réveillon, como o Carnaval. A Parada já é o evento que traz mais turistas a SP, desbancando até a Fórmula 1.

2 - TEMPO BOM. Até poucos dias antes do feriado, o cenário em São Paulo era assustador: dias frios e fechados e noites com temperaturas de até 5ºC prometiam uma Parada gelada e coberta de agasalhos. Mas o milagre veio em cima da hora: o tempo abriu e tivemos lindos dias de sol (chegando aos 28ºC no domingo, durante a Parada). Com isso, as day parties tiveram outro brilho e os descamisados puderam se jogar felizes, sem risco de pneumonia. Tudo fica mais bonito quando o dia está bonito.

3 - X-DEMENTE. Fábio Monteiro calou a boca daqueles que agouravam o futuro de sua label party. A X-Demente foi considerada por unanimidade a melhor festa da Parada SP 2007. No som, Chris Cox (um homem? uma mulher? um Dan-Top?) conseguiu exatamente o equilíbrio que faltou a Victor Calderone na TW: deu à pista um tribal inteligente, abusando de remixes rebolativos de hits, mas sem cair na bagaceira. Fabinho nem precisou incrementar as despojadas instalações do Pacha: seus seguidores, os melhores corpos do mercado brasileiro, já deram conta sozinhos do espetáculo, transformando a pista circular da casa numa arena de luxúria, como nos velhos tempos da Fundição. Com isso, o velho mestre das festas injetou novo gás na imagem da X.

4 - GIRA-SOL. Com todos os méritos de unir vários clãs num espaço novo, a verdade é que a GiraSol começou bem estranha, com uma vibe morna e muita gente esquisita. Como já é praxe nas pool parties do eixo Rio-SP, a mágica veio com o cair da tarde: foi aparecendo um povo mais bonito, o som melhorou e o evento finalmente ganhou corpo e decolou. O DJ Brett Henrichsen ainda está um gato, mas seu som não me convenceu desta vez - quem roubou a cena mesmo foi Eric Cullemberg, que assumiu as pickups depois dele e, em poucos minutos, incendiou a enorme pistona da GiraSol, com um set foderoso e totalmente bombator, que mudou todo o rumo da festa. Mesmo com as duas maiores festas da temporada rolando naquela noite, o povo não arredou pé da GiraSol até o começo da madrugada.

5 - A PRATA DA CASA. Os nossos DJs não ficaram devendo nada aos convidados de fora, mesmo diante de superestrelas do naipe de Peter Rauhofer e Victor Calderone. Aliás, a própria presença dos gringos parece ter atiçado o fogo dos residentes, que se soltaram mais e tocaram muito melhor do que nas noites normais. Pacheco sempre manda bem, mas desta vez quem chamou mais a minha atenção foi João Neto, que estava num ótimo momento, desenvolto e inspirado, especialmente na noite de quarta (ei André Almada, que tal dar carta branca para o moço tocar sempre o que ele quiser? a pista da TW já mostrou que está preparada para um pouco mais de ousadia...). Morais já vem provando há algum tempo que tem todos os predicados para conquistar um lugar na pista 1 da TW. E o excelente Gutho Bumaruff, que só dá as caras em ocasiões especiais, merecia mais espaço na casa - ninguém melhor do que ele para tocar um som chique e underground sem deixar de ser acessível.

6 - THE WEEK. Na semana da Parada deste ano, a casa não teve nenhuma noite realmente inesquecível (como o histórico sábado do ano passado, com o Peter Rauhofer, que foi mágico). Mesmo assim, o desempenho da TW se manteve sempre numa média bastante boa, com animação e gente bonita em todas as noites (a de quarta teve mais gente bonita, a de sexta teve mais animação e a de sábado foi a mais equilibrada entre as duas coisas). Mais uma vez, a casa se firma como a melhor opção fixa da Parada, onde você tem a garantia de encontrar a diversão que procura. Boa jogada: a área externa também recebeu alto-falantes e telões, desafogando a pista principal e permitindo que todos curtissem o som dos DJs sem ter que se espremer lá dentro.

7 - BUBU. Sem fazer alarde, sem se meter em intrigas e sem puxar o tapete de ninguém, a Bubu preparou uma programação caprichada, com direito a vários convidados gringos (Erich Ensastigue, Southern Brothers, DJ Fist) e teve uma ótima temporada, com casa cheia todas as noites e um bom retorno de seu público, cada vez mais fiel. Pra completar, seu imponente trio elétrico foi de longe o mais bonito da Parada, num ano em que até o carro da The Week estava uma penosidade só. Esse é um cenário animador para o passo maior que a Bubu dará no segundo semestre: a abertura da Megga, um superclube para as noites de sábado, no mesmo bairro da The Week.


