sábado, 19 de dezembro de 2009

O sobe-e-desce de Maceió

Justiça seja feita: depois de um generoso post com as impressões gerais de Maceió (que foram mesmo muito positivas), chegou a hora de colocar a cidade no mesmo paredão por que já passaram Salvador e Recife. Afinal, deixando um pouco o deslumbramento de lado, sou obrigado a reconhecer que a capital alagoana tem virtudes e defeitos, e não é um destino perfeito para todo mundo (como nenhum outro é). Vamos então aos prós e contras.


UAU:

1) PONTA VERDE. Já falei das maravilhas da Ponta Verde no post anterior: uma praia linda, com coqueiros e mar verde-turquesa, que coloca no bolso as praias urbanas das outras cidades. E isso tudo, a poucos passos de você. Para quem gosta de sair pela porta do hotel, atravessar a rua e entrar no mar, duvido que exista capital melhor do que Maceió. Talvez seja esse o aspecto em que ela mais se destaca no cenário nordestino.

2) O LITORAL ALAGOANO. Fora da capital, existem belas praias para todos os gostos: com mar verde, com mar azul, com ondas, sem ondas, rústica e selvagem, com música alta e cadeiras de plástico, com famílias, com surfistas... Para conhecer todas, eu precisaria ficar pelo menos o dobro do tempo por lá. Minhas prediletas foram Barra de São Miguel (a dos bacanas locais, com belas casas de praia, areia branquinha e mar calmo e cristalino), Guaxuma (mais rústica, mar ondulado, sem muvuca) e Praia do Gunga (como o acesso a ela se faz por escuna ou atravessando uma fazenda particular, a freqüência é exclusivamente de turistas, o que dá uma vibe meio farofenta em alguns momentos; mas é uma das mais bonitas).

3) TUDO É PERTO. Maceió é uma verdadeira bênção para quem quer descomplicar a vida ao máximo nas férias. Esqueça carro, deslocamentos, trânsito. Você faz tudo a pé: vai à praia, ao quiosque de sucos, à lan house, aos restaurantes, à academia, ao point de pegação... Basta que você escolha sua hospedagem na praia da Ponta Verde. (Não, você não vai morrer se ficar no Ibis ou em algum outro hotel da vizinha Pajuçara, menos nobre - mas o entorno não é tão agradável).

4) COMIDA BOA. É bom que se diga: nesse quesito, não dá para comparar Maceió com Salvador e Recife, cidades bem maiores e que possuem uma cena gastronômica riquíssima. Mas não faltam boas comidinhas para quem gosta de repor as energias em grande estilo [aos interessados, já dei algumas dicas no post anterior]. Um diferencial é o serviço, que vai além da cordialidade protocolar, mas sem cair na falsa simpatia. Se você se encantar com algum lugar e voltar mais duas vezes, no final o pessoal da casa já estará te cobrindo de dengos e paparicos (o sushiman Leonardo, do Takê, me presenteou com várias criações fora do menu, um fofo!).

5) FACILIDADES DE CAPITAL. A vantagem de escolher uma capital é poder contar com comodidades sempre bem-vindas. Os bons hotéis têm wi-fi, dois shopping centers grandes e algumas multimarcas dão conta de suas necessidades imediatas de consumo (não que você vá sair de casa para fazer compras em Maceió), e quem não quiser perder o ritmo do corpitcho pode treinar numa academia bem bacana, a K2 Fitness, com aparelhagem novinha, todas as aulas que importam e um staff simpático, atencioso e dedicado como eu vi poucas vezes na vida (meu queixo caiu mesmo; diária a R$25, semana a R$100).

6) UMA RELATIVA SEGURANÇA. Nos comentários ao post anterior, meu amigão sótérópólitano, com os brios feridos e uma pontinha de ciúme (achei isso uma graça, João!), veio logo avisar que a amiga dele foi assaltada em Maceió. É claro que não dá para se expor desnecessariamente: ostentar jóias, deixar a câmera pendurada, ir para o mar e largar as coisas sozinhas na areia, cismar de testar a internet móvel no breu enluarado da praia à meia-noite. Não custa repetir que Alagoas é um dos estados mais pobres e desiguais do Brasil. Ainda assim, dentro do miolo turístico (Pajuçara, Ponta Verde, Jatiúca), a cidade me passou a impressão de ser bem mais segura do que os miolos turísticos das outras capitais (exceto Natal).

UÓ:

1) VIDA NOTURNA. Aceitemos de uma vez por todas o fato de que a riqueza de Maceió são suas as praias, e a melhor coisa a se fazer é dormir cedo depois do jantar para aproveitar bem o dia seguinte. Ser bem menor que Salvador e Recife também significa ter poucas opções de vida noturna - basicamente, alguns bares na orla, com cantores tristonhos dedilhando seus violões, e o Maikai, mistura de bar e casa de shows que é the place to be entre os héteros. Há duas boates gays, mas os partidões da cidade passam longe [ver item seguinte]. Mas quem tiver o olhar atento logo perceberá que não é preciso caçar na noite para atingir os resultados desejados.

