São Paulo pode ter atrações para todas as tribos, mas é uma cidade que não sabe tratar os seus turistas. Os postos de informações são difíceis de encontrar e o material de apoio é escasso. Numa metrópole de porte gigantesco, transporte público nada intuitivo e transeuntes nem sempre dispostos a parar e ajudar o próximo, o mínimo que se pode oferecer para que um visitante consiga se virar é um mapa de bolso decente, que cubra as áreas mais interessantes para o turista. Praticamente toda grande capital que se preza tem isso. E muitas (inclusive Buenos Aires) ainda têm mapas dirigidos ao público gay, apontando onde ficam os bares, as boates e as saunas.
O que muitos talvez não saibam é que já existe um produto desse tipo por aqui. O São Paulo de Bolso acaba de completar um ano, com quatro edições de distribuição dirigida: em pontos estratégicos como as lojas Foch, a sauna 269, o restaurante Consulado Mineiro e a rede de hotéis Formule 1. Eu já devo ter visto alguma das edições passadas, mas confesso que só parei para examinar o dito cujo no feriado de Páscoa, quando amigos de fora vieram me visitar e eu peguei na fofíssima loja 2Meninos alguns mapinhas para dar a eles.
O material, em dimensões bastante convenientes (11cm x 11cm), compreende um mapa dobrável e um livrinho, do qual pode ser destacado. Recheado de anúncios, o mapa faz um recorte bastante completo do miolo que importa para o turista: a região da Paulista e Jardins, o Centro, a boemia de Pinheiros, Vila Madalena e Itaim e bairros residenciais como Higienópolis, Perdizes, Vila Mariana, Moema e até uma parte do Morumbi. É reconfortante a sensação de que a cidade cabe na palma da mão e pode ser assimilada. Os estabelecimentos de interesse GLS estão marcados com bolinhas numeradas.
O livrinho dá suporte ao mapa, com os estabelecimentos listados na ordem das bolinhas numeradas. Se serve como simples legenda, começa a derrapar quando arrisca ir além. Saltam aos olhos erros de português ("acadêmias", "alta estima" onde claramente queria se dizer autoestima, "bambú terapia") e traduções toscas para o inglês ("stores suplements", "coffees"). As descrições dos lugares são pobres, redundantes ("saboreie doces momentos com melhor doce", "cozinha tailandesa numa cozinha contemporânea") e nada informativas. O Kayomix, por exemplo, é um "restaurante japonês que dispensa qualquer tipo de apresentação" (ah, bom! muito esclarecedor: o leitor que não conhece é burro e desinformado). O Exquisito é - adivinhem! - um "bar totalmente exquisito, que faz jus ao nome". O Piaf é um lugar "de bem com a vida" (oi?). O shopping Pátio Higienópolis é de "alto poder aquisitivo" (não seriam os clientes?). O Conjunto Nacional é "o point cultural clássico da cidade" (desde quando?). E as "underwears" [sic] da Foch "estão presentes em 70% dos gays" (por acaso a mocinha do IBGE já parou algum de vocês na The Week?)
Se as indicações do guia já trazem um festival de bobagens, a coisa complica ainda mais quando o guia tenta oferecer conteúdo jornalístico. A entrevista com a personalidade da capa, um empresário mineiro que veio abrir uma associação LGBT em São Paulo, é sofrível: não soube tirar boas respostas de alguém que certamente tinha algo a dizer, nem mesmo mostra a que veio a tal associação. Mas o pior de tudo é a "matéria de saúde", um texto (muito mal) escrito pelo diretor de um centro de tratamento para dependentes químicos, que só faz desfiar um rosário de clichês, em tom de julgamento e recriminação. Os usuários "possuem uma fragilidade de virtudes", "é quase impossível encontrar valores refinados (?) como bondade, compaixão e amor" e, para terminar, "em muitos casos podemos somente assistir seu fim de maneira deplorada" [sic]. Pastor evangélico perde.
Enfim, a iniciativa do SPdB era mais do que necessária e deve ser prestigiada. Com uma parada gay levando 3 milhões de almas à Avenida Paulista e uma cena que tenta se articular e se profissionalizar, já estava na hora de alguém pensar em algo tão básico como um guia de bolso para os turistas que vêm se jogar por aqui. Mas o produto ainda tem muita coisa a melhorar, a começar pelos textos, que precisam urgentemente de uma supervisão competente. Por enquanto, o guia vale mais pelo mapa em si - que fica ainda mais portátil se, após jogar o livrinho fora, você rasgar cuidadosamente os anúncios em volta. Mas algo me diz que não era essa a idéia original deles...
quarta-feira, 15 de abril de 2009
GPS para GLS
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13 comentários:
Thiago,
Oferece um serviço de consultoria para eles...rs
Abraços,
David®
Nossa.
Epic fail, hein?
hahahahahahahahaahha
seria melhor fazer um roteiro puro e simples do que publicar essas coisas como a matéria sobre drogas. concordo com o David: eles estão precisando de uma consultoria! urgente!
Este sao paulo de bolso é muito bom... eu curti e realmente concordo que a cidade nao foi feita para turistas... embora tenha maravilhas escondidas.