UÓ:

1 - SER APENAS UMA PESSOA. Nunca se teve tanta coisa bacana acontecendo ao mesmo tempo. Na tarde de sábado, por exemplo, a day party GiraSol, o gay day do Hopi Hari e o fervo na Benedito Calixto foram todos incríveis. E à noite, a E.Joy & R.Evolution e a The Week disputaram a tapa as atenções. Com isso, a vontade é de estar em todos os lugares, ir a todas as festas e conhecer todas as pessoas. Mas isso é impossível: você é apenas uma única pessoa, com a capacidade física de um único organismo (e, conforme o caso, as limitações econômicas de um único salário). Assim, é preciso fazer escolhas, e pode ser muito chato ter que abrir mão de coisas legais e aceitar a própria impotência. O melhor exemplo disso: muitas pessoas apostaram no Victor Calderone, na quarta, e não tiveram forças para sair na quinta. Com isso, tiveram que carregar o peso de ter perdido a melhor festa desta temporada, a X-Demente. Excesso de opção também pode ser cruel.

2 - VICTOR CALDERONE. Dói admitir, mas minha principal aposta para a Parada deste ano não atendeu às expectativas e não repetiu o brilhantismo das apresentações anteriores. Eu já esperava que Victor não iria agradar à massa que bate cabelo com Offer Nissin, mas até eu, que prefiro um som mais underground, achei que ele foi inadequado para a ocasião. Longe do progressive house sensualmente dark que mostrou na Level, Victor fez um set duro, pesado e sem concessões. Ou ele não se sentiu à vontade no ambiente da TW, ou simplesmente não entendeu a pista que tinha nas mãos. Uma pena, porque a noite tinha tudo pra ser maravilhosa (incluindo os caras mais lindos) e não foi.

3 - FESTAS AUTO-GONGADAS. Com tantas boas opções, algumas festas pediram para ser gongadas. E foram. A Acqualand teve a ousadia de cobrar R$50 e R$60 para fazer uma festa a quase 100km de São Paulo - foi o mico do ano, com menos de 400 pessoas numa superestrutura para milhares. A pool party com Tony Moran foi divulgada tão tarde que ninguém tomou conhecimento - acabou sendo mudada às pressas de lugar e não contou com a presença nem do público, nem da estrela principal. E As Meninas fizeram tanto doce para soltar o lugar da festa que muitos acabaram preferindo o Playcenter mesmo, onde Sérgio Kalil conseguiu lotar sua Play Party com precinhos mais camaradas.

4 - A ETERNA TROMBA AMARRADA DE PETER RAUHOFER. Ele ainda é meu DJ-de-pista-gay preferido e vou continuar prestigiando suas próximas apresentações no Brasil. E todo mundo já está cansado de saber que ele vive de tromba amarrada. Desta vez, porém, se não decepcionou, o som dele também não chegou nem aos pés da apresentação fantástica do ano passado. Nas últimas duas horas do set, aliás, ele exagerou no azedume e chegou a ficar até chato. Quando passou a bola para Isaac Escalante (mais de uma hora depois do combinado), era visível a expressão de alívio de todos com o súbito alto astral do som do mexicano, que deixou uma impressão melhor.

5 - A PARADA EM SI. A Parada nasceu como uma manifestação pública bonita, que promovia cidadania, respeito e visibilidade e tentava integrar os gays ao resto da sociedade de uma forma saudável. Com o tempo, o lado do carnaval se sobrepôs ao lado do ativismo político, o que já era de se esperar. Até aí, tudo bem. Mas o que se viu neste ano foi um completo show de horror. Aquela Parada pacífica, freqüentada pelos gays e também por héteros bacanas e famílias, se desvirtuou e foi invadida por um exército de desclassificados que não tinham nenhum tipo de simpatia pela causa gay e estavam ali apenas para se entupir com a bebida barata dos camelôs e arrumar confusão. A cifra de 3,5 milhões de pessoas não é motivo para comemorar: é muito difícil a Polícia garantir a segurança de tanta gente espremida numa avenida, o que permitiu que um número considerável de ladrões se infiltrasse e fizesse a limpa na multidão. Pra piorar, os trios elétricos em geral estavam bastante pobres. A organização da Parada precisa parar de pensar apenas em números e buscar soluções para resgatar a verdadeira essência do evento - desse jeito, os gays, que são os verdadeiros protagonistas, serão os primeiros a pular fora. Apesar do dever cívico de marcar presença, não estou nada animado para voltar à Paulista em 2008...

6 - A INEVITÁVEL REBORDOSA PÓS-TUDO. Não tem jeito: o prazer e o encantamento de tantas festas e fervos podem ser intensos, mas passam rápido. Cinco dias escorrem pelos nossos dedos. Terminada a fantasia, o que resta a cada um é enfrentar sua vida real. Para quem mora em cidades menores, voltar a um mundo de marasmo e, muitas vezes, intolerância, pode ser desalentador. Mas mesmo quem mora em São Paulo vive uma certa melancolia, ao ver que os lugares que estavam fervendo de gente nova voltaram ao seu ritmo normal. Além disso, depois de tantos excessos cometidos, é duro ter que juntar energias para encarar o pique da cidade grande. O melhor jeito de passar por isso é olhar com alegria para os bons momentos e tirar deles uma nova motivação para seguir adiante. A vida continua, e ano que vem tem mais!