2) O ARMÁRIO COLETIVO. Saindo das metrópoles maiores, lembramos que o Nordeste não é lá muito tolerante com a homossexualidade. Os machos de Maceió são bem mais calientes e menos travados que os de Natal, mas há um agravante: no estado onde tudo se resolve com jagunços, se o pai do erê descobrir que o filho não é cabra-macho, ele pode mandar capar você. Assim, só pisam em boate gay aquelas bichas que não têm mais nada a perder. O que não significa que você não possa gozar de sua estadia: na própria Ponta Verde, em se plantando tudo dá, basta saber procurar (não vou dar o mapa da mina, que isto aqui não é o Uomini). De qualquer forma, não se trata de um destino gay friendly: melhor vir desencanado, ou trazer o namorado. Vida gay ativa, você acha em Salvador, Recife e Fortaleza.

3) A FALTA DE UM PLANO B. Não se engane: Maceió não tem absolutamente nada pra fazer a não ser praia, praia e praia. Ao contrário de outras capitais nordestinas, ali não há um patrimônio histórico relevante, nem um circuito de opções culturais. Por isso, vá fora da época de chuvas (maio a agosto) - ou corra o risco de acabar flanando entre o shopping, a lan house e a feirinha de artesanato. E se praia não é a sua praia, melhor escolher outro lugar. Vá para Salvador, que tem tantas facetas para se explorar que a praia acaba nem sendo a atração principal. Ou permita-se descobrir Recife - mas fique hospedado em Olinda.

4) LUGAR "DE TURISTA". Você é aquele viajante que gosta de ser diferente, evitar as massas e descobrir lugares off the beaten track, que fogem do lugar-comum? Em suma, você é um turista que não gosta de estar com turistas? Xiii... Maceió pode não ter se tornado tão manjada quanto Porto de Galinhas, mas está longe de ser um destino inusitado ou underground. A cidade recebe uma fauna bem democrática, incrementada pelos pacotes da CVC, e não tem um circuito descolado, como Salvador ou Trancoso. Você sempre pode ir a praias menos óbvias, que só os alagoanos conhecem - mas a própria juventude dourada da cidade prefere freqüentar a Praia do Francês, onde as barracas tocam música alta e o fluxo de turistas é constante. Para aproveitar melhor, agende sua viagem para março ou abril, ou entre setembro e o começo de dezembro - o tempo está ótimo, há menos muvuca e os preços são mais baixos.

5) PASSIENÇA CAS CRIANSSA REMELENTA GRITÂNU. Ser uma cidade relativamente pequena e tranqüila e ter águas mornas e calmas para banho garantem a Maceió uma inabalável vocação de destino familiar. E família, vocês sabem, quer dizer... criança. Criança apostando corrida pelos corredores do shopping, berrando no restaurante, chorando dentro do avião... Como os pais modernos são cada vez mais incapazes de colocar limites nos rebentos, quem está em volta tem de pagar o pato e contar até cem. Se você, como eu, marcaria "kids: I like them at the zoos" no seu perfil no Orkut, esteja preparado. Para fugir da pirralhada, uma solução é preferir as praias de mar menos dócil, como Guaxuma.

6) POR TRÁS DOS TAPUMES, A REALIDADE. Ao longo da orla, Maceió é linda e fotogênica. Mas é só dirigir alguns minutos para longe da praia que o pano cai, revelando uma cidade pobre e sem encantos (o centro é bem feio), castigada pela desigualdade e com direito a bairros barra-pesada (se o cafuçu-delícia quiser te arrastar para a casa dele em Jacintinho ou Benedito Bentes, agradeça educadamente, mas não vá). Evidentemente, o contraste entre a bolha mágica da zona turística e o mundo-cão do resto da cidade não é privilégio de Maceió: Recife, Salvador, Fortaleza, SP e até mesmo a Cidade Maravilhosa estão aí para não me deixar mentir.

14 comentários:

Fernando disse...

Thi,

Bem que voce poderia ser contratado para lancar uma versao Spartacus tupiniquim. Melhores dicas EVER, cara! Pessoalmente, eu nunca me animei com Nordeste, mas voce acaba fazendo qualquer lugar ficar interessante com as dicas. Parabéns cara!

Besos,
Fer

Daniel Cassus disse...

"PASSIENÇA CAS CRIANSSA REMELENTA GRITÂNU"


HAHAHAHAHA! Soltei uma risada bem alta aqui.

Bom, eu fui a Maceió em 1995, era pré-aborrescente, então, pegação gay e vida noturna não eram exatamente minhas preocupações, então eu achei a cidade e os habitantes agradabilíssimos na época. Vejo que ainda são.

B. Rio disse...

Assino embaixo no que disse o Fernando.

Seus textos são ótimos e esse ficou demaaaais!

Parabéns!

Rubem Matias filho disse...

Thiago...

Realmente eu tenho que dizer o que já se tornou cansativo... VOCÊ escreve muito bacana, gostoso de se ler, de acompanhar o raciocínio, de construir a imagem na cabeça através de seus relatos... é uma delícia!!!