A prefeitura tem melhorado um pouco isso com placas de turismo no transito, pelo menos aqui na Zo, mas falta muito para chegarmos ao ponto de uma Buenos Aires que tanto os brasileiros desprezam...
bjs do Lico
Essa capa com o bigodudo não dá uma vontade louca de conhecer São Paulo, essa megalóple cheia de contrastes? Imagino a bichinha do interior vendo o guia e se mordendo de vontade de vir para cá!
o que podemos esperar de um tempo de Barbarie e Burrice????
otimo texto
abraços
julino
o formato desse guia é idêntico a um dos vários que são distribuídos em Buenos Aires.
não sei se foi chupado na cara dura, ou se os porteños resolveram fazer a edição SP (o que talvez explicasse o português de quinta categoria).
Algo bem básico que poderia ser feito - contratar estagiários de comunicação e turismo.
Parabéns pelo blog!
Acredito que todas as critícas são boas, até pq melhoram e muito o conteúdo do Guia.
E O QUE ESPERAR DE ALGUÉM QUE PROVAVELMENTE USA DROGAS "inclua na lista o álcool e o tabaco"? Fazer um pré julgamento de alguém que trabalha e cuida de pessoas dependentes a tanto tempo é muito fácil, até pq falar mal é muito mais fácil que fazer o bem. E talvez neste caso a notícia caiu tão bem pq a pessoa se identificou com a matéria e não quer concordar... so sad...
Algumas pessoas poderiam fechar a boca e poupar tempo para não falar ou melhor escrever besteiras.
Outra coisa é o fato das pessoas acharem que alguns serviços no Brasil são simples, bem lembrado no blog, pois as nossas secretarias de turismo não só em SP como em outros estados são precárias e ter alguém com a iniciativa de informar turistas e não turistas na cidade é muito bom.
Agora o guia é feito até mesmo para o mais leigo na cidade e algumas informações são para leitores desinformados mesmo, me desculpe dono do blog ninguém é obrigado a conhecer o CAIOMIX... na boa... pecou no texto...
[s]
Vamos por partes, Lúcio:
1) quem está fazendo prejulgamentos (e dos piores) é o autor do texto, ao escrever que os usuários "possuem uma fragilidade de virtudes" e neles "é quase impossível encontrar valores refinados como bondade, compaixão e amor", concorda? Como ele pode fazer uma afirmação dessas sobre toda e qualquer pessoa que seja usuária de algum tipo de droga? Se isso pra vc não é um prejulgamento, então eu não sei o que é!
2) Parece que vc não entendeu o meu texto. Claro que concordo que ninguém é obrigado a conhecer o Kayomix, e justamente por causa disso o guia jamais poderia ter dito que o restaurante "dispensa qualquer tipo de apresentação". É o guia que está chamando o leitor de burro e desinformado ao dizer isso, não sou eu! Deu para entender agora?
3) Também concordo que as críticas são boas e podem melhorar o conteúdo do guia. Foi por isso que me dei ao trabalho de escrever esse post: porque acredito que SP merece mais e os autores do guia podem acabar lendo o meu texto e dar uma melhorada geral no produto deles.
Recado dado!
Até por não trabalhar com isso e por não ter conhecimento minímo é de se entender o seu comentário.
Talvez seja um usuário tomando as dores de um dependente quimíco...
Vc sabe diferenciar uma coisa da outra?
Todo dependente quimica tem seus valores deturpados, e o que ele disse é correto, pois é impossível encontrar valores nestas pessoas que não sejam somente para usar ao seu favor...
O que ele quiz dizer é que "DEPENDENTES QUIMÍCOS", antes de qualquer tratamento não conseguem ter discernimento dos seus sentimentos e valores... e após um tratamento e reabilitação voltam a te los. ENTENDEU AGORA???
Também acho que os autores vão ler o seu texto e até os posts e isso ajudara muito e trará boas melhorias ao guia e para SP pois a cidade já estava na hora de uma iniciativa bacana assim.
Criticas e pontos de vistas são sempre bem vindos, até pq não se pode agradar a todos.
[s]
São Paulo, há décadas, não é São Paulo.
A política de emigração e a irresponsável política de concentrar empresas aqui, tornou este lugar - que teimosamente amo - em um amontoado de qualquer coisa.
É muito bonito falar em pluralidade, que esta cidade é rica pelos altos e baixos, pelo lixo e pelo luxo.
Mesmo porque, quem lê ou ouve coisas assim, geralmente está do lado favorecido da questão.
Quando cito a emigração, espero que não seja entendido com caráter discriminatório!
A emigração de grandes massas criou essa grande densidade humana. Tudo aqui ficou impossível de controlar, de fiscalizar, de se mobilizar, de se ouvir.
As pessoas não se atropelam aqui, porque o trânsito não deixa (ok, foi pausa para um trocadilho bobo).
Então a vez de São Paulo passou. Só não se ligou nisso porque são os fantasmas que ainda empurram a "Locomotiva (enferrujada) do país".
Você tem razão: as informações são despadronizadas, o descuido - para quem mora - e para quem visita a cidade são gritantes. Cada porcaria de prefeito que assume,junto com as mesmas moscas, criam programas efêmeros que movem recursos financeiros... Pensam só na carreira. E a bagunça chegou a tal ponto que hoje nem é percebida.
São Paulo que eu amo: quando eu puder, eu fujo, pra nunca mais voltar.
segue?
http://nossadiversidade.blogspot.com/
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