13 comentários:

TONY GOES disse...

A parada vai acabar virando um detalhe, ou um mero pretexto, como são as escolas de samba no carnaval do Rio - algumas bibas até vão pro sambódromo, mas a maioria está mesmo interessada é na X-Demente, na BITCH e na E-joy. Tomara que a Parada desinche, mas que SP continue recebendo milhares de turistas, amém.

Estefanio disse...

Concordo com tudo que disse e mais um pouco! O tem bom foi um presente, é massante pra nós carioca sair em SP desacostumados com o frio todos acasalhados, o que ã aconteceu nesse feriado. Tbm achei X demente a melhor festa do feriado e acho q o que contribuiu muito para isso foram o local e o Chris Cox, que por alguns segundos eu achei q fosse uma sapa-talvez namorada da allyson. Esperava mais do Peter tbm, achei o set dele um pouco 'pobre' e cansativo, quando Isaac entrou parecia o inicio de outra festa, esse sabe levar a pista muito bem e ja disse q c sente em casa no Brasil pela semelhança da cena brasileira com a mexicana! Rosabel merece destaque pela técnica impecável e pela sintonia um com o outro, provavelmente os dois separados um em cada noite não seria tao bom, os som deles se completam. Uma pena Calderone nao ter agradado, mas achei meio pevisivel, visto que o último cd dele foi fracasso total nem parece o mesmo dj q o vi e sai de boca aberta sem ter o q falar sobre seu set. Achei otimo a Bubu com uma alternativa mais latina com excelentes dj nao tao famosos mas q sao excelentes. Pelo q fiquei sabendo Tony moran tocou sim na festa, porem beeem tarde quando muitas das poucas pessoas presentes ja tinham ido embora, tipo dizem q restaram <30, triste. Tony eh otemo e merecia mais que isso.
Dei uma pinta muito rapida na parada e a unica coisa q ouvi foram reclamações de roubo, nao vejo muito sentido!

Encontrei com Peter em plena Oscar Freire por incrivel q pareça foi super simpatico coma gente, até riu, e se espantou da gente ter reconhecido ele. ;)

Anônimo disse...

Parabéns pelo seu blog. Um respiro no meio dos bloguinhos gays. Continue.

Estefanio disse...

E eu que outrora me espantei com a androgenia do Offer, visto que Chris Cox eh ht, casado e pai de filhos esses djs só nos surpreendem!!
As imagens foram feitas da area vip, nakele espaço entre as escadas e o banheiro, dava ate pra conversar com os djs, quando eles iam pegar os cds atras, mas nao era o caso do Peter, eu não arrisquei falar nem um Hey Peter! hhehehehehe

Gui disse...

Nossa....foi cansativo, mas ótimo. O meu relato saiu super diarinho...
O que me impressiona é, alem da quantidade de opções, o profissionalismo que alcançamos. Tomara que a cada ano tenhamos mais e melhores opções.
E que venha a TW Rio e o Reveillon da Cidade Maravilhosa...rs.

Ah, como Estefanio falou, encontramos Peter na Oscar freire, acredita?! Um phopho, faltou pedirmos o telefone.

Anônimo disse...

Parabens pela imparcialidade e comentarios realmente adequados ao que a maioria sentiu.

Gui Sillva disse...

Muito bom o seu resumão.
Parabéns pelo "post". E espero quie você tenha se divertido nesta semana mais que movimentada em são Paulo.
abração
Gui

Anônimo disse...

Nossa.. parabéns , leio vários blogs e realmente vejo vários tendenciosos, divertidos, moralistas e às vezes chatos, mas acho que é uma forma rápida de pegar informação, enfim.. e o seu é escrito de uma forma muito leve, despretensiosa e elegante, e que demonstra que, por mais que o blog seja a particularidade do mundo e da vida do seu escritor, vc tem respeito e parece estar sempre pronto a informar/ajudar quem o lê.
Parabéns, de novo!!

Anônimo disse...

CLAP CLAP CLAP........Parabéns,Menino!
Seu texto é uma delícia.
Arrasou na retrospectiva...continue asssim.

Anônimo disse...

Obrigado pelo post, achei muito "smart". Tomara que fosse a ultima vez que perco essa parada!
Como dizia minha vovo, e melhor ferver (mesmo que tem que sofrer depois, por voltar a vida real), que de nunca ter fervido...

Anônimo disse...

Estou gostando de ver lindinho!!!! Valeu pelo resumao de mais um evento. Parabens pelo estilo fluido da narrativa.
Abracos e saudade,

N

Rob disse...

Parabens pelo blog!
abracos from NZ
Beto

Fabricio disse...

incrível sua série de reportagens, dicas, etc. sobre a semana da parada gay em SP! opiniões concisas e um ponto de vista bastante abrangente. leitura gostosa e informativa de verdade! parabéns!!
óbviamente, tô adicionando seu blog aos meus favoritos - preciso voltar mais vezes. tenho certeza que não me arrependerei...
=]