Caraca... você faz a gente sentir uma vontade enorme de ir conhecer cada um desses lugares, ruas, casas, bares, restôs, praias, tudo... só pelo seu texto a gente já viaja junto...

Muito bom merrrrmo...

Abração.

AD disse...

Na próxima, dá uma passada em Sergipe. Tony Goés uma vez disse que Aracaju não tem nada. Mas quem sabe, com seu time observador, vc acabe se surpreendendo. Abs.

Liliu disse...

sou de maceio. moro aqui há mais de 20 anos.
concordo com tudo o que vc colocou - tanto nos seus pontos fracos como nos fortes.
só em relação às crianças que eu nao sei bem pq nunca reparei...
e se eu puder dar uma dica - a quem tem de 18 a 35 anos- venham em dezembro/janeiro! o verão aqui é imperdível..muuuita coisa boa a fazer, em especial se voce tiver pelo menos um conhecido por aqui. é que a galera q mora fora vem toda pra passr as ferias entao rola muita festinha prive, alem das oficiais claro..
é isso
abç!

Anônimo disse...

Dá proxima vez tente ir à Japaratinga (litoral norte) e a cidade tem muitos lugares pra ir a noite, mas é claro que não irão levar os turistas em lugares bons, mas que ficam em bairros esquecidos pelo governo que fez/faz de Ponta Verde, Pajuçara e Jatiuca a "Cidade Sorriso".

Outra dica é vir uma semana antes do carnaval que tem Pinto da Madrugada e Pecinhas de Maceió (Bloco onde os homens usam roupas de mulher e tem muitos gays, travestis, lesbicas...)

Se um dia voltar, espero que aproveite mais do estado.

beto disse...

gostei mais desse post do que o anterior, todo lugar tem pontos a favor e contra. assim, cada destino se torna mais ou menos recomendável para cada um.

tava já quase convencido a reservar um hotel na Ponta Verde quando li sobre as crianças hehehe. tenho terror.

o armário coletivo é fogo, tenho zero de paciência pra isso. entendo a realidade dos caras lá, mas não tenho nenhuma vocação para ficar interpretando sinais enviados pelas portas de armário...

seu amigo de Salvador pode estar com ciúmes, mas ele estava certo. Achei o artigo que te falei outro dia. E maceió ficou como a PRIMEIRA capital num recente estudo sobre exposição dos jovens à violência. No time de alta exposição estão Maceió, Recife, Belém; no meio campo Rio, Fortal, BH e Salvador... e as melhores são Natal, Floripa, POA, Brasília...e, surpresa absoluta, a MELHOR de todas é nossa SP mesmo!
http://oglobo.globo.com/servicos/pop_infografico.asp?p=/fotos/2009/11/24/jovens_violencia.gif&l=403&a=647

Thiago Lasco disse...

Fernando, B. Rio e Rubem Matias Filho: Obrigadíssimo pelos elogios!!! Às vezes fico pensando se minhas experiências de viagem não soariam meio desinteressantes para aqueles que não conheceram os lugares em questão e nem pretendem fazê-lo. Que bom que não é o caso!

Beto: Maceió é um destino mais família do que estamos acostumados, mas também não é o caso de deixar de voltar por causa das "crianssa"! Digamos que eu tive que contar até cem só umas três vezes em nove dias... ;)
E em relação ao estudo sobre a exposição dos jovens à violência: vc precisa levar em conta que esses dados são fortemente influenciados pela parcela dos jovens da periferia que se envolvem com o narcotráfico (inclusive o 'crack' já chegou a MCZ). Isso não necessariamente tem influência direta sobre a violência a que turistas estarão expostos. Continuo achando que estive mais seguro em MCZ do que em Salvador e no Rio (cidades rankeadas como 'médias', mas onde o turista é um ALVO permanente) e mesmo Porto Alegre e SP (classificadas com 'média-baixa').

K. disse...

tenho a sensação de que nunca irei ao nordeste. eu ODEIO o calor e não acho que lá exista qualquer coisa que justifique minha ida. o calor do Rio já me incomoda, mas lá tenho amigos e vale a pena... nordeste? fujo! rs

Bokapiu disse...

Agora sim, reconheço o velho e bom Thiago, sem o deslumbramento do texto anterior. Até pq temos que entender que todos os lugares do mundo reservam seus encantos e desencantos. E não, não foi uma crise de ciúmes não, seu amigo sótérópólítánó tem consciência das belezas e agruras de cada uma dessas capitais e estados do país, do nordeste, sul, centro-oeste, sudeste. Só me falta conhecer o norte ainda.

Discípulo disse...

Simplesmente perfeito!

Anônimo disse...

BRAVO!
BRAVÍSSIMO!
FURIOSO!

Éder disse...

Oi!

Vou a Maceió em abril. Ficarei em Pajuçara.

Leio muitos comentários de gente que acha as praias urbanas (Jatiúca, Ponta Verde e Pajuçara) são sujas, imundas e não sei o quê... O que você achou? Tomou banho? Curtiu?

Abs,

Éder
ederyanaguita[arroba]uol.com.br