Sinto desapontá-los, isto dói mais em mim do que em vocês, mas Salvador não presta mais. Agora que o Bar da Ponta fechou as portas, não tenho mais nada para fazer naquele fim de mundo, então beijos e nos vemos no Rio de Janeiro. Claro que estou brincando: mesmo com a perda irreparável do meu xodó (que era tudo de bom, fiquei arrasado), o saldo da minha quinta visita à capital baiana foi bastante positivo. Mas é fato que encontrei uma cidade menos legal, já que várias de suas atrações mais bacanas simplesmente deixaram de existir. O saudoso Bar da Ponta, que Deus o tenha, foi engolido por um empreendimento imobiliário de alto padrão, junto com o bacanudo restaurante Trapiche Adelaide, do qual era anexo. Quem também deixa saudade são as megabarracas que transformavam as praias do Flamengo e Stella Maris em puro fervo. Por conta de uma quizila jurídica com a União, todas elas foram sumariamente demolidas em agosto. Isso mesmo: não existe mais Barraca do Lôro, nem Margueritta, nem Gaúcho, não existem mais drinques servidos em espreguiçadeiras rústicas-chiques, nem corpos malhados dançando house music em deques à beira-mar. O Litoral Norte de Salvador mó-rreu! Já o Porto da Barra felizmente continua o mesmo, com a água deliciosa para nadar, um pôr-do-sol mais aplaudido que o do Arpoador, e aquela mistura única de classes sociais, etnias, estilos e pegadas. E corpos babadeiríssimos ali e acolá. Aliás, sem querer ferir brios ou fomentar bairrismos, a Bahia tem os homens mais bonitos do Nordeste, né? Nos finais de semana, quando a superlotação deixa o Porto da Barra intransitável, o novo plano B da galere é o Buracão, uma prainha escondida no Rio Vermelho que só os moradores do bairro freqüentavam, e agora vem sendo adotado pelos descolados, num clima low profile. Para quem gosta de conforto, uma opção é ir até o Corredor da Vitória e tomar sol no Mahi-Mahi, bar do hotel Sol Victoria Marina que tem um píer que avança sobre a Baía. Você paga uma consumação e passa o dia comendo, bebendo e tomando banho de mar. Parece que o esquema é bem gay friendly. A Barra não tem a fartura de comidinhas pós-praia de Ipanema. Acabei adotando o Ramma, um simpático restaurante natural escondido na Rua Lord Cochrane (como será que os baianos pronunciam isso?). Depois de horas de sol nordestino, o suco de tangerina deles descia que era uma maravilha. Adoro que na Bahia essa fruta dá o ano todo, não tem época certa como aqui em São Paulo. A doceria A Cubana inaugurou uma filial na Pituba, num shoppingzinho na Praça Nossa Senhora da Luz. Isso significa que agora você pode comer o melhor pudim de leite condensado do mundo, sem ser molestado a todo instante pelos pedintes do Elevador Lacerda. Outro endereço que continua firme e forte no topo da minha lista de laricas pecaminosas é a Doces Sonhos, na Vitória. Os bolos de lá são pura felicidade cortada em pedaços. Morri três vezes a cada garfada. A vista da Baía de Todos os Santos transforma qualquer ida ao complexo gastronômico Bahia Marina em um programão. Matei a saudade do japonês Soho, que continua bem gostoso e badalado. Voltei também ao contemporâneo Lafayette - mas os pratos criados por Carla Pernambuco já não têm o mesmo brilho de antes. Acabei não conseguindo ir a nenhum restaurante especializado em frutos do mar. Da próxima, quero provar os camarões ao prosecco com risoto de amêndoas do Mistura, em Itapuã, e as moquecas mutcholocas com frutas e ingredientes naturais do Paraíso Tropical, que funciona dentro de uma chácara distante no Cabula e virou cult. Para um jantar mais informal e barato, aprovei o Mariposa, no Jardim Apipema, atrás da Ondina. Tem um longo menu de sucos, crepes e temakis, numa casa colorida bem praiana, supersimpática. O Pelourinho, que já não era minha área preferida em Salvador, está com um arzinho largado, abandonado. Parece que todo o dinheiro da região foi para o Carmo, onde a inauguração do hotel-boutique Convento do Carmo acabou dando um sopro de vida em todo o entorno. Já o MAM, que estava totalmente ao deus-dará, deu um merecido tapa em seu Jardim de Esculturas, que ainda é meu segundo lugar favorito para ver o pôr-do-sol soteropolitano (o primeiro é a Ponta do Humaitá). Com a morte de bares como Marquês (que fazia as vezes de Ritz baiano), Babalotim e Boomerangue, hoje Salvador não tem nenhum endereço gay friendly onde se possa fazer um esquenta antes de ir dançar. Ou você toma os primeiros drinques onde estiver jantando (a pizzaria Piola já foi uma opção, mas agora o hype passou e ela está às moscas), ou então aciona seus contatos e descola um chill in na casa de algum amigo local. Aliás, num desses esquentas, fui descobrir que as blogueiras Katylene e Cleycianne também são adoradas por lá, e estão colocando suas gírias na boca das bees. Tive a oportunidade de conhecer a bombada San Sebastian em sua última semana no antigo endereço - a casa está de mudança para outro imóvel na mesma rua. Deve existir um "jeito soteropolitano de construir boate": estreito e comprido, com andares e mezaninos, o clube me lembrou muito a primeira Off. A propósito, a Off Club, que reinou sozinha na noite por anos, perdeu o trono e se tornou a boate "do meio". Nos extremos estão a San Sebastian, para onde migrou o pessoal mais bonito, e a Tropical, opção mais popular e bagaceira. Uma pulga me contou que a dona da Off pensa até em se desfazer do negócio. Entre os DJs locais, quem mais chamou minha atenção foi o Bernardo Chez. Além de ser um gentleman e um fofo de marca maior, o loirinho-angelical está fazendo um som bem bacana, criando inclusive seus próprios bootlegs e mashups. Tem tudo para conquistar mais espaço na cena, e não só em Salvador. Na boate, depois de certa hora da noite, elas ficam bem soltinhas, e a beijação rola em esquema drive-thru, tipo assim bem solto. Vai ser bom, não foi? Cansada de quebrar louça? Pois saiba que o percentual de atividade em Salvador beira os 90% - nenhuma outra capital tem tamanho superávit! E ó, tem que levar preservativos GG na nécessaire, viu? Para os adeptos dos vapores vespertinos, a Rios continua sendo o endereço mais indicado. E quem curte um perigón na linha Uomini se refestela no Paredão, no Jardim de Alah - uma falésia que esconde encontros furtivos e sorrateiros na calada da noite. Bateu uma vontadinha de ir (ou voltar) a Salvador? Se fosse você, eu me hospedaria na Barra, para poder ir à praia a pé, e daria uma olhada nas tarifas do Sol Barra, do Grande Hotel da Barra e do Marazul, nessa ordem. Ou então ficaria no Rio Vermelho e decidiria entre o funcional-padronizado-insípido Ibis e o charmoso Catharina Paraguaçu, todos numa faixa de preço viável. As músicas que ilustram este post são "Happiness" (Dave Aude Club Mix), de Alexis Jordan, e "Empire State of Mind" (na versão que o André Garça toca) . Elas deram o tom da minha semana em Salvador e também do fim de semana no Sauípe, no festival Hell & Heaven - que será o assunto do próximo post.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Salvador: nada ficou no lugar
Postado por Thiago Lasco às 9:25 PM
Marcadores: nordeste, rapidinhas, restaurantes, salvador, turismo
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16 comentários:
Thiago!!!!
q saudade dos seus posts...
a vontade que dá é imprimir o roteiro e ir correndo passar um final de semana em Salvador.
Se precisa ir para Salvador no carnaval só para ver ao vivo, hordas de homens lindos, viris e tarados requebrando com aquelas musicas que eles chamam de "suingueiras"...parece q a sexualidade, ou melhor o sex appeal, faz parte do DNA daquele povo! um t-e-s-a-o...
Os projetos-TCC-faculdade terminam quando? muita saudade dos seus textos.
Alex Bez
Olá,Introspective
simpatico, embora nostálgico,o seu texto sobre Salvador. Sim, o Porto da Barra continua o mesmo, mas você se chatearia se desse uma mudadinha? para melhor? (pelo menos pensamos que sim). Nós, do Grande Hotel da Barra temos pensado nisso. Vamos seguir e ver onde chegamos.
Ah! quando quiser retornar,use o voucher com desconto de 10% que disponibilizamos para você.
Abraços
Nadia
Bem, vou anotar tudo pra se um dia eu for a Bahia, mas o que me chocou foi SSA ter uma rua com o nome do Lord Cochrane. O Maranhão detesta ele de morte e pensei que era compartilhado por todo norte e nordeste. Contextualizando: ele foi um inglês super inteligente contratado pra ser mercenário na libertação do Brasil em 1822, mas além de cobrar um fee milionário pra fazer isso, ele ainda roubou um navio e saqueou cidades no NE. Será que ele é ascendente dos filhos da Gabi?
O Trapiche Adelaide era uma maravilha, o restaurante mais fabuloso que Salvador jamais teve. E o Bar da Ponta era maravilhoso, sobre as águas, glamour total. Porra de especulação imobiliária.
O Paraíso Tropical é divertido, uma overdose de frutas e frutos (do mar). Adorei que eles dão uma sacola plástica para você levar para casa as frutas que sobraram da sobremesa.
fazia tempo q não ia a Salvador. Passei por lá indo para Aracaju ... o q vi me deixou perplexo ...
;-)
Hell & Heaven deveria ter sido abordado primeiro ;)
Adorei o post...mas continuo adorando Salvador e aqueles negões lindos...ai que loucura!
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Verde feat. Gemma - Empire State of Mind
http://www.youtube.com/watch?v=QF0zkY3GR1k
ufa! fiquei assustado com o começo - eu passarei um dia em salvador no final do ano... e mesmo um dia num luga que nunca tive intenção de conhecer pode ser um inferno!
*dicas anotadas*
Alex Bez: Saudade tinha eu das suas visitas! Sabe que um ladinho meu tá louco de vontade de conhecer o Carnaval de Salvador, enquanto outro tem um certo medo de gastar uma fortuna (pelo menos 4x mais do que no Rio e Floripa) e não valer tanto a pena? Mas uma coisa eu senti na carne (ui): minha libido tá cada vez mais afinada com o homem baiano! Ah sim, eu entreguei o TCC no dia 5, e defenderei perante a banca em dezembro. Beijos!
Nadia: Ué, como o hotel descobriu o meu blog? E tão rápido! Mudanças para melhor são sempre benvindas, especialmente quando não descaracterizam! Obrigado pela oferta, só não entendi como usufruir desse desconto.
Douglas Mendez: Adoro esses meus amigos que, além de bonitos, são eruditos e bem-informados! ;)
TONY GOES: Pois é, ainda estou inconsolável. E todo mundo fala dessa sacolinha do Paraíso Tropical!
Paulo Braccini: E Aracaju vale o confere? Entre Salvador e Maceió, é difícil ela não ser ofuscada, não?
Lucas T.: Nada disso, Lucas! Salvador foi há mais tempo, então eu tinha que postar logo antes que o assunto ficasse velho e eu esquecesse das coisas que tinha pra dizer! Além disso, é sempre bom criar uma certa expectativa em quem foi (ou não foi) ao H&H e quer ler o meu ponto de vista... ;)
Titia: Loucura mesmo! Mas o remix que tocava na Bahia não era esse aí, não!
K.: Sempre bom ser útil. Salvador não é pro bico de todo mundo, muita gente não gosta, especialmente quando chega tentando encaixar a cidade em uma noção pré-concebida de Nordeste que simplesmente não se aplica à capital baiana. Vá desarmado!
Nossa a-do-ro (de modo especial) seus posts "travel". Se eu fosse o Eike Batista bancaria suas viagens pelo Brasil afora. Parabéns! Quando vai escrever uma guia GLS das cidades brasileira, ja' ta na hora, sabe :-)?
Salvador é incrível. Estarei lá novamente no carnaval.
Variando o almoço entre o Amado, o Paraíso Tropical e mto Subway (ô povo vidrado nisso).
O q ainda n fiz lá foi ir nas praias da cidade. Só mesmo no mar do Corredor da Vitória. Sempre me raptavam para o Estrada do Coco e Linha Verde.
Sobre Aracajú, em janeiro estou de volta, no Pré-caju - carnaval fora de época deles. O povo é feio, mas a vibe é incrível.
Olhaaaa o tão esperado post! :)
Querido, confesso que como bom baiano não é lá o post que me deixaria contente, mas reconheço que muitas das coisas que colocou de fato têm procedência. É uma pena que não pegou a inauguração do novo espaço da San Sebastian, que está bem diferente e muito melhor!
Quero agradecer os bons momentos com você aqui, você sabe que sou fã de seu blog, leitor assíduo.
E obrigado especial sobre o comentário do DJ! :D
Na expectativa do comment sobre Saípe!
Sucesso e muita saúde, bjs Bernardo
antes de tudo, peguei bronca de vc por ter exposto ao mundo o segredo do Buracão. se aquilo ali virar o inferno da superlotação do Porto da Barra, já sei quem culpar, rsrs!
* Pelourinho: é pra ir 1x e nunca mais voltar. o assédio aos turistas (ou qualquer um que não seja naturalmente cheio de melanina) é simplesmente intragável.
* acho sua estatística de 90% meio falha hehehe...
* espero que a nova San Sebastian tenha um melhor layout. a recém-falecida tinha uma disposição horrível para quem queria dançar na pista, aquilo funcionava mais como corredor de passagem pro bar e banheiros.
* apesar de não procurar japonês quando vou no Nordeste, acabei no Shiro essa vez e achei bem interessante.
pra terminar, tb saí de lá meio tentado pro carnaval, apesar de todos os argumentos lógicos $$$$ pra não ir lá nessa época!
Adorei o post !!! Excelente , ja te conhecia do Flickr e agora descobri o blog. Parabensssss :)
Nossa, os soteropolitanos agradecem!... Concordo com td, menos com percentual da atividade... Ainda bem, neh?! Do contrário teria problemas com sexo, já que vivo aqui e sou péssimo passivo...
Bom ler seu post, Thi, e perceber que é a mesma Bahia que eu vi, da última vez que estive lá. =)
bjos